Mostrar mensagens com a etiqueta A Savana e a Montanha. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta A Savana e a Montanha. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Crítica: A Savana e a Montanha (2024)

*7/10*


Em A Savana e a Montanha, o realizador Paulo Carneiro alia-se à população da aldeia de Covas do Barroso para dar voz cinematográfica a uma luta contra o Poder. Eis um filme de resistência numa época em que estes escasseiam, traduzido numa espécie de docuficção em jeito de "western musical".

"A comunidade de Covas do Barroso, no norte de Portugal, descobre que a empresa britânica Savannah Resources planeia construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros das suas casas. Diante dessa ameaça iminente, o Povo decide organizar-se para expulsar a empresa das suas terras."


Paulo Carneiro traz para o Cinema a realidade de uma pequena localidade em Trás-Os-Montes, dando visibilidade a uma luta quase silenciada pelos media e pelos Governos. A Savana e a Montanha é uma nova forma de cinema de intervenção. Junta uma equipa composta por profissionais e amadores para voltar a por na ordem do dia a indignação e luta de uma comunidade. É o povo - e o cinema - contra os governantes e as grandes empresas, para salvar a sua aldeia e o ambiente.

O realizador converte esta luta num western onde a música não falta (Carlos Libo trata das canções de intervenção), hiperbolizando o conflito real num enredo cinematográfico que não deixa para trás o lado reivindicativo. 


Os habitantes de Covas do Barroso são os heróis, os indígenas que defendem as suas terras, numa batalha contra um perigoso e poderoso inimigo invisível, pelo menos fisicamente, na longa-metragem. As notícias na televisão, máquinas no terreno e as conversas entre personagens levam a compreender quem é o vilão: o cowboy da Savannah Resources e seus aliados.

Ao filmar em película de 16mm, Paulo Carneiro torna as imagens tão mais cinematográficas quanto realistas, tirando partido da beleza da paisagem, mas igualmente, do lado lúdico e ficcional do filme.


A mágoa da população, cuja luta ainda está longe de alcançar o resultado desejado, transforma-se em alento e alegria por ter Paulo Carneiro (já seu conhecido devido ao filme Bostofrio, où le ciel rejoint la terre, filmado numa aldeia vizinha) a trabalhar esta batalha com criatividade e algum humor.

A Savana e a Montanha é um filme de união, mas igualmente de confronto com a realidade. Um grito de revolta de um povo, que já não tem medo.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Sugestão da Semana #663

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro.

A SAVANA E A MONTANHA


Ficha Técnica:
Título Original: A Savana e a Montanha
Realizador: Paulo Carneiro
Elenco: Aida Fernandes, Maria Loureiro, Elisabete Pires, Lúcia Pires, Daniel Loureiro
Género: Drama
Classificação: M/12
Duração: 77 minutos

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Estreias da Semana #663

Esta Quinta-feira, chegam às salas de cinema portuguesas nove novos filmes, para além da reposição de Star Wars: A Vingança dos Sith (2005), em jeito de comemoração do 20.º aniversário da sua estreia.

A Savana e a Montanha (2024)
Em Covas do Barroso, uma aldeia do norte de Portugal, a empresa britânica Savannah Resources pretende desenvolver e explorar aquela que seria a maior mina de lítio a céu aberto da Europa. Um documentário híbrido em que os habitantes da aldeia encenam a própria luta - que ainda está em curso - contra o projecto industrial que ameaça as suas terras.

À Sua Imagem (2024)
À son image
Antonia é uma jovem fotojornalista que vive na ilha da Córsega, no sul de França. Partindo da sua vida, são mostrados vários episódios da história política da Córsega, numa narrativa que começa na década de 80 e vai até ao início do século XXI. A sua lente jornalística e paixão por Pascal, um jovem activista da Frente de Libertação Nacional da Córsega, permitem conjugar as tensões particulares deste contexto com a história universal de uma mulher que tenta construir o seu caminho, num filme que aborda a natureza da fotografia e a vida que representa.

Bernadette - A Mulher do Presidente (2023)
Bernadette
Quando chega ao Palácio do Eliseu, Bernadette Chirac espera ter finalmente o lugar que merece, após ter trabalhado na sombra do marido para o levar à presidência. Colocada de lado por a considerarem demasiado antiquada, Bernadette decide vingar-se tornando-se uma grande figura mediática.

Camarada Cunhal (2024)
Julho de 1956. Álvaro Cunhal é enviado para o Forte de Peniche e colocado na mais moderna e segura ala penitenciária, considerada à prova de fuga. Apesar do apertado controlo exercido sobre os presos, Álvaro e os camaradas conseguem organizar uma pequena comuna e dar apoio aos detidos mais vulneráveis, enquanto procuram uma forma de escapar. A segurança foi reforçada após a espetacular fuga de Dias Lourenço, dois anos antes, quando o dirigente comunista saltou para o mar, em pleno inverno, nadando para a liberdade. Álvaro tem consigo seis cadernos, onde regista alguns dos mais duros episódios da sua vida, como o violento interrogatório a que foi sujeito na primeira detenção, os dias insanos na solitária, ou a morte do irmão mais velho. A rotina na prisão é difícil e repetitiva. Um dia, um dos seus companheiros percebe que há uma vulnerabilidade na segurança do forte, que podem usar para escapar. Dentro e fora da prisão, é posto em marcha um plano de fuga.

O Palácio de Cidadãos (2022)
Perante o aumento do fosso entre os cidadãos e o poder, e depois de uma crise económica que afetou gravemente a coesão social, este filme dá um vislumbre sem precedentes de como os cidadãos constroem uma sociedade a partir do interior de um parlamento, proporcionando uma reflexão pertinente, muitas vezes contraditória e complexa, sobre a essência da democracia.

Pink Floyd at Pompeii – MCMLXXII (IMAX) (1972)
Pink Floyd: Live at Pompeii
Pink Floyd at Pompeii - MCMLXXII é a versão recentemente restaurada do filme de 1972 realizado por Adrian Maben, remasterizado digitalmente em 4K a partir das imagens originais em 35 mm, com áudio melhorado e remisturado. Nas ruínas do antigo anfiteatro romano em Pompeia, Itália, capta os Pink Floyd numa atuação ao vivo sem público, captada em outubro de 1971, tanto de dia como de noite.

Super Charlie (2024)
Wille sempre sonhou tornar-se um super-herói e combater o crime ao lado do pai. Este sonho é destruído quando nasce o irmão mais novo de Willes, Charlie. Charlie atrai todas as atenções e, ainda por cima, tem superpoderes. Quando um supervilão e um cientista maléfico planeiam derrubar a cidade, Wille e Charlie têm de pôr as desavenças de lado e trabalhar em equipa. Conseguirão um bebé e o seu irmão invejoso salvar a cidade?

The Accountant 2 - Acerto de Contas (2025)
The Accountant 2
Christian Wolff (Ben Affleck) tem um talento único para resolver problemas complexos. Quando um velho conhecido é assassinado e deixa para trás a mensagem enigmática "encontra o contabilista", Wolff  decide desvendar o caso. Percebendo que são necessárias medidas drásticas, recruta o irmão com quem pouco se dá, Brax (Jon Bernthal), para o ajudar. Com o apoio da vice-diretora do Departamento do Tesouro, Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), descobrem uma conspiração mortal e tornam-se alvo de uma rede de assassinos disposta a tudo para manter os seus segredos enterrados.

Until Dawn (2025)
Adaptação do videojogo, acompanha Clover (Ella Rubin) e os seus amigos numa visita a um vale remoto, em busca de respostas sobre o misterioso desaparecimento da sua irmã Melanie. Em pouco tempo, o grupo vê-se apanhado num ciclo mortal, perseguido por um assassino mascarado, que os mata um por um... até acordarem e voltarem ao início da mesma noite. Presos no vale, são condenados a reviver a mesma noite repetidamente, enfrentando a cada ciclo uma nova ameaça assassina, cada vez mais aterrorizante que a anterior. À medida que a esperança diminui, o grupo percebe duas verdades inquietantes: há um número limitado de mortes e apenas uma forma de escapar-sobreviver até o amanhecer.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

MDOC 2024: Vencedores

My Stolen Planet, de Farahnaz Sharifi, foi o grande vencedor da  10.ª edição do MDOC - Festival Internacional de Documentário de Melgaço. O filme conquistou o Prémio Jean-Loup Passek para Melhor longa-metragem internacional.

© My Stolen Planet

Les Chenilles, de Michelle e Noel Keserwany, venceu o prémio para Melhor curta ou média-metragem. Já o galardão para Melhor documentário português foi para Tânia Dinis com Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas.

Eis a lista completa de vencedores:

Prémio Jean-Loup Passek para Melhor Documentário Internacional 

My Stolen Planet, de Farahnaz Sharifi

Menção Honrosa

No Other Land, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor

Melhor Documentário Português

Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas, de Tânia Dinis

Menção Especial

A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro

Prémio Jean-Loup Passek para Melhor Curta ou Média-metragem 

Les Chenilles, de Michelle e Noel Keserwany 

Menção Especial

Percebes, de Alexandra Ramires, Laura Gonçalves

O júri oficial desta edição do MDOC — Festival Internacional de Documentário de Melgaço foi composto por Angelos Rallis (Grécia), Irina Trocan (Roménia), Mohammadreza Farzad (Irão), Raquel Schefer (Portugal) e Truls Lie (Noruega).

Destaque ainda para o Prémio D. Quixote (da IFFS – Federação Internacional de Cineclubes atribuído em Festivais de Cinema seleccionados) que coube este ano a No Other Land, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor na secção de Melhor Longa-metragem, sendo que a Melhor Curta ou Média-metragem foi para A Beautiful Day, de Stefano Obino.

Mais informações sobre o MDOC em https://mdocfestival.pt/pt/.

sábado, 20 de julho de 2024

MDOC 2024: Programação completa

Já é conhecida a selecção oficial do MDOC - Festival Internacional de Documentário de Melgaço. O festival acontece de 29 de Julho a 4 de Agosto.

A questão palestiniana, os direitos humanos, as migrações, o colonialismo, o ambiente e as questões de género são os temas centrais numa edição comemorativa do 10.º aniversário do festival, marcada por 22 estreias no grande ecrã. Há 31 filmes a concurso no MDOC: 21 longas-metragens e 10 curtas e médias-metragens.

Selecção Nacional

São nove os documentários portugueses a integrar a competição da 10.ª edição do MDOC, entre os quais a curta-metragem de animação premiada no Festival de Annecy, Percebes, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, e A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro, que esteve na Quinzena dos Cineastas, em Cannes.

Percebes retrata o ciclo de vida e da apanha deste crustáceo no Algarve, tocando na temática do turismo massificado, e com testemunhos de habitantes locais. Já A Savana e a Montanha "retrata a luta dos habitantes de Covas de Barroso (concelho de Boticas) contra uma multinacional britânica – Savannah Ressources – que pretende construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros dos terrenos e casas da aldeia". Um documentário de resistência, com toques de western e fantasia. 

Além destes dois títulos juntam-se ainda mais sete documentários candidatos aos prémios Jean-Loup Passek D. Quixote (atribuído pela Federação Internacional de Cineclubes): Couto Mixto, de João Gomes"sobre a magia de um lugar, um estado independente de identidade híbrida galega e portuguesa"Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas, de Tânia Dinis"relato ficcional e documental sobre várias mulheres que, entre os anos 40 e 70, vieram para a cidade do Porto trabalhar como criadas de servir"Um mergulho em água fria, de Raquel Loureiro Marques, sobre imagens que deram forma ao imaginário de família da realizadora; Fogo no Lodo, de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca"que retrata a guerra colonial vivida entre os balanta conhecidos como 'aqueles que resistem' (povo com forte tradição de resistência ao colonialismo português)"As Melusinas à margem do rio, de Melanie Pereira"uma conversa/reflexão com quatro mulheres sobre as suas identidades incertas e fragmentadas - o que é ser imigrante sem o ser, e ser luxemburguesa sem o ser"Clandestina, de Maria Mire, é "um mergulho no passado e na vivência de Margarida Tengarrinha que entra na clandestinidade em Portugal e se torna falsificadora por militância política"; e Histórias de Contrabandistas, de Agnes Meng"um viagem pelas memórias da aldeia de fronteira de Tourém onde se cruzaram vidas difíceis, aventuras inesquecíveis e histórias sobre o 'ninho de contrabandistas'".

Regressa a secção X-RAYDOC, dedicada à análise de filmes “cuja importância seja indiscutível para uma História do Documentário na qual se releva, como elemento estruturante, a relação com o outro, em contexto", com coordenação de Jorge Campos, jornalista, cineasta e programador cultural. A este juntar-se-á o jornalista do Público, Sérgio C. Andrade, para uma conversa-debate em torno do filme Adeus, Até ao Meu Regresso (Portugal, 1974), documentário de António-Pedro Vasconcelos, realizado para televisão em dezembro de 1974. O X-RAYDOC acontece a 3 de Agosto, às 10h00, na Casa da Cultura de Melgaço. No mesmo espaço e à mesma hora, mas a 2 de Agosto, tem lugar a masterclass sobre o cinema como lugar de disputa de memória e as potencialidades visuais e sonoras, com José Filipe Costa, realizador de várias curtas-metragens e documentários, entre os quais Prazer, Camaradas! (2019), Linha Vermelha (2011), Entre Muros (2002) e Senhorinha (1999).


Selecção Internacional

A questão palestiniana está muito presente no MDOC 2024, com três leituras diferentes sobre o conflito: Un Long Chemin Vers la Paix, de Tal Barda, "um manifesto de tolerância de um médico palestiniano que viu as suas três filhas mortas por um tanque israelita"; Voyage à Gaza, de Piero Usberti, com "a perspetiva de um 'viajante estrangeiro”' que chega a Gaza na Primavera de 2018 e é confrontado com as histórias de Sara, uma trabalhadora humanitária, Mohanad, um comunista convicto e Jumana, uma aspirante a advogada"; em No Other Land, "do colectivo Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor, durante meia década, Adra (que também é activista e advogado) filmou as aldeias de Masafer Yatta no sul da Cisjordânia a serem destruídas pela ocupação israelita, ao mesmo tempo que constrói uma aliança improvável com um jornalista israelita".

A questão dos direitos humanos é uma das temáticas patente nos filme Of Caravan and the dogs, de Askold Kurov, que "aborda a asfixia do discurso e do pensamento independentes na Rússia de Putin" e, em Democracy Noir, de Connie Field, "uma jornalista, uma política e uma activista decidem denunciar a natureza autocrática e populista do regime de Viktor Orbán, presidente húngaro que, actualmente, assume a presidência rotativa da União Europeia".

A falta de direitos e a situação da mulher está também presente em filmes como My Stolen Planet, da realizadora iraniana Farahnaz Sharif, "forçada a imigrar", ou Maydegol, de Sarvnaz Alambeigi, testemunho de "uma adolescente afegã imigrada no Irão e a luta pelos seus direitos contra a discriminação e a violência". The Takeover, de Anders Hammer, "filmado quando os talibãs retomaram o poder no Afeganistão", "retrata a rápida transformação do país e das mulheres que se recusam a perder os seus direitos".

Questões pós-coloniais são abordadas em filmes como The Battle for Laikipia, de Daphne Matziaraki e Peter Murimi, que mostra "como a crise climática está a despertar tensões em Laikipia, região do Quénia, onde os descendentes dos britânicos, que para lá emigraram e possuem grande parte das terras, e os indígenas, criadores de gado e assolados por uma seca, estão em concorrência directa"; e em Fogo no lodo, de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca, regressam "as memórias da guerra colonial".

A temática das migrações é abordada no já referido As Melusinas à margem do rio, de Melanie Pereira; e em Les Chenilles, Michelle Keserwany e Noel Keserwany, em que, através da história de duas jovens imigrantes em França (provenientes da Síria e do Líbano), se mostram "os efeitos dos acontecimentos históricos nas suas vidas: a mudança que a deslocação impõe, as condições de trabalho, as diferenças culturais"Night of the coyotes, de Clara Trischler, é uma tragicomédia cheia de ironia, que "documenta como os habitantes de uma aldeia mexicana - que ficou praticamente deserta devido à imigração dos seus habitantes para os Estados Unidos - inventaram um jogo em que oferecem aos turistas a oportunidade de experimentarem a migração ilegal através da fronteira americana, isto para evitar que a aldeia desapareça".

Questões ligadas ao ambiente são levantadas por filmes como o já referido A Savana e a Montanha, de Paulo Carneiro; Black snow, de Aline Simone, "segue uma dona de casa russa, Natalia Zubkova, que denunciou um desastre ecológico na sua cidade natal, Kiselyovsk, na Sibéria, provocado pela mineração do carvão a céu aberto, o que fez dela uma inimiga do Estado"; e As the tide comes in, de Juan Palacios e Sofie Husum Johannese, mostra "como os 27 residentes de uma ilha dinamarquesa se apegam à sua identidade de ilhéus e enfrentam o risco de inundações provocadas pelas alterações climáticas".

Além da competição oficial, o MDOC apresenta um vasto programa, que integra uma Oficina de Documentário, residências de cinema e fotografia, masterclass, análise de um filme documentário de referência, estreia de seis exposições, um curso de Verão e o habitual CINEférias e o Salto a Melgaço (que inclui, nos dias 3 e 4 de Agosto, a projecção de filmes, visita a exposições, ao Museu de Cinema Jean-Loup Passek, ao Espaço Memória e Fronteira e às Termas de Melgaço).

Toda a informação sobre o MDOC em https://mdocfestival.pt/pt.