"Ninguém volta da guerra"
Nayola percorre três gerações de uma família marcada pelas guerras em Angola. A primeira incursão de José Miguel Ribeiro nas longas-metragens equivale à estreia comercial da primeira longa portuguesa de animação. Um filme tão cru como mágico.
"As vidas, os sonhos e os segredos de três mulheres, Lelena (a avó), Nayola (a filha) e Yara (a neta) cruzam-se em dois tempos narrativos, distanciados catorze anos. No passado, Nayola parte à procura do marido, desaparecido em combate na guerra civil angolana, e envolve-se numa busca errática, audaz e mágica. No presente, Yara é uma jovem rapper e activista dos direitos humanos, perseguida pela polícia nas ruas de Luanda, o que causa grande inquietação a Lelena. Uma noite, avó e neta sofrem uma dupla ameaça, primeiro um misterioso mascarado armado invade-lhes a casa, depois a polícia faz uma rusga no musseque para prender Yara..."
Passado e presente entrecruzam-se e dão-nos a conhecer uma Nayola jovem, que deixou tudo para encontrar o marido e enfrentar os perigos que a envolvem nesta jornada entre minas, tiroteios ou raptos; no presente, conhecemos a sua filha Yara (criada pela avó Lelena) que usa a palavra e as suas canções para lutar pelos direitos humanos no seu país. Um passado marcado pela guerra, que leva a um presente muito longe de ser livre, cheio de mágoa.
As máscaras africanas, simbolismo e espiritualidade misturam-se com os sonhos e alucinações das protagonistas (destaque para a figura do chacal protector de Nayola, no Passado, figurando também da máscara do invasor, no Presente), produzindo um realismo mágico que é o que melhor distingue Nayola.
Com argumento de Virgilio Almeida, a partir da obra de José Eduardo Agualusa e Mia Couto, Nayola é uma história de amor e liberdade, que mostra a crueldade da guerra, e a luta feminina pela sobrevivência, cada uma à sua maneira, na sua época, através de memórias e da sensibilidade mágica do realizador.
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