*8/10*
Tiago Hespanha regressa para surpreender. Campo é uma experiência que nos faz questionar o Mundo, e recebemo-lo de olhos bem abertos, sem saber se estamos preparados para todas as imagens e reflexões que vão surgir.
O realizador parte das origens da palavra campo, do latim capere (capturar). Nos arredores da Roma Antiga ficava o Campo de Marte, o terreno onde os soldados treinavam. Hoje, nos arredores de Lisboa, fica a maior base militar da Europa, o Campo de Tiro de Alcochete. Ali, inventam-se missões fictícias, enquanto astrónomos observam estrelas e um rapaz toca piano para veados que espreitam os homens à noite.
Narrado pelo realizador, Campo mune-se de citações de Carl Sagan, Alberto Caeiro ou Franz Kafka, por exemplo. Com as fronteiras entre realidade e ficção muito diluídas, Campo é uma docuficção, que incorre numa série de analogias e dicotomias. Vida e morte, Natureza, Deuses, Homens e Animais, guerra e paz, que se encontram claramente nas tão diversas actividades que acontecem no campo da acção.
A música do jovem pianista - qual banda sonora de Star Wars - é um dos muitos contrastes que encontramos em Campo, tal como o som dos pássaros, das ovelhas, dos treinos militares, dos tiros, das explosões, ou a tranquilidade da noite enquanto observamos as estrelas e planetas, e divagamos sobre a origem do universo. E é a partir do mito de Prometeu (ou Prometeus), que roubou o fogo aos deuses para dá-lo aos Homens, que Tiago Hespanha nos faz pensar. Eis a superioridade humana sobre animais e Natureza... mas será mesmo assim?
Campo é aliás uma divagação inquietante sobre a origem de tudo, desde a Terra ao engenho, com planos inesquecíveis, onde até sentimos as pedras que saltam após a força de uma explosão. Há planos onde o homem cai do céu, onde rebanhos surgem fantasmagóricos entre o nevoeiro serrado. Mais um excelente trabalho da direcção de fotografia no cinema português. Também o som tem uma função impactante e fulcral para sentirmos Campo na sua plenitude. A montagem faz-nos sonhar e imaginar para lá do que vemos.
Tiago Hespanha cria assim um filme quase existencialista e muito criativo, fazendo com que o espectador tenha um papel muito mais activo do que se espera numa experiência cinematográfica.
Campo faz parte da Competição Nacional do IndieLisboa'19.
Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
03/05/2019 - 21:45
Cinema São Jorge - Sala 3
04/05/2019 - 17:00
Tiago Hespanha cria assim um filme quase existencialista e muito criativo, fazendo com que o espectador tenha um papel muito mais activo do que se espera numa experiência cinematográfica.
Campo faz parte da Competição Nacional do IndieLisboa'19.
Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira
03/05/2019 - 21:45
Cinema São Jorge - Sala 3
04/05/2019 - 17:00
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