quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Crítica: Casa Gucci / House of Gucci (2021)

"Father, son and House of Gucci."

Patrizia

*6.5/10*

Ridley Scott trouxe para o grande ecrã o relato de três décadas de uma das mais famosas famílias da moda italiana. Casa Gucci comprova o talento do realizador para contar histórias e dirigir actores, desta vez, numa comédia dramática de enganos e traições.

"Quando Patrizia Reggiani (Lady Gaga), uma desconhecida de origem humilde, se casa com Maurizio Gucci (Adam Driver), a sua ambição desmedida começa a desencadear no legado da família uma imparável espiral de traição, destruição e vingança que culmina... num assassínio."

Personagens cliché, cheias de exageros, maneirismos e comicidade, de sotaque carregado e visual exuberante, eis a fórmula de Ridley Scott para conquistar a plateia. Em antítese com o drama real que retrata, o realizador coloca o foco no conflito de personalidades fortes e na sede de ganância, qual novela italiana.

É, portanto, no trabalho do elenco que residem as maiores forças de Casa de Gucci. Lady Gaga, como Patrízia, conquista o seu espaço e marca presença, catalisando para si todas as atenções enquanto está em cena. De sotaque carregado e voz de comando, Patrízia é decidida, ambiciosa e manipuladora. Al Pacino é extraordinário como Aldo Gucci, qual raposa matreira, transborda charme e exuberância, e a aparente familiaridade com que trata os sobrinhos esconde (como todos desta Casa de Gucci) interesses e segundas intenções.

Irreconhecível, Jared Leto surge com quase oito quilos de caracterização para encarnar Paolo Gucci, filho de Aldo, que todos têm como idiota. O actor transpôs todo o exagero da figura para a personalidade da personagem: infantil, mimado, ganancioso. E com um overacting propositado, Leto consegue ser um dos elementos mais cómicos do filme: mudou o tom de voz, muito mais agudo- para além, claro, do sotaque -, adoptou uma forma de rir hilariante e até os seus gestos ou forma de andar são caricaturais - tal como Ridley Scott construiu toda a longa-metragem.

Mais discretos, mas com a mesma energia, estão Jeremy Irons e Adam Driver, que interpretam pai e filho. Irons é o solitário e intransigente Rudolfo Gucci; Driver é Maurizio, a personagem que sofre uma maior alteração de personalidade ao longo do filme. Inicialmente manipulável e sem jeito para o negócio da família, vai-se formatando à medida da mulher e do tio, e deixando que o poder e o dinheiro o transformem. 

Também a caracterização, guarda-roupa - não fosse este um filme sobre moda - e direcção artística em muito contribuem para a reconstituição da disfuncional família Gucci.

E é em jeito de tragicomédia que Ridley Scott nos leva numa visita guiada, qual viagem no tempo, às figuras que marcaram (e arruinaram) a História da família Gucci. Porque amor, dinheiro, poder e família, juntos, podem não dar bom resultado.

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