"There's been a slight misuse of the Substance."
Elisabeth Sparkle
*4/10*
Tão aclamado, depois de vencer o Prémio para Melhor Argumento no Festival de Cannes, e venerado pela crítica internacional, A Substância é, provavelmente, a maior desilusão do ano. Definitivamente, Coralie Fargeat ainda não se encontrou. Perde-se num estilo que encontra muita inspiração em David Cronenberg, Stanley Kubrick, Quentin Tarantino e outros nomes marcantes do Cinema, mas sem um propósito definido para a sua própria filmografia.
Já em Vendeta (2017), a sua primeira longa-metragem, a realizadora demonstrou que simpatizava com o feminismo e com o body horror, aí aplicados a um revenge movie. Mas será que A Substância não começa também dessa forma? Uma vingança do mundo machista do espectáculo (que privilegia a beleza da juventude em vez da experiência e do talento). Tal como não há poções de eterna juventude, também a promissora premissa deste filme não é de fiar.
Elisabeth (Demi Moore) é uma estrela em decadência que experimenta uma substância ilegal para obter uma versão jovem de si mesma, a partir de um processo de replicação de células. A versão jovem de Elisabeth é Sue (Margaret Qualley), uma mulher ambiciosa que também quer ter sucesso no mundo do espectáculo, e as duas devem coexistir para sobreviverem. Mas tudo tem um preço.
A ideia de criticar o mundo do espectáculo - cinema, televisão, etc. - que tende a desinteressar-se pelas mulheres (sejam actrizes, modelos, apresentadoras, etc.) à medida que envelhecem, e a procura desenfreada das sociedades actuais por um ideal de beleza inalcançável são o ponto de partida de A Substância.
É essa substância, que dá título ao filme de Coralie Fargeat, o elemento que suscita mais interesse ao longo do filme: quem e o que está por detrás desta experiência, afinal? Tudo se torna mais misterioso e cativante quando surge esta ultrassecreta fórmula de eterna juventude, num novo corpo, semana sim, semana não. A partir desta ideia, A Substância apresenta-se com um potencial imenso mas, assim que se passa a metade do filme, tudo cai por terra, até às profundezas da degradação - das personagens e da pobre plateia.
Ao querer mostrar-se tão feminista, a realizadora filma todas as personagens masculinas com desdém, exagerados e extremamente caricaturais, captados de pontos de vista - grandes planos de pleno asco - pouco simpáticos. Já o corpo feminino é sexualizado ao máximo (algo que já acontecia em Vendeta), com inúmeros planos - estilo videoclip - de rabos, peitos e pernas, sem grande sensibilidade - e nem vale a pena lembrar por onde e de que forma nasce Sue.
O propósito inicial do argumento escolhe o caminho errado e perde-se sem encontrar o trajecto de volta. É tudo demasiado óbvio, explicado, sem mensagens subliminares ou suspense. Apenas o choque exacerbado. A realizadora quer mostrar o grotesco da forma mais cruel possível para as protagonistas. O humor negro - e nervoso -, que desponta em alguns momentos, deixa a dúvida se é ou não propositado, pois deriva do quão inacreditáveis são, por vezes, os acontecimentos.
Tecnicamente, constata-se que há muita competência das equipas de efeitos especiais, direcção de fotografia e até da montagem - apesar de, muitas vezes, ser demasiado frenética. Mas, no fim, há muito pouca substância.
Fica a dica: respeitem sempre as instruções de uso.
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