terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Crítica: Ferrari (2023)

"De Portago, call my office on Monday."
Enzo Ferrari


*7.5/10*

Michael Mann regressa a alta velocidade com Ferrari, para seguir o percurso de Enzo Ferrari, tanto nos negócios e corridas, como na sua atribulada vida pessoal. Um retrato humano e historicamente realista do fundador da Ferrari.

"Durante o Verão de 1957, o ex-piloto de automóveis, Enzo Ferrari, está em crise. A empresa que construiu 10 anos antes com a sua esposa Laura, enfrenta a falência. O seu turbulento casamento é ameaçado pela perda de um filho e o reconhecimento legal de outro. Na tentativa de garantir a sua sobrevivência, Enzo Ferrari aposta tudo numa corrida: a icónica Mille Miglia - 1000 milhas por Itália."


Ferrari segue Enzo, um homem de negócios aparentemente frio e prático, marcado pela tragédia, bem como a sua mulher e sócia Laura, completamente devastada pela morte do filho de ambos. Ao mesmo tempo, a relação extraconjugal que mantém com Lina Lardi, de quem tem um filho pequeno, Piero, vem dificultar as negociações com a esposa para evitar que a empresa vá à falência. Entre os problemas pessoais e financeiros, Enzo aposta tudo nas corridas e nos seus pilotos, em especial Alfonso De Portago, uma promessa na equipa da Ferrari.

A violência das corridas, a pouca segurança para pilotos e público, tudo é filmado com método e um ritmo de cortar a respiração, tal a intensidade da montagem e dos planos, tão perto dos carros a alta velocidade. O grande momento da longa-metragem é todo o crescendo trágico da corrida Mille Miglia.


A par das corridas, Michael Mann capta momentos verdadeiramente emocionantes, não deixando de dar foco a pormenores que muito revelam sobre as personagens. A cena da ópera - onde cada personagem revive momentos passados, felizes ou tristes, mas marcantes nas suas vidas, é uma das mais transcendentais de Ferrari, levando a plateia a flashbacks reveladores. 

Adam Driver volta a interpretar um italiano e fá-lo com maturidade e empenho, vestindo a pele de Enzo Ferrari irrepreensivelmente. Ao seu lado, Penélope Cruz rouba cada cena em que se apresenta, com a fúria de uma mulher traída e o desamparo de uma mãe que perdeu o único filho. A actriz equilibra a mulher explosiva e transtornada com a contenção que a mágoa e a saudade pedem.


Ferrari junta grandes interpretações, à adrenalina e fatalismo das corridas de carros, filmadas como poucas vezes se tem visto. Fiel à História da marca, Michael Mann concretizou com sucesso um filme que há muitos anos ambicionava fazer. 

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