sábado, 20 de julho de 2024

MDOC 2024: Programação completa

Já é conhecida a selecção oficial do MDOC - Festival Internacional de Documentário de Melgaço. O festival acontece de 29 de Julho a 4 de Agosto.

A questão palestiniana, os direitos humanos, as migrações, o colonialismo, o ambiente e as questões de género são os temas centrais numa edição comemorativa do 10.º aniversário do festival, marcada por 22 estreias no grande ecrã. Há 31 filmes a concurso no MDOC: 21 longas-metragens e 10 curtas e médias-metragens.

Selecção Nacional

São nove os documentários portugueses a integrar a competição da 10.ª edição do MDOC, entre os quais a curta-metragem de animação premiada no Festival de Annecy, Percebes, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, e A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro, que esteve na Quinzena dos Cineastas, em Cannes.

Percebes retrata o ciclo de vida e da apanha deste crustáceo no Algarve, tocando na temática do turismo massificado, e com testemunhos de habitantes locais. Já A Savana e a Montanha "retrata a luta dos habitantes de Covas de Barroso (concelho de Boticas) contra uma multinacional britânica – Savannah Ressources – que pretende construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros dos terrenos e casas da aldeia". Um documentário de resistência, com toques de western e fantasia. 

Além destes dois títulos juntam-se ainda mais sete documentários candidatos aos prémios Jean-Loup Passek D. Quixote (atribuído pela Federação Internacional de Cineclubes): Couto Mixto, de João Gomes"sobre a magia de um lugar, um estado independente de identidade híbrida galega e portuguesa"Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas, de Tânia Dinis"relato ficcional e documental sobre várias mulheres que, entre os anos 40 e 70, vieram para a cidade do Porto trabalhar como criadas de servir"Um mergulho em água fria, de Raquel Loureiro Marques, sobre imagens que deram forma ao imaginário de família da realizadora; Fogo no Lodo, de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca"que retrata a guerra colonial vivida entre os balanta conhecidos como 'aqueles que resistem' (povo com forte tradição de resistência ao colonialismo português)"As Melusinas à margem do rio, de Melanie Pereira"uma conversa/reflexão com quatro mulheres sobre as suas identidades incertas e fragmentadas - o que é ser imigrante sem o ser, e ser luxemburguesa sem o ser"Clandestina, de Maria Mire, é "um mergulho no passado e na vivência de Margarida Tengarrinha que entra na clandestinidade em Portugal e se torna falsificadora por militância política"; e Histórias de Contrabandistas, de Agnes Meng"um viagem pelas memórias da aldeia de fronteira de Tourém onde se cruzaram vidas difíceis, aventuras inesquecíveis e histórias sobre o 'ninho de contrabandistas'".

Regressa a secção X-RAYDOC, dedicada à análise de filmes “cuja importância seja indiscutível para uma História do Documentário na qual se releva, como elemento estruturante, a relação com o outro, em contexto", com coordenação de Jorge Campos, jornalista, cineasta e programador cultural. A este juntar-se-á o jornalista do Público, Sérgio C. Andrade, para uma conversa-debate em torno do filme Adeus, Até ao Meu Regresso (Portugal, 1974), documentário de António-Pedro Vasconcelos, realizado para televisão em dezembro de 1974. O X-RAYDOC acontece a 3 de Agosto, às 10h00, na Casa da Cultura de Melgaço. No mesmo espaço e à mesma hora, mas a 2 de Agosto, tem lugar a masterclass sobre o cinema como lugar de disputa de memória e as potencialidades visuais e sonoras, com José Filipe Costa, realizador de várias curtas-metragens e documentários, entre os quais Prazer, Camaradas! (2019), Linha Vermelha (2011), Entre Muros (2002) e Senhorinha (1999).


Selecção Internacional

A questão palestiniana está muito presente no MDOC 2024, com três leituras diferentes sobre o conflito: Un Long Chemin Vers la Paix, de Tal Barda, "um manifesto de tolerância de um médico palestiniano que viu as suas três filhas mortas por um tanque israelita"; Voyage à Gaza, de Piero Usberti, com "a perspetiva de um 'viajante estrangeiro”' que chega a Gaza na Primavera de 2018 e é confrontado com as histórias de Sara, uma trabalhadora humanitária, Mohanad, um comunista convicto e Jumana, uma aspirante a advogada"; em No Other Land, "do colectivo Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor, durante meia década, Adra (que também é activista e advogado) filmou as aldeias de Masafer Yatta no sul da Cisjordânia a serem destruídas pela ocupação israelita, ao mesmo tempo que constrói uma aliança improvável com um jornalista israelita".

A questão dos direitos humanos é uma das temáticas patente nos filme Of Caravan and the dogs, de Askold Kurov, que "aborda a asfixia do discurso e do pensamento independentes na Rússia de Putin" e, em Democracy Noir, de Connie Field, "uma jornalista, uma política e uma activista decidem denunciar a natureza autocrática e populista do regime de Viktor Orbán, presidente húngaro que, actualmente, assume a presidência rotativa da União Europeia".

A falta de direitos e a situação da mulher está também presente em filmes como My Stolen Planet, da realizadora iraniana Farahnaz Sharif, "forçada a imigrar", ou Maydegol, de Sarvnaz Alambeigi, testemunho de "uma adolescente afegã imigrada no Irão e a luta pelos seus direitos contra a discriminação e a violência". The Takeover, de Anders Hammer, "filmado quando os talibãs retomaram o poder no Afeganistão", "retrata a rápida transformação do país e das mulheres que se recusam a perder os seus direitos".

Questões pós-coloniais são abordadas em filmes como The Battle for Laikipia, de Daphne Matziaraki e Peter Murimi, que mostra "como a crise climática está a despertar tensões em Laikipia, região do Quénia, onde os descendentes dos britânicos, que para lá emigraram e possuem grande parte das terras, e os indígenas, criadores de gado e assolados por uma seca, estão em concorrência directa"; e em Fogo no lodo, de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca, regressam "as memórias da guerra colonial".

A temática das migrações é abordada no já referido As Melusinas à margem do rio, de Melanie Pereira; e em Les Chenilles, Michelle Keserwany e Noel Keserwany, em que, através da história de duas jovens imigrantes em França (provenientes da Síria e do Líbano), se mostram "os efeitos dos acontecimentos históricos nas suas vidas: a mudança que a deslocação impõe, as condições de trabalho, as diferenças culturais"Night of the coyotes, de Clara Trischler, é uma tragicomédia cheia de ironia, que "documenta como os habitantes de uma aldeia mexicana - que ficou praticamente deserta devido à imigração dos seus habitantes para os Estados Unidos - inventaram um jogo em que oferecem aos turistas a oportunidade de experimentarem a migração ilegal através da fronteira americana, isto para evitar que a aldeia desapareça".

Questões ligadas ao ambiente são levantadas por filmes como o já referido A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro; Black snow, de Aline Simone, "segue uma dona de casa russa, Natalia Zubkova, que denunciou um desastre ecológico na sua cidade natal, Kiselyovsk, na Sibéria, provocado pela mineração do carvão a céu aberto, o que fez dela uma inimiga do Estado"; e As the tide comes in, de Juan Palacios e Sofie Husum Johannese, mostra "como os 27 residentes de uma ilha dinamarquesa se apegam à sua identidade de ilhéus e enfrentam o risco de inundações provocadas pelas alterações climáticas".

Além da competição oficial, o MDOC apresenta um vasto programa, que integra uma Oficina de Documentário, residências de cinema e fotografia, masterclass, análise de um filme documentário de referência, estreia de seis exposições, um curso de Verão e o habitual CINEférias e o Salto a Melgaço (que inclui, nos dias 3 e 4 de Agosto, a projecção de filmes, visita a exposições, ao Museu de Cinema Jean-Loup Passek, ao Espaço Memória e Fronteira e às Termas de Melgaço).

Toda a informação sobre o MDOC em https://mdocfestival.pt/pt.

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