A 23.ª edição do Doclisboa decorre de 16 a 26 de Outubro, na Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal. O programa do festival foi esta Quinta-feira anunciado em conferência de imprensa.
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With Hasan in Gaza, Kamal Aljafari |
O filme de abertura, já anunciado, será With Hasan in Gaza, do realizador palestiniano Kamal Aljafari, uma homenagem à resistência em Gaza. A fechar, o Doclisboa mostra A Árvore do Conhecimento, de Eugène Green, uma co-produção luso-francesa, protagonizada por Diogo Dória, Leonor Silveira, João Arrais, Ana Moreira e Rui Pedro Silva.
Competição Internacional e Nacional
A Competição Internacional reúne 12 filmes: One Minute Is an Eternity for Those Who Are Suffering, de Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro (Brasil); Vacances, de Victoria Hely-Hutchinson (EUA, França); Towards the Light, de Vadim Kostrov (França); Letters to My Dead Parents, de Ignacio Agüero (Chile); The Night Is Fading Away, de Ezequiel Salinas e Ramiro Sonzini, (Argentina); Cinema Kawakeb, de Mahmoud Massad (Jordânia, Catar, Países Baixos); Le Lac, de Fabrice Aragno (Suíça); Fantasy, de Isabel Pagliai (França); Tell Me a Fairy Tale, de Ebrû Avci (Turquia); B for Bartleby, de Angela Summereder (Áustria); The Anything, de Giorgos Athanasiou (Grécia); e The Strongest Lightning Strikes Not From Dark Skies, de Nate Lavey (EUA)
Por sua vez, a Competição Portuguesa contará também com 12 títulos: Llenya, de Manel Raga Raga; Água Mãe, de Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres; Three of Cups, de Mário Macedo e Enotea; Explode São Paulo, Gil, de Maria Clara Escobar; Andar com Fé, de Duarte Coimbra; As Estações, de Maureen Fazendeiro; Fuck the Polis, de Rita Azevedo Gomes; Complô, de João Miller Guerra; Ouro e Cinza, de Salomé Lamas; Baía dos Tigres, de Carlos Conceição; Ku Handza, de André Guiomar, e Nova '78, de Aaron Brookner e Rodrigo Areias.
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Baía dos Tigres, Carlos Conceição |
Riscos
A secção Riscos coloca a natureza contemporânea do cinema no centro da sua atenção, reunindo filmes produzidos entre 1896 e 2025. O programa vai das primeiras experiências cinematográficas às práticas mais contemporâneas, "desde os planos luminosos e movimentos de câmara de Gabriel Veyre, operador de câmara dos irmãos Lumière, até aos novos filmes de Hassen Ferhani, Javier Rebollo, Marko Grba Singh ou Margarita Ledo Andión", explica o festival. A egípcia Hala Elkoussy é realizadora convidada, cuja obra combina uma abordagem inventiva, política e poética.
Outro destaque é Minh Quý Trương, cuja obra reflecte a sua profunda ligação ao Vietname e ao seu povo. "Tanto nas obras a solo como em colaboração com Nicolas Graux, Trương combina tradições de ficção, não-ficção, etnografia e ficção científica, construindo filmes de atenção e detalhe, onde a história, a memória e a materialidade do tempo presente se entrelaçam". O programa da secção Riscos inclui também Shadowboxing, concebido pela programadora associada do Doclisboa, Cíntia Gil, e o programador e crítico francês Jean-Pierre Rehm. "Shadowboxing propõe um combate imaginário sem contrapartida, tomando a Palestina como horizonte e presença espiritual, moral e estética".
Heart Beat
Na secção Heart Beat, destaque para o filme da realizadora Solveig Nordlund, Memórias do Teatro da Cornucópia, que mostra, com recurso a imagens de arquivo de vários espectáculos, peças emblemáticas da companhia fundada por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, em 1973. Já Bull’s Heart, da grega Eva Stefani, acompanha de perto os preparativos para a criação Transverse Orientation, do coreógrafo Dimitris Papaioannou e a sua digressão pelos teatros europeus.
Nesta secção, destaque ainda para: Cast of Shadows, de Sami van Ingen, sobre Robert Joseph Flaherty; Andy Kaufman Is Me, de Clay Tweel; Barking in the Dark, de Marie Losier; Bobò, de Pippo Delbono; Paul, de Denis Cotê; Toni, Mio Padre, de Anna Negri; Megadoc, de Mike Figgis, sobre Megalopolis de Francis Ford Coppola; Strange Journey: The Story of Rocky Horror, de Linus O'Brien, e uma homenagem a Robert Wilson, desaparecido este ano, com três filmes: dois seus, Stations e Video 50, e outro sobre uma produção teatral sua, Robert Wilson & the CIVIL warS, de Howard Brookner.
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Welcome to Lynchland, Stéphane Ghez |
Já anunciado, no Heart Beat estava David Lynch em dose dupla, primeiro com Welcome to Lynchland, de Stéphane Ghez, que mergulha na obra do realizador e dá voz a Kyle MacLachlan, Laura Dern e Isabella Rossellini, entre outros dos colaboradores mais próximos; e ainda a exibição de Duran Duran: Unstaged, experiência lynchiana numa actuação dos britânicos Duran Duran.
Ainda no registo de documentário musical, estão Boy George & Culture Club, de Alison Ellwood, onde o cantor e os seus colegas de banda partilham pela primeira vez a sua história; Becoming Madonna, de Michael Ogden, que, partindo de imagens e registos inéditos, acompanha a transformação da jovem outsider do Michigan na estrela pop mais poderosa e controversa do mundo; It's Never Over, Jeff Buckley, de Amy Berg; e One to One: John & Yoko, de Kevin Macdonald e Sam Rice-Edwards.
Nesta edição, o Doclisboa celebra os 100 anos do nascimento do compositor italiano Luciano Berio com um programa especial. Serão apresentados quatro filmes raros que exploram a relação entre música, imagem, memória e experimentação: Il canto d’amore di Prufrock (1967), de Nico D’Alessandria, inspirado no poema homónimo de T. S. Eliot, combina a declamação de Carmelo Bene com a música de Berio; Sirènes (1961), de Emile Degelin, baseia-se no poema The Sirens, de James Joyce, em diálogo com música eletrónica e sonhos marítimos; The Colours of Light (1963), de Bruno Munari e Marcello Piccardo, investiga luz e cor com a presença conceptual de Berio; e Voyage to Cythera (1999), de Frank Scheffer, centra-se na terceira parte da Sinfonia de Berio, transformando citações musicais de Mahler, Stravinsky e Boulez num fluxo contínuo de sons e imagens, guiado pelo próprio compositor.
Da Terra à Lua
Na secção Da Terra à Lua, destaque para a exibição de O Riso e a Faca integral, de Pedro Pinho, versão longa e em estreia mundial do filme premiado em Cannes (Melhor Actriz na secção Un Certain Regard para Cleo Diára). A este filme, juntam-se outros como Remake, de Ross McElwee, uma reflexão sobre as suas criações e um tributo à vida do seu filho Adrian, que faleceu em 2016; Bulakna, de Leonor Noivo, que aborda a desigualdade social num mundo pós-colonial, ao mesmo tempo que toma em temas como o valor do trabalho, do corpo e da vida; Pescadores de Bubaque, de Pedro Florêncio; Contemplação Impasse Tentativa, de Welket Bungué; Aurora, de João Vieira Torres; Tales of the Wounded Land, de Abbas Fahdel; Angela's Diaries. Two Filmmakers: Chapter Three, de Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi; e Tôsô, de Masao Adachi.
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Ghosts Elephants, Werner Herzog |
Já anunciado tinha sido a presença dos filmes de Lucrecia Martel e Werner Herzog no programa do Doclisboa 2025. Da realizadora, destaque para a exibição de Landmarks, que acompanha a luta de nove anos por justiça, depois de, em 2009, Javier Chocobar, líder da comunidade indígena de Chuschagasta, ter sido assassinado por três homens que alegaram ser donos da terra. O filme combina vozes e imagens da comunidade com footage do tribunal, para explorar as consequências do colonialismo e da expropriação de terras. Já de Werner Herzog será exibido Ghosts Elephants, que questiona se certas epopeias não são melhores se ficarem por concluir. O filme acompanha o explorador Steve Boyes, que juntamente com três mestres rastreadores da Namíbia, parte numa busca pelos raros elefantes-fantasma de Angola. O filme de Herzog desperta questões existenciais e reflecte sobre a conservação ambiental e cultural em África.
Ainda de destacar na secção Da Terra à Lua, está Cover-up, de Laura Poitras em colaboração com Mark Obenhaus, que explora a carreira do jornalista Seymour Hersh, jornalista premiado com o Pulitzer, que revelou os escândalos de tortura do exército dos EUA nas guerras do Vietname e Iraque.
De Portugal, será ainda exibido um filme inédito: As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1970-1974), de Luiz Gobern Lopes.
Em colaboração com a Cinemateca Portuguesa será apresentada a já noticiada retrospectiva dedicada a William Greaves (1926–2014), co-programada pelo académico Scott MacDonald e Luís Mendonça (Cinemateca Portuguesa). O programa revelará a versatilidade de Greaves enquanto actor, realizador, produtor e editor.
Mais sobre a programação do Doclisboa e outras informações em https://doclisboa.org/.
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