"Wouldst thou like to live deliciously?"Black Phillip
*9/10*
A Boca do Inferno do IndieLisboa'16 não se fez rogada e presenteou-nos com um dos filmes de terror mais falados dos últimos tempos: The Witch, de Robert Eggers. Perturbador, aterrador, incómodo, visceral, o filme traz-nos uma visão pouco comum do género, numa abordagem corajosa que junta a História e seus mitos e lendas, à bruxaria e satanismo.
Com esta primeira longa-metragem, Robert Eggers conquistou o prémio de melhor realizador no Festival de Sundance. O filme percorre os ecos da repressão puritana e das caças às bruxas na Nova Inglaterra no século XVII. Na década de 1630, William e Katherine vivem uma vida cristã e estável com os seus cinco filhos. Quando o mais novo, recém-nascido, desaparece, a família começa a desconjuntar-se e a debater-se entre histeria religiosa, magia negra, feitiçaria e possessão.
The Witch não é para os mais sensíveis, nem para os que só esperam sustos. É para os amantes do verdadeiro terror, aquele que não nos deixa nas horas e dias seguintes à sessão, que faz pensar, investigar, remoer. Robert Eggers criou um trabalho exigente, documentado, bem estudado. Cada um poderá interpretar o filme consoante as suas crenças, mas ninguém vai deixar de falar e pensar nele.
No seio do fanatismo religioso, onde o seguimento das escrituras bíblicas se confunde com o medo do Inferno, encontramos esta família, excluída da comunidade e enviada para um terreno isolado, junto à floresta. E com a solidão, o terreno infértil para o cultivo de milho e a escassez de alimentos, fenómenos bizarros começam a acontecer.
O argumento é imprevisível, sem medos, nem pudores. Ora, entre as bruxas e os demónios, os animais - eles que são a única companhia desta família - revelam-se de uma enorme importância para o desenrolar da narrativa.
A adensar todo o ambiente já de si desconfortável e inseguro de The Witch, a banda sonora de Mark Korven é brilhante, surge como representação do desespero das personagens, e quase nos coloca mais alerta do que as imagens. A câmara, o nosso olhar, percorre os terrenos desconhecidos e embrenha-se na floresta, ao lado das crianças e dos pais. Sabemos o mesmo que eles, vemos os mesmos fantasmas, delírios ou simples alucinações - somos os estranhos do futuro que mergulham num passado de tormenta.
A direcção de fotografia de Jarin Blaschke faz um excelente trabalho, quer nas sombras como no ambiente cinzento e enevoado. Ao mesmo tempo, tira excelente partido das cenas de violência ou nudez, com as cores a tornarem-se mais vivas, numa espécie de sugestão do pecado ou das tentações a que as personagens estão expostas.
The Witch vale ainda mais pelas interpretações, especialmente a da jovem Anya Taylor-Joy. Quase desconhecida do grande público, a jovem actriz revela um talento pouco comum. Como Thomasin, Anya mostra-se frágil e desamparada, confusa e amedrontada com os acontecimentos que a rodeiam e, ao mesmo tempo, fria e agressiva, conseguindo ainda assim conquistar totalmente a plateia.
Robert Eggers dá uma nova vida ao cinema de terror. Já tínhamos saudades que nos surpreendessem assim.
O argumento é imprevisível, sem medos, nem pudores. Ora, entre as bruxas e os demónios, os animais - eles que são a única companhia desta família - revelam-se de uma enorme importância para o desenrolar da narrativa.
A adensar todo o ambiente já de si desconfortável e inseguro de The Witch, a banda sonora de Mark Korven é brilhante, surge como representação do desespero das personagens, e quase nos coloca mais alerta do que as imagens. A câmara, o nosso olhar, percorre os terrenos desconhecidos e embrenha-se na floresta, ao lado das crianças e dos pais. Sabemos o mesmo que eles, vemos os mesmos fantasmas, delírios ou simples alucinações - somos os estranhos do futuro que mergulham num passado de tormenta.
A direcção de fotografia de Jarin Blaschke faz um excelente trabalho, quer nas sombras como no ambiente cinzento e enevoado. Ao mesmo tempo, tira excelente partido das cenas de violência ou nudez, com as cores a tornarem-se mais vivas, numa espécie de sugestão do pecado ou das tentações a que as personagens estão expostas.
The Witch vale ainda mais pelas interpretações, especialmente a da jovem Anya Taylor-Joy. Quase desconhecida do grande público, a jovem actriz revela um talento pouco comum. Como Thomasin, Anya mostra-se frágil e desamparada, confusa e amedrontada com os acontecimentos que a rodeiam e, ao mesmo tempo, fria e agressiva, conseguindo ainda assim conquistar totalmente a plateia.
Robert Eggers dá uma nova vida ao cinema de terror. Já tínhamos saudades que nos surpreendessem assim.
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