Adriano Mendes revelou-se em 2014, com O Primeiro Verão, e a sua segunda longa-metragem, 28½, vem reforçar o talento do promissor jovem realizador no panorama do cinema nacional. O filme continua nas salas e Adriano Mendes respondeu a algumas questões e curiosidades do Hoje Vi(vi) um Filme.
28½ |
De O Primeiro Verão para 28½ há um desencantamento notório. É como deixar de ser criança ou adolescente, perder a inocência, para entrar na idade adulta? Era teu propósito mostrar que também tu cresceste enquanto realizador?
Adriano Mendes: A ideia para este segundo filme surgiu sem tentar estabelecer qualquer relação com o anterior. As eventuais ligações ou rupturas com O Primeiro Verão são consequência de se tentar criar um outro objecto, onde me propus a trabalhar outras questões, mas em que o autor é o mesmo. Durante o processo não deposito atenção sobre o que quero mostrar de mim. Não é sobre mim, é sobre criar um filme. O objecto final é o resultado de uma investigação profunda e de um constante reajuste, sem haver um olhar programático daquilo que quero mostrar enquanto realizador. O processo de construir o filme e aquilo que os outros vêem nele são realidades distintas. Os dois filmes interpelam estágios muito diferentes de uma relação amorosa. Essa inocência do primeiro filme ou esse desencanto do segundo são consequência dos elementos narrativos de cada um dos filmes. N’ O Primeiro Verão, a protagonista vive em casa dos pais e podemos presumir que ainda está a estudar. No 28½, a protagonista está por si, a tentar sobreviver. Esse choque com o mundo, na tentativa de procurar independência e auto-subsistir, pode traduzir-se nessa sensação de perda da inocência.
O Primeiro Verão |
A Anabela Caetano regressa como protagonista e também ela demonstra uma grande evolução e maturidade como actriz. Foi uma escolha óbvia para interpretar Teresa? Como foi trabalhar com ela agora apenas enquanto realizador, depois de terem contracenado em O Primeiro Verão?
Adriano Mendes: A Anabela participou em todas as etapas do processo. Foi fundamental no debate das primeiras ideias, nos ensaios, no processo de recruta do actores. A personagem da Teresa nasceu pela mão dela e só nesse momento é que o filme se começou a tornar palpável. Temos um entendimento muito grande, muito para lá das palavras, o que nos permitiu ir encontrando a tonalidade que procurava.
Toda a acção passa-se apenas num único dia na vida de Teresa, que não corre da melhor maneira. Esta opção é inocente ou querias envolver a plateia com o crescendo dos acontecimentos?
Adriano Mendes: Realizar é escolher. Há opções mais ou menos conscientes, mas realizar é quase o oposto de um acto inocente. Desde o início que havia o desejo de trabalhar narrativamente um daqueles dias que, de tão intensos que são, nos parece uma semana.
28½ |
A sequência no comboio é dos melhores momentos de 28½. Houve alguma improvisação na rodagem? De onde saiu a ideia para aquela situação em concreto?
Adriano Mendes: O processo de construção da cena foi muito complexo e é quase impossível falar sobre ele de forma justa. A ideia base surgiu de um conjunto de situações que vivi em transportes públicos, de outras situações que me contaram, e da imaginação.
Para além do crescimento e do desencanto e estagnação que sente a geração dos 20 e muitos aos 40 e poucos anos, em que outros temas pretendes que o filme faça reflectir?
Adriano Mendes: A ideia era fazer um filme sobre este intervalo, este “meio” do título. Uma sensação de instabilidade, incompletude, de procura, de desequilíbrio. Para mim não houve nenhum sentido de agenda temática ou política. Quis criar um objecto em total liberdade, e também ele aberto.
28½ |
Depois dos adiamentos da estreia - com uma pandemia pelo meio -, vês o teu segundo filme finalmente a chegar às salas de cinema. Como foi este longo processo de espera? O que pode o público esperar?
Adriano Mendes: Foi sempre com incerteza sobre qual a melhor altura, mas com o enorme desejo de que o filme pudesse ser visto em sala. Foi um processo muito difícil, mas tinha esperança que pudesse acontecer. O público pode esperar um filme intenso, que percorre as horas de um dia desafiante na vida de uma jovem-mulher onde, devagarinho e sem avisos a vida se vai desmoronando.
Quais os projectos que se seguem?
Adriano Mendes: Mistério. Não posso revelar.
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