terça-feira, 28 de novembro de 2023

Crítica: O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade (2023)

"Deve imaginar, senhor Inspector, que como qualquer família temos um dom especial para nos levarmos todos à loucura."
Amélia Lafourcade


*8/10*

Em O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade, Tiago Durão alia o suspense e a sátira, e o resultado é uma hora bem passada, cheia de humor mordaz e muito mistério, naquilo a que o realizador chama de "comédia de crime". Ao mesmo tempo, o filme faz uma homenagem aos 80 anos de carreira de Ruy de Carvalho, que, aos 96 anos de idade, é um dos protagonistas da longa-metragem.

"Lázaro Lafourcade, um velho capitalista, é encontrado morto na sua mansão, depois de um jantar com a sua família peculiar. Um inspector é chamado para investigar o crime e descobrir o culpado, mergulhando no glamoroso e sórdido submundo dos Lafourcade, dando início à boa e velha história de crime onde todos são suspeitos."


Realizado sem quaisquer apoios estatais, O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade arrisca num género pouco usual no cinema nacional, e surge como uma espécie de Knives Out (2019) à portuguesa. Um trabalho cheio de ritmo, bons diálogos e personagens peculiares, cujos segredos da família vão, aos poucos, revelando, no decorrer da investigação - e da narrativa (tão bem escrita por Tiago Durão e Ana Ramos). Das referências musicais ou literárias mais clássicas (ou até bíblicas), aos transtornos pessoais de cada um dos familiares Lafourcade, certo é que o realizador foi capaz de criar um universo acessível tanto às massas como aos cinéfilos mais exigentes.

A acompanhar o delicioso enredo - que podia perfeitamente ser adaptado ao teatro -, está uma direcção artística, guarda-roupa e direcção de fotografia exímias, que destacam cenários e planos, cheios de cor e de pormenores que enriquecem e dão pistas sobre o decorrer da acção.


Para além de Ruy de Carvalho (Lázaro), o elenco conta com interpretações irrepreensíveis da restante família Lafourcade: Dalila Carmo (Laura), Lídia Muñoz (Amélia), Maria José Pascoal (Aurora), Isac Graça (Raul) e Pedro Lamares (Oscar); a quem se junta o expressivo e incrédulo inspector, interpretado por José Raposo, e os empregados da casa, Guilherme Barroso e Érica Rodrigues

No final, 55 minutos sabem a pouco, mas O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade vale cada momento. Venham mais filmes assim!

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