sábado, 18 de janeiro de 2025

Crítica: Lobisomem / Wolf Man (2025)

"Sometimes when you're a daddy, you're so scared of your kids getting scars that you become the thing that scars them"

Blake

*4.5/10*

Leigh Whannell é um realizador com um percurso curto mas ascendente. Se o distópico Upgrade (2018) atraiu as atenções para o seu trabalho e criatividade, O Homem Invisível (2020) tornou-o mundialmente famoso. Lobisomem (2025) parece ser a primeira pedra no seu caminho enquanto cineasta. 

Pegando em mais uma personagem do terror, Leigh Whannell não consegue, contudo, transpor o lugar comum do lobisomem clássico, apesar das tentativas para o tornar mais humano.

"Blake herda a sua remota casa de infância na zona rural do Oregon depois do seu pai desaparecer e ser dado como morto. Com o casamento desgastado, Blake convence a esposa Charlotte a visitar a propriedade com a filha de ambos, a pequena Ginger. Quando a família se aproxima da casa, são atacados por um animal que não conseguem identificar. Numa fuga desesperada, barricam-se dentro da casa enquanto a criatura ronda o perímetro. À medida que a noite avança, Blake começa a comportar-se de forma estranha e transforma-se em algo irreconhecível. Charlotte vê-se forçada a optar entre o terror dentro de casa e o perigo que as espera lá fora."

A premissa de Lobisomem passa por um passado familiar mal resolvido entre Blake e o pai. O protagonista cresceu delimitado por regras e disciplina, qual soldado raso do pai, que via na sua extrema proteção o melhor acto de amor que poderia demonstrar pelo filho. Sem mãe, a criança vivia com o progenitor, rodeados pela floresta e por um receio extremo dos adultos da região, que Blake não compreendia na totalidade. Quando cresce, o protagonista vai viver para a cidade e perde o contacto com o pai, entretanto desaparecido.

O passado esquecido regressa para compensar os anos de afastamento quando chega a Blake a informação da morte do pai, há tanto tempo em parte incerta. O regresso à casa onde cresceu, juntamente com a família que entretanto constituiu na cidade, torna num pesadelo aquilo que queriam que fosse um tempo de reconciliação e união. Regressam os terrores, e um ser meio humano, meio animal persegue-os - ou será uma doença?

Infelizmente, os mistérios de Lobisomem não se mantêm por muito tempo, o que desaponta a plateia, que nem jump scares encontra nesta longa-metragem de terror (e aqui o trailer é muito enganador). A tragédia iminente, todavia, está patente desde o início.

O lobisomem de Leigh Whannell é percebido como alguém que padece de uma doença transmissível, que o vai transformando, aos poucos, e, aparentemente, incurável. Perde capacidades humanas, o seu corpo entra em decadência. O realizador pretende conferir-lhe um lado mais humanizado, em especial através da relação de Blake com a filha.

A caracterização é muito competente e segue esta ideia de humanizar o protagonista, sendo que um dos maiores pontos fortes de Lobisomem são os efeitos visuais práticos, onde não foi usado qualquer CGI.

Leigh Whannell falha o seu propósito quase desde o início. Não se constrói uma ligação forte à família de Blake por parte da plateia. A relação entre os três é fria e pouco natural, e nem Christopher Abbott, nem Julia Garner conseguem criar esse laço. Só mesmo a jovem Matilda Firth, Ginger, se esforça realmente por tentar unir elenco e plateia.


Lobisomem começa com um pai e um filho - de relação gelada -, a admirar a paisagem junto à sua casa, no Oregon. Muitos anos depois, é mãe e filha quem aprecia a mesma paisagem, e, afinal, são agora elas quem tem de proteger casa e família contra o inimigo, seja ele humano, monstro ou doente.

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