quarta-feira, 8 de maio de 2024

Crítica: Challengers (2024)

"I'm taking such good care of my little white boys."

Tashi

*9/10*

Luca Guadagnino regressa ao cinema com o jogo de ténis mais intenso dos últimos tempos. Challengers é um thriller de desporto, competitivo, sensual e cheio de adrenalina: uma experiência cinematográfica sensorial e vibrante.

"Tashi Duncan é uma antiga estrela do ténis que se tornou treinadora, uma força da natureza que nunca pede desculpa pelo seu jogo dentro e fora do campo. Casada com Art, conseguiu transformá-lo de jogador medíocre em campeão do Grand Slam. Quando Art tenta ultrapassar uma maré de derrotas, a estratégia de Tashi toma um rumo surpreendente. Convence o marido a jogar um torneio 'Challenger' - o nível mais baixo do circuito profissional - onde terá de enfrentar Patrick, o seu antigo melhor amigo e ex-namorado de Tashi que foi outrora um talento promissor, mas agora se encontra esgotado e em fim de carreira. À medida que passado e presente colidem e a tensão aumenta, Tashi questiona-se: qual é o preço a pagar pela vitória?"

O filme passa-se em três tempos distintos, com a diferença de 13 antes entre o passado e o momento actual, com um breve reencontro pelo meio, e cuja variação do corte de cabelo de Zendaya é o principal sinal da mudança de época. 

Desde o triângulo amoroso inicial, em que os dois jovens melhores amigos, Art Patrick, ficam fascinados pela jovem estrela do ténis, que se denota que Tashi adora ser admirada. Com o passar do tempo, vai-se denotando uma espécie de sociopatia em Tashi. Ela é egocêntrica, chega a ser perversa, e o seu grande amor é e sempre será, sem qualquer dúvida, o ténis - seja ela ou outro a entrar em campo. É este jogo que aumenta o seu entusiasmo ou a sua paixão. O ténis é o seu motor, a sua adrenalina e o fracasso do marido é sinónimo do iminente fim do casamento.

Mas o triângulo amoroso nunca mais se desfaz. Art parece simbolizar o lado mais disciplinado de Tashi, de ambições semelhantes, enquanto Patrick é mais rebelde, mas igualmente corajoso e desafiador. Os três complementam-se de forma quase tóxica.

O trio de actores protagonistas, liderado por Zendaya (que terá a aqui a sua melhor prestação cinematográfica desde Malcolm & Marie), juntamente com Mike Faist (West Side Story) e Josh O’Connor (The Crown), mostra-se à altura do desafio, numa cumplicidade e intimidade de fazer inveja, e demonstrando talento e maturidade. 

Para além da aura competitiva, afectiva e desportivamente, que acompanha todo o argumento, o brutal efeito de Challengers é, em grande parte, obra de um trabalho de montagem magistral de Marco Costa, alinhado com a banda sonora electrizante de Trent Reznor e Atticus Ross.

Desta vez, Luca Guadagnino não falha. Tashi dita as regras e a plateia deixa-se seduzir e vai a jogo, quer queira, quer não.

Sem comentários: