sexta-feira, 19 de abril de 2013

Crítica: Os Amantes Passageiros / Los Amantes Pasajeros (2013)

*7/10*

Pedro Almodóvar regressa aos tempos animados de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos com o seu mais recente trabalho, Os Amantes Passageiros. Cor, dança e estereótipos não faltam no novo filme do realizador espanhol, onde nem a crítica social deixa de marcar presença.

O cenário dos acontecimentos é um avião, que se depara com um problema em um dos trens de aterragem e, enquanto não há solução à vista, o céu é a única possibilidade para os caricatos passageiros e tripulação. Todos ficam alterados pois começam a acreditar que estão a viver as últimas horas de vida. O desespero geral força-os a fazer confissões inesperadas sobre os seus pecados e sobre as suas últimas vontades.

Desde os primeiros momentos - onde Penélope Cruz e Antonio Banderas fazem as nossas delícias por uns minutos -, sabemos que vamos divertir-nos com este voo repleto de figuras hilariantes. Para além de uma espécie de nonsense que paira ao longo da acção, há muito sarcasmo por detrás das personagens e acontecimentos. Desde a virgem com poderes premonitórios, aos comissários de bordo homossexuais, ao actor quebra-corações, etc., certo é que muitos nos remetem para as suas próprias histórias paralelas, onde o sentimentalismo aparente não passa de ironia e crítica social. 


Desde a referência ao rei de Espanha e suas supostas amantes, aos passageiros da classe económica que foram "adormecidos" para não se darem conta dos problemas que acontecem durante o voo, muitas são as temáticas sérias subtilmente encaixadas num argumento que aparenta ser somente leve e divertido. E nem as redes sociais escapam à ironia de Pedro Almodóvar, com o twitter a entrar em cena bem cedo.

O álcool e as drogas contribuem para a animação que sobrevoa Espanha, onde não falta sequer música e dança, proporcionadas pelos três comissários de bordo. Todas as personagens cativam o espectador, pelas suas particularidades e pelas boas prestações por parte do elenco, onde se destaca Joserra, o comissário  de bordo que não consegue mentir, interpretado por Javier CámaraNorma Boss (Cecilia Roth), dona de uma empresa de prostituição de luxo, e Bruna, a virgem vidente, com um desempenho muito divertido de Lola Dueñas.

Leve, mas muito menos do que aparenta, Os Amantes Passageiros marca o regresso de Almodóvar às comédias - depois do registo pesado de A Pele Onde Eu Vivo -, mas provando que o cinema precisa de muito mais do que gargalhadas. Um filme que vai, certamente, dizer mais aos espanhóis, já que se debruça sobre a sua realidade, mas que será impossível passar despercebido ao resto do mundo. Para ver de mente aberta, com sentido de humor, mas também com atenção aos pormenores, desde o primeiro minuto.

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