sábado, 22 de fevereiro de 2025

Crítica: Ainda Estou Aqui / I'm Still Here (2024)

"- O meu marido está em perigo!

- Todo o mundo está em perigo, Eunice."

*7.5/10*

Walter Salles regressa aos anos da ditadura brasileira para contar uma história real em Ainda Estou Aqui. O filme é inspirado no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, sobre a história da sua família. Em tempos estranhos como os actuais, é ainda mais importante recordar os horrores das ditaduras do século XX.

"Rio de Janeiro, anos 70. No Brasil impera a ditadura militar iniciada em 1964 e que só terminaria em 1985. Rubens Paiva é um deputado do regime deposto, casado, pai de cinco filhos, engenheiro de profissão. Em janeiro de 1971, homens armados entram na sua casa e levam-no para interrogatório. Nunca regressou, sendo oficialmente considerado como 'desaparecido'. Ainda Estou Aqui é a história da sua família. A história de Eunice, uma mãe que procura incessantemente o marido desaparecido, empenhada em descobrir a verdade por detrás do 'desaparecimento', enquanto tudo faz para que a família tenha uma vida normal. A busca duraria 30 longos anos."

Num época de medo e perseguição, Walter Salles foca-se no desaparecimento de Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello), para mostrar (ou relembrar) como a ditadura assombrava e destruía famílias. O realizador cria um filme realista, comovente e fiel aos acontecimentos, e em que todo o visual do filme transporta a plateia para os anos 70, onde tudo começa.

Depois de levarem o ex-deputado, é a matriarca Eunice, interpretada por Fernanda Torres, quem toma as rédeas. Uma dona de casa que vivia para gerir a casa e os filhos e não se envolvia nas lutas políticas do marido, vê-se, de repente, sem rumo. E é então que muda totalmente de vida, torna-se a cara da luta de tantos brasileiros.

Depois de ser vigiada, presa, interrogada e de lidar com a tortura, Eunice percebe que é preciso expor o caso mediaticamente e lutar por todos os meios legais para conseguir as respostas que teimam em não chegar e, principalmente, justiça. E é aqui que Fernanda Torres toma conta do filme. Ela encarna a verdadeira Eunice nas suas lutas, ao longo de 30 anos, sem nunca desistir. Um sorriso para uma foto que se espera triste já é desafiar o sistema. E Eunice já não teme. Ela supera-se, reinventa-se, mostra que nunca é tarde para o que for e que desistir nunca será opção.

Ainda Estou Aqui é memória, melancolia, revolta e justiça. É daquelas obras que nunca deixarão de ser necessárias.

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