segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Crítica: Saltburn (2023)

"Lots of people get lost in Saltburn."

Duncan

*7.5/10*

A mente delirante de Emerald Fennell regressou à realização e argumento com Saltburn, uma tragicomédia, cínica, mordaz e sem pudor. 

"Enquanto luta para encontrar o seu lugar na Universidade de Oxford, o estudante Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo do charmoso e aristocrático Felix Catton (Jacob Elordi), que o convida para um Verão inesquecível em Saltburn, a propriedade da sua excêntrica família."

Emerald Fennell já tinha mostrado o seu lado aguerrido atrás da câmara em Uma Miúda com Potencial (2020), e, se este filme ganhava pontos, em especial, pelo argumento, Saltburn é um prodígio visual, seja pelos planos impactantes, como pelo trabalho da direcção de fotografia, potenciado pelo uso da película, captando cores quase irreais e um trabalho de luz e sombras que torna a acção ainda mais tenebrosa e inebriante.

Por outro lado, e apesar da criatividade da narrativa, o argumento não é tão bem conseguido como o do filme anterior. Saltburn toca levemente em temas como bullying e luta de classes - mas não são estas as verdadeiras motivações do protagonista nem do enredo -, transformando-se numa história de ciúme e crime, repleta de muita excentricidade.

Não há clemência para com as personagens - nem plateia. O desejo de vingança ou a ambição desmedida do protagonista fá-lo ser capaz de tudo, com atitudes sempre inesperadas e, muitas vezes, chocantes. E Barry Keoghan interpreta-o com a naturalidade que o caracteriza como actor, proporcionando sempre grandes desempenhos em papéis doentios e arrepiantes q.b. O jovem actor alterna a postura consoante o momento e transforma-se, diversas vezes, entre o rapaz tímido e solitário, ao mais manhoso e manipulador.

Saltburn é um labirinto de perversidade e ambição que resulta numa experiência cinematográfica essencialmente sensorial. Emerald Fennell continua o seu percurso como realizadora com garra, sem medos nem tabus: o futuro só pode ser radioso - e agitado.

Sem comentários: