O MOTELx começa já no dia 11 de Setembro e, aproveitando o momento, publico aqui as entrevistas que tenho realizado no âmbito do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, para o Espalha-Factos.
Para o Prémio Yorn MOTELx – Melhor Curta de Terror Portuguesa 2013, o único galardão do festival, estão a concorrer nove curtas-metragens nacionais: Bílis Negra, de Nuno Sá Pessoa, Desespero, de Rui Pilão, A Herdade dos Defuntos, de Patrick Mendes, Longe do Éden, de Carlos Amaral, Nico – A Revolta, de Paulo Araújo, O Coveiro, de André Gil Mata, Hair, de João Seiça, Monstro, de Alex Barone, e Sara, de Miguel Ângelo.
Entrevistei os nove realizadores, que apresentam os seus filmes, e falam sobre o actual estado do cinema português. Conhece agora André Gil Mata, realizador de O Coveiro.
De onde surgiu a ideia para O Coveiro, tão ligado ao culto popular?
André Gil Mata – Surgiu da vivência diária com duas crianças e do desejo de escrever um conto para elas. A ausência deles levou-me a decidir fazer um filme a partir desse conto.
Adolfo Luxúria Canibal é o narrador desta história. Como aconteceu esta colaboração?
AGM – A ideia de tentar que fosse o A.L.C. a fazer a narração nasceu naturalmente no processo. Não sei bem racionalizar o porquê dessa vontade. Há cerca de nove anos quando já parte do filme estava feito, escrevi-lhe por email e ele mostrou-se bastante disponível e gravámos a voz nessa altura. Foi uma colaboração muito tranquila em que ele se entregou bastante a este trabalho, pois creio que encontrou também uma relação própria com o filme e bastante entrega por parte de todos que estavam a trabalhar nele.
O Coveiro acontece num ambiente muito sombrio, mas, ao mesmo tempo, de grande simplicidade e esconde uma história de amor. O que pretendia trazer de novo ao cinema nacional com esta curta-metragem?
AGM – A ideia do filme era que ele tivesse esse lado um pouco "artesanal" e simples, que provém do conto de cordel, de um cinema de estúdio americano da Universal e do expressionismo alemão que me fascinava muito. Não pretendia sinceramente trazer algo "de novo" ao cinema nacional, nem nunca pensei num filme dessa forma. Acho que não há nada de novo, só distintas formas de ver o mesmo.
O filme foi rodado em 35mm, o que é cada vez mais raro nos dias de hoje. Qual a sua posição quanto a este assunto, que tanta discussão tem gerado pelo mundo fora?
AGM – O filme não foi rodado em 35mm. Já li isso algumas vezes e não entendo bem, pois é notório o digital no filme. Aliás o filme foi rodado em mini-DV, pois na altura não era comum o HD. A base do filme toda, incluindo as animações foi sempre 700 e não sei quê por 400 e tal. Depois sim, foi feita uma cópia em 35mm, e isso sempre foi pensado desde o início: que o formato de exibição seria 35mm, pois só assim conseguiríamos encontrar a imagem que procurávamos. Não tenho nada contra o digital, acho que é algo com um potencial enorme. Mas não entendo esta postura ditatorial em que nos encontramos agora. Em que os laboratórios não existem mais, em que não se entende que uma coisa é película e outra coisa é vídeo ou digital. Acho que é um pouco como na pintura. Não acho natural que só porque interessa financeiramente a certas marcas, alguém seja obrigado a pintar sempre a óleo porque decidiram que ganhavam mais se deixassem de comercializar a aguarela. Acho que deveria ser um não assunto, pois são duas formas que existem, vão continuar a existir, e co-existem bastante bem, até podem se complementar.
A curta-metragem parece, por vezes, lembrar as imagéticas góticas de Tim Burton ou das produções da Hammer Films. Foram inspirações para si? Que outras fontes inspiraram o produto final?
AGM – Directamente creio que me inspiraram mais os filmes da Universal e o expressionismo alemão, o Gorey, o E. A. Poe. Claro que, se pensamos, muita coisa nos inspira, e cresci apaixonado pela Winona Ryder no Eduardo Mãos de Tesoura. Mas nunca vi muitos filmes da Hammer.
Cativeiro, a sua primeira longa-metragem, tem vindo a somar vitórias, incluindo o prémio Doc Alliance 2013, em Cannes. Como classifica o estado do cinema português, actualmente, tendo em conta a crescente aclamação internacional, que contrasta com a falta de apoios ou mesmo com a presente situação da Cinemateca Portuguesa?
AGM – A situação parece-me terrível, pois coloca muita gente sem conseguir viver dignamente, e pessoas que já mostraram há muito a sua sensibilidade, a sua capacidade de trabalho, a maneira de encarar com positivismo e muita força certas contrariedades que o mundo hoje apresenta. Simultaneamente, invalida uma nova geração. Em relação à aclamação internacional de que se fala, eu acho um pouco exagerada e parece-me que estamos sempre a cair no eterno erro de necessitarmos de uma espécie de certificado exterior daquilo que fazemos. Por isso não sei se existe um contraste.
De onde surgiu a ideia para O Coveiro, tão ligado ao culto popular?
André Gil Mata – Surgiu da vivência diária com duas crianças e do desejo de escrever um conto para elas. A ausência deles levou-me a decidir fazer um filme a partir desse conto.
Adolfo Luxúria Canibal é o narrador desta história. Como aconteceu esta colaboração?
AGM – A ideia de tentar que fosse o A.L.C. a fazer a narração nasceu naturalmente no processo. Não sei bem racionalizar o porquê dessa vontade. Há cerca de nove anos quando já parte do filme estava feito, escrevi-lhe por email e ele mostrou-se bastante disponível e gravámos a voz nessa altura. Foi uma colaboração muito tranquila em que ele se entregou bastante a este trabalho, pois creio que encontrou também uma relação própria com o filme e bastante entrega por parte de todos que estavam a trabalhar nele.
O Coveiro acontece num ambiente muito sombrio, mas, ao mesmo tempo, de grande simplicidade e esconde uma história de amor. O que pretendia trazer de novo ao cinema nacional com esta curta-metragem?
AGM – A ideia do filme era que ele tivesse esse lado um pouco "artesanal" e simples, que provém do conto de cordel, de um cinema de estúdio americano da Universal e do expressionismo alemão que me fascinava muito. Não pretendia sinceramente trazer algo "de novo" ao cinema nacional, nem nunca pensei num filme dessa forma. Acho que não há nada de novo, só distintas formas de ver o mesmo.
O filme foi rodado em 35mm, o que é cada vez mais raro nos dias de hoje. Qual a sua posição quanto a este assunto, que tanta discussão tem gerado pelo mundo fora?
AGM – O filme não foi rodado em 35mm. Já li isso algumas vezes e não entendo bem, pois é notório o digital no filme. Aliás o filme foi rodado em mini-DV, pois na altura não era comum o HD. A base do filme toda, incluindo as animações foi sempre 700 e não sei quê por 400 e tal. Depois sim, foi feita uma cópia em 35mm, e isso sempre foi pensado desde o início: que o formato de exibição seria 35mm, pois só assim conseguiríamos encontrar a imagem que procurávamos. Não tenho nada contra o digital, acho que é algo com um potencial enorme. Mas não entendo esta postura ditatorial em que nos encontramos agora. Em que os laboratórios não existem mais, em que não se entende que uma coisa é película e outra coisa é vídeo ou digital. Acho que é um pouco como na pintura. Não acho natural que só porque interessa financeiramente a certas marcas, alguém seja obrigado a pintar sempre a óleo porque decidiram que ganhavam mais se deixassem de comercializar a aguarela. Acho que deveria ser um não assunto, pois são duas formas que existem, vão continuar a existir, e co-existem bastante bem, até podem se complementar.
A curta-metragem parece, por vezes, lembrar as imagéticas góticas de Tim Burton ou das produções da Hammer Films. Foram inspirações para si? Que outras fontes inspiraram o produto final?
AGM – Directamente creio que me inspiraram mais os filmes da Universal e o expressionismo alemão, o Gorey, o E. A. Poe. Claro que, se pensamos, muita coisa nos inspira, e cresci apaixonado pela Winona Ryder no Eduardo Mãos de Tesoura. Mas nunca vi muitos filmes da Hammer.
Cativeiro, a sua primeira longa-metragem, tem vindo a somar vitórias, incluindo o prémio Doc Alliance 2013, em Cannes. Como classifica o estado do cinema português, actualmente, tendo em conta a crescente aclamação internacional, que contrasta com a falta de apoios ou mesmo com a presente situação da Cinemateca Portuguesa?
AGM – A situação parece-me terrível, pois coloca muita gente sem conseguir viver dignamente, e pessoas que já mostraram há muito a sua sensibilidade, a sua capacidade de trabalho, a maneira de encarar com positivismo e muita força certas contrariedades que o mundo hoje apresenta. Simultaneamente, invalida uma nova geração. Em relação à aclamação internacional de que se fala, eu acho um pouco exagerada e parece-me que estamos sempre a cair no eterno erro de necessitarmos de uma espécie de certificado exterior daquilo que fazemos. Por isso não sei se existe um contraste.
Sem comentários:
Enviar um comentário