Gabriel chega aos cinemas portugueses esta Quinta-feira, dia 21 de Março. O Hoje Vi(vi) um Filme já viu e a crítica está publicada no blog. Ficámos curiosos e quisemos saber mais sobre todo o processo de criação deste filme sobre um jovem cabo-verdiano, recém-chegado a Lisboa, que procura o pai e vê no boxe uma forma de ajudá-lo e ligar-se a ele.
O realizador Nuno Bernardo respondeu a algumas perguntas do Hoje Vi(vi) um Filme sobre Gabriel, a sua primeira longa-metragem.
Gabriel é um filme atual, que vai muito para além do boxe. De onde surgiu a ideia de escrever e realizar um filme com esta temática?
Nuno Bernardo (NB): Em 2014 estava em Dublin realizar um documentário sobre Stand-Up Comedy e, para um dos segmentos desse documentário, decidiu-se gravar um pequeno combate de boxe, isto porque um dos comediantes era um lutador amador. Esta experiência – de filmar boxe – foi amor à primeira vista. Adorei conhecer o meio, as pessoas e acima de tudo os códigos de valor e ética que regem este desporto. Depois, em Portugal, fui contactando frequentemente com esta comunidade, assistindo a galas e combates, o que fizeram crescer este desejo de fazer um filme sobre boxe.
A violência das palavras funciona com uma naturalidade assustadora e condiz com a brutalidade dos vilões da história. Acha que é precisa coragem para filmar a violência com este realismo?
NB: Apesar de não ser um apaixonado pelo Boxe, sempre tive um interesse especial por filmes sobre este desporto. Mas as lutas de Gabriel, em especial a forma de as filmar, seguiram um padrão diferente. O meu foco foi sempre criar uma luta realista, que represente um pouco o mundo do boxe amador como o descobri em Portugal. Ou seja, não estamos a falar de um combate de 12 assaltos, realizado em Las Vegas, com 10.000 espectadores onde tudo é muito estilizado. Em Gabriel, procurei filmar o boxe de uma forma crua, mas real.
O racismo é um problema que persiste na actualidade e também é abordado em Gabriel. Quer despertar consciências, mudar mentalidades?
NB: As histórias que me dão prazer contar são as histórias que reflectem a vida como ela é, a atualidade, os problemas que nos afetam enquanto sociedade. Por isso Gabriel e esta história de imigração, de integração social, de chegada a um novo país e a uma nova vida. O meu objetivo é sempre contar uma boa história, uma história que não termine quando os créditos começam a passar no final do filme mas sim continue na memória de quem assistiu e gere discussões após sair da sala de cinema.
Como chegou a Igor Regalla para protagonista e como foi trabalhar com ele?
NB: Existiu um trabalho - em ligação com a produtora Sara Moita - de identificar atores portugueses que se enquadrassem nas personagens criadas. Na altura vimos vários showreels, ficção nacional e peças de teatro. A escolha do Igor vem de uma peça que vimos no Teatro São Luiz. A Ana Marta da sua carreira de um filme que tinha visto umas semanas antes em que ela participa. O José Condessa pela paixão que demonstrou no projeto quando reunimos com ele.
A câmara tem uma grande proximidade com as personagens e filma os combates com muita credibilidade. Como foi o desafio de filmar boxe?
NB: Existiu um intenso trabalho realizado com o coreógrafo e preparador de atores - David Chan - e com o Diretor de Fotografia, o Pedro Negrão, para passar o realismo para as cenas do combate de boxe. Eu não queria duplos, ou slow-motions, ou aqueles truques que vemos em filmes do género. Eu queria passar ao espetador a ideia de realismo e que aqueles combates são reais.
Foi o Igor que lhe deu a conhecer a música de Vado Más Ki Às, que participa com quatro temas na banda sonora de Gabriel (e faz até uma participação especial). Por coincidência a história do cantor tem algumas semelhanças com a do protagonista (também cresceu num bairro problemático). De que forma a música de Vado e de outros interpretes de hip hop influenciaram a produção do filme?
NB: Durante o processo de escrita e de pregação do filme eu ouvi muitas músicas do novo hip hop português. Cheguei a criar um playlist no Spotify que ouvia muitas vezes durante a escrita e reescrita do guião. Algumas dessas músicas foram mesmo usadas no filme. O Vado apenas conheci dois dias antes do início da rodagem - por isso a sua música não influenciou a preparação do filme, mas depois a fase de pós-produção.
Qual espera que seja a reacção do público português?
NB: Espero que vão ver cinema português, em especial Gabriel. Muitas vezes existe o preconceito contra o filme nacional. Mas Gabriel, como muitos outros filmes portugueses, contam histórias dos nossos locais, das nossas tradições e culturas, algo que nenhuma outra cinematografia faz. Só isso, justifica uma ida ao cinema. Mas Gabriel, espero, adiciona uma história atual, bons atores e a maior sequência de boxe alguma vez filmada em Portugal.
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