A sessão de curtas-metragens Que Mulheres Serão Estas? estreia a 3 de Outubro nos cinemas portugueses, com distribuição No Comboio. Esta sessão junta três filmes num programa protagonizado por "mulheres que não se deixam definir".
São três histórias de mulheres, que "partilham a mesma resiliência e uma busca comum por construírem o seu próprio destino", sendo, cada uma, "um reflexo das múltiplas camadas do que é ser mulher nos dias de hoje": Um Caroço de Abacate, de Ary Zara; As Sacrificadas, de Aurélie Oliveira Pernet; e By Flávio, de Pedro Cabeleira.
Em Um Caroço de Abacate, Larissa (Gaya de Medeiros), uma mulher trans, encontra Cláudio (Ivo Canelas) numa noite nas ruas de Lisboa. Os dois descobrem-se, surpreendem-se e aceitam-se mutuamente como são. Neste encontro, não há violência. Há compreensão, sensualidade, alegria e celebração. O encontro inesperado dá a esperança de dias melhores a Larissa e uma melhor compreensão das prioridades na vida desencantada de Cláudio. Duas almas perdidas que se cruzam e amparam na noite de Lisboa.
O filme de Ary Zara esteve a representar Portugal na corrida aos Oscars, conseguindo chegar à shortlist da categoria de Melhor Curta-metragem em Imagem Real, onde figuraram os 15 melhores filmes na corrida ao prémio.
As Sacrificadas passa-se nas montanhas portuguesas devastadas pelo fogo. Otília (Tânia Alves) debate-se entre o trabalho como empregada de limpeza numa piscina municipal e a necessidade de cuidar da mãe dependente (Valerie Braddell). Ao mesmo tempo que o calor sufocante dos incêndios que cercam a sua terra ecoa o desespero e a opressão que sente na sua própria vida. Otília sente-se anulada enquanto mulher e esgotada pelas exigências da vida e pela solidão.
A realizadora Aurélie Oliveira Pernet envolve a plateia na acção, seguindo a rotina de Otília - entre a Água e o Fogo, os elementos mais destacados em As Sacrificadas -, da tranquilidade do emprego nas piscinas, à difícil relação com a mãe. O fogo ronda os terrenos perto da casa da protagonista, mas é lá dentro, nas notícias que a televisão anuncia, que mais se sente o seu calor - adensado pelas discussões entre mãe e filha.
Tânia Alves entrega-se a Otília, num sofrimento espelhado no rosto, mas sufocado na voz. O desespero, a desconfiança e a solidão da protagonista são o combustível que poderá acender o rastilho da vontade de escapar.
Em By Flávio, Márcia (Ana Vilaça) é uma jovem mãe que sonha com o reconhecimento nas redes sociais, "entre filtros e hashtags", numa incessante "procura da validação dos outros" online. Quando "tem a oportunidade de sair com Chullz (Tiago Costa), um rapper famoso, o destino parece sorrir-lhe. Mas há um problema: não tem com quem deixar Flávio, o seu filho". Para não deixar escapar a oportunidade, leva-o consigo.
Márcia enfrenta a dificuldade em "conciliar os papeis de mãe e mulher independente", entre "os seus desejos pessoais e a responsabilidade inegável de ser mãe". Um retrato que tão bem se aplica a tantas mulheres, muitas vezes julgadas por se quererem emancipar, mesmo sendo mães solteiras. Com alguma ironia à mistura, Pedro Cabeleira faz de By Flávio símbolo de que é justo querer seguir em frente, correndo atrás dos sonhos, com os filhos ao lado. O filme venceu o Prémio Sophia para Melhor Curta-metragem de Ficção.
Que Mulheres Serão Estas? é uma sessão recomendada pelo Hoje (vi) um Filme e uma excelente oportunidade para ver em sala de cinema três curtas-metragens premiadas e com histórias poderosas sobre Mulheres.
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