O Doclisboa acontece entre 17 e 27 de Outubro na Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal e Casa do Comum do Bairro Alto, com filmes de Syberberg, Radu Jude, Andrei Ujică ou Harmony Korine, entre outros. Esta 22.ª edição do festival é dedicada a Augusto M. Seabra, recentemente falecido.
A abrir o Doclisboa está Sempre, de Luciana Fina. O filme é construído a partir dos arquivos cinematográficos da Cinemateca Portuguesa que convidou Luciana Fina para conceber uma instalação por ocasião da celebração dos 50 anos do 25 de Abril. O filme de encerramento do festival será O Dia que te conheci, de André Novais Oliveira.
A Competição Internacional deste ano conta com 12 filmes, entre eles: Aparição, de Camila Freitas; En vez de árboles, de Philipp Hartmann; Les Loups, de Isabelle Prim; ou Tales from the Source, de Léonard Pongo. Na Competição Portuguesa, há dez obras a concurso. Entre elas, destaque para: Espiral em Ressonância, de Filipa César e Marinho de Pina; Na Trafaria, de Pedro Florêncio; O Palácio de Cidadãos, de Rui Pires; e Sob a Chama da Candeia, de André Gil Mata.
Riscos
A secção Riscos os mais recentes filmes de Andrei Ujică, Hans-Jürgen Syberberg, Radu Jude e Harmony Korine. O realizador convidado deste ano é o francês Pierre Creton (Go, Toto!, 7 Walks with Mark Brown), numa programação que vai da "relação com o mundo natural que convocam os filmes deste cineasta-agricultor de grande sensibilidade, ele próprio retratado noutro filme desta secção, I Am Pierre Creton, Normand and Filmmaker, de Dominique Auvray; e os mundos virtuais e distópicos dos trabalhos de Phil Solomon (Still Raining, Still Dreaming, Rehearsals from Retirement) que transforma as paisagens do jogo Grand Theft Auto ou de Korine e Aggro Dr1ft, peça de grande inventiva formal que é também um conto de violência e redenção à maneira de uma sala de jogos multiplayer", explica a organização do festival em comunicado.
Aggro Dr1ft, de Harmony Korine |
Nos Riscos encontra-se ainda "fixação de Andrei Ujică pela viagem dos Beatles a Nova Iorque em 1965 e a perplexidade perante a paisagem social americana, passada e presente, em TWST — Things We Said Today"; Eight Postcards From Utopia, de Radu Jude, "filme-montagem que colige material de anúncios publicitários pós-socialistas na Roménia"; Hans-Jürgen Syberberg que regressa 30 anos depois do seu último trabalho com o filme Demmin Cantos, filme sobre a cidade de Demmin, no nordeste da Alemanha, "onde o realizador nasceu e que foi palco de um dos maiores suicídios em massa no pós-Segunda Guerra Mundial". O realizador estará no Doclisboa, que mostra ainda Ludwig. Requiem for a Virgin King (1972), integrado na retrospectiva Back to the Future, com curadoria de Jean-Pierre Rehm.
No ano do desaparecimento de Augusto M. Seabra, alguém fundamental para a história do Doclisboa e da secção Riscos, o festival "dedica-lhe esta edição e exibe um dos primeiros filmes por si programados para os Riscos: Compilations, 12 instants d’amour non partagé, de Frank Beauvais, obra onde convivem pequenos gestos de amor e música. A sessão, nomeada Exórdio, está agendada para 20 de Outubro, às 15h30, na Culturgest, e terá entrada gratuita mediante levantamento de bilhete no próprio dia".
Daniel Hui regressa ao festival para apresentar o seu novo trabalho: Small Hours of the Night, sobre a Singapura dos anos 1960 e os seus fantasmas políticos. O filme está em linha directa com outro da programação: If I Fall, Don’t Pick Me Up, de Declan Clarke, que explora a correspondência de década e meia entre Samuel Beckett e o encenador Walter. D Asmus.
Da Terra à Lua
Na secção Da Terra à Lua, destaque para duas cópias restauradas: Um é Pouco, Dois é Bom (1970), de Odion Lopes, pioneiro do cinema negro; e El Castillo de la Pureza, do mexicano Arturo Ripstein, além de Lázaro at Night, de Nicolás Pereda.
Destaque, nesta secção, para: Der Soldat Monika, de Paul Poet; Henry Fonda for President, de Alexander Horwarth; Lula, de Oliver Stone e Rob Wilson; The Invasion, de Sergei Loznitsa; Favoriten, de Ruth Beckermann; Subject: Filmmaking, de Edgar Reitz e Jörg Adolph; Dahomey, de Mati Diop; Dad’s Lullaby, de Lesia Diak; ou In Limbo, de Alina Maksimenko.
Lula, de Oliver Stone e Rob Wilson |
Há dois filmes portugueses nesta secção: Por Ti, Portugal, Eu Juro!, de Sofia da Palma Rodrigues e Diogo Cardoso, onde a "Guerra Colonial é reinterpretada com testemunhos de antigos soldados guineenses, recrutados para combater ao lado das Forças Armadas portuguesas, posteriormente abandonados pelo país por que combateram e expostos a perseguições e fuzilamentos, acusados de traição na sua terra natal"; e Kora, de Cláudia Varejão, "oferece o retrato fotográfico como porta de entrada à memória, com cinco mulheres que, refugiadas no nosso país, vivem entre aquilo de que fugiram e um futuro de incertezas".
Da Terra à Lua apresentará ainda uma sessão dedicada à guerra no Médio Oriente e ao massacre em curso do povo palestino, com Here and Elsewhere (1976), de Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin e Anne-Marie Miéville, e The Palestinians (1975), de Johan van der Keuken.
Heart Beat
Na secção Heart Beat, encontra-se Peaches Goes Bananas, de Marie Losier, que abre a programação com uma viagem ao backstage da artista electropunk; Devo, de Chris Smith, "retrata a carreira quinquagenária da banda synth-pop americana, pioneira na música e no videoclipe, através de entrevistas e imagens de arquivo"; e Before It's Too Late, de Mathieu Amalric, segue de perto o Emerson String Quartet durante a gravação do seu último álbum, Infinite Voyage, após 47 anos de carreira.
Na mesma secção, destaque para Blur: To the End, de Toby L., "acompanha a nova reunião da banda de culto liderada por Damon Albarn, e a gravação e concertos do seu mais recente álbum, The Ballad of Darren"; Pavements, de Alex Ross Perry, "mostra a banda indie rock Pavement a preparar-se para a sua reunion tour esgotada de 2022, enquanto acompanha a criação de um musical baseado nas suas canções."; Diário de Estrada: Bruce Springsteen e The E Street Band, de Thom Zimny, "cruza imagens de ensaios, momentos de backstage e testemunhos de um dos reis do rock" - o Doclisboa exibe o documentário dias antes da sua chegada à plataforma Disney+, a 25 de Outubro -; e Luiz Melodia — No Coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, sobre a vida e o trabalho do cantor e compositor carioca, narrada na primeira pessoa.
Também o cinema está em foco no Heart Beat: Miyazaki, Spirit of Nature, de Léo Favier, sobre o realizador japonês, com enfoque nos valores ecologistas que guiaram a sua carreira; Jacques Demy, the Pink and the Black, de Florence Platarets e Frédéric Bonnaud; François Truffaut, My Life, a Screenplay, de David Teboul, "revela arquivos e imagens inéditas do mestre francês numa viagem com o seu velho confidente Claude de Givray meses antes de morrer"; Looking for Robert, de Richard Copans, entra no universo do realizador Robert Kramer, com quem Copans trabalhou durante 20 anos.
Peaches Goes Bananas, de Marie Losier |
Ainda no Heart Beat, encontra-se High & Low — John Galliano, de Kevin Macdonald, que apresenta o mundo do designer de moda John Galliano, conta com entrevistas ao estilista e a nomes como Naomi Campbell, Kate Moss e Anna Wintour; Guido Guidi Lives in Hiding, de Paulo Catrica, que vai à pequena cidade de Cesena, casa do fotógrafo que dá título ao filme e que, há mais de 40 anos, "fotografa com um olhar distinto as coisas comuns, enquanto vai construindo um arquivo que é o retrato de uma Itália rural e suburbana"; Ricardo Aleixo: Afro-Atlântico, de Rodrigo Lopes de Barros, onde "o realizador experimenta com diferentes formas de gravação de vídeo e serve-se dos poemas, da voz e do corpo do autor brasileiro para explorar a sua condição periférica e afro-brasileira".
Entre os filmes portugueses, destaque para a estreia mundial de O Voo do Crocodilo — O Timor de Ruy Cinatti, de Fernando Vendrell, "sobre a relação — afectiva, etnográfica, artística — que Cinatti desenvolveu com esse país distante e que acabou por definir o curso da sua vida". Há ainda dois filmes feitos por pai e filho: Ressaca Bailada — Filme Concerto, realizado por um dos guitarristas dos Expresso Transatlântico, Sebastião Varela, "é a transposição visual de uma narrativa de muitos formatos rodada num castelo em ruínas, com personagens que deambulam ao som das faixas do álbum Ressaca Bailada, num movimento de celebração e questionamento da tradição cultural portuguesa"; e O Diabo do Entrudo, de Diogo Varela Silva, foca-se numa das "mais antigas tradições de Carnaval em Portugal, o Entrudo de Lazarim, e a tudo o que envolve os Caretos, desde a elaboração das suas máscaras e trajes às dinâmicas de género geradas pela tradição e passadas entre gerações".
Por fim, Turn in the Wound, de Abel Ferrara, com Patti Smith e Soundwalk Collective, "mostra a guerra contada na primeira pessoa por gente comum, numa carta visual e musical de apoio ao povo ucraniano".
De regresso está a secção competitiva Verdes Anos, revelando novos talentos, o Nebulae, espaço de indústria do festival, apresenta Espanha como país convidado, e o projecto educativo abcDoc, que aposta na força do documentário como ferramenta pedagógica.
Todos os detalhes sobe o Doclisboa podem ser consultados em em doclisboa.org.
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