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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Crítica: Não Te Preocupes, Querida / Don't Worry Darling (2022)

"I've been waiting for someone like you. Someone to challenge me. Like a good girl."

Frank

*6/10*

Não Te Preocupes, Querida, de Olivia Wilde, parte de uma premissa curiosa, criando uma realidade demasiado perfeita para as suas personagens e é capaz de manter o mistério, mesmo que o final seja algo decepcionante.

Alice (Florence Pugh) e Jack (Harry Styles) vivem na comunidade de Vitória, uma "cidade experimental que foi construída para abrigar os homens que trabalham para o ultrassecreto Projecto Vitória e as suas famílias. O optimismo social da década de 50, exacerbado pelo CEO do projecto, Frank" (Chris Pine) é a base do quotidiano desta utopia. "Mas quando pequenas falhas na sua vida perfeita começam a aparecer, debaixo da atractiva fachada, Alice não consegue resistir a perguntar-se o que é que estarão realmente a fazer em Vitória."

A fórmula de Não Te Preocupes, Querida remete-nos para outros filmes de ficção científica e não só, mais ou menos recentes. Apesar dessa familiaridade, Wilde é competente a criar suspense e a adensar a curiosidade da plateia, com uma acção ritmada e, por vezes, inesperada.

O machismo está presente ao longo de toda a história, com o poder na mão dos homens, os únicos que trabalham e que sabem os segredos do projecto. As mulheres cumprem a função "tradicional", limpam a casa, cozinham e socializam junto à piscina no tempo de ócio que lhes resta até ao regresso dos maridos. Apesar disso, sente-se que a realizadora quer tornar Não Te Preocupes, Querida num filme sobre empoderamento feminino, e Alice é o motor para que tal possa acontecer.

Florence Pugh é quem mais se destaca no elenco, na pele da protagonista, uma mulher atormentada por visões e numa constante luta consigo e com o que a rodeia. Se, por um lado, quer agarrar-se à aparente felicidade em que vive com o marido, por outro, pressente que algo fundamental lhe escapa - e quer saber o que lhe estão a esconder. Uma performance física e psicologicamente exigente para a jovem actriz.

As cores vivas e vibrantes do mundo "ideal" de Vitória, contrastam com os sonhos e alucinações de Alice, obscuros, grotescos e quase surrealistas, e as pistas sucedem-se. E neste ambiente dúbio, a direcção de fotografia (onde espelhos e vidros assumem um papel preponderante), montagem e direcção artística dão asas à criatividade e potenciam este atordoamento da protagonista, entre a vida de sonho e os pesadelos realistas que tem - e transmitem-no com êxito à plateia.

Não Te Preocupes, Querida é para ver sem preconceitos nem expectativas. É, essencialmente, um exercício de estilo, a partir de um argumento já muito explorado em cinema e televisão.

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