sábado, 11 de maio de 2019

IndieLisboa'19: I Do Not Care If We Go Down in History as Barbarians / Îmi este indiferent daca în istorie vom intra ca barbari (2018)

*7.5/10*


Como realizador, o estilo de Radu Jude é irresistível. Nos últimos anos, pega na história do seu país, encontra os momentos que mais o envergonham e conta-os, à sua maneira, mas sem omitir as atrocidades, para que a Roménia e o mundo saibam a verdade. E reflictam sobre ela, para que o mal não se repita.

O realizador romeno tem sido presença frequente no IndieLisboa e, nesta edição, podemos ver I Do Not Care If We Go Down in History as Barbarians, na secção Silvestre. Desta vez, o tema é a quota-parte de responsabilidade que a Roménia teve no Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.

"Eu não me importo se nós entrarmos na história como bárbaros" (a frase que dá título ao filme)  foi proferida no Conselho de Ministros antes do massacre cometido pelo exército romeno contra os judeus do país em 1941, numa tentativa de fazer uma limpeza étnica. No filme, a directora teatral Mariana (Ioana Iacob) pretende criar um espectáculo para relembrar os romenos destas tendências antissemitas que os seus antepassados demonstraram, durante a Segunda Guerra. A reconstituição histórica do massacre de Odessa, que muitos parecem ainda hoje negar que tenha acontecido é o foco das pesquisas de Mariana. Mas este espectáculo público tinha como objectivo ser uma homenagem à História da Roménia, e depressa surgem conflitos de interesse com as autoridades locais. Está lançado o desafio, tanto a Mariana como à plateia e os negacionistas vão surgindo, entre os actores e figurantes.


I Do Not Care If We Go Down in History as Barbarians é tão actual que assusta verificar que, passados 80 anos, há argumentos que ainda não mudaram. Radu Jude, através de Ioana Iacob, faz uma investigação exaustiva, entre textos sociológicos e históricos, filmes e fotografias, e, através do seu humor mordaz, quer acordar a civilização para a crueldade do Holocausto e mostrar que o passado não pode ser apagado.

Escutamos textos, vemos filmes, em longos planos que obrigam à atenção, mas são, ao mesmo tempo, sarcásticos. Somos obrigados a ver, ouvir e ponderar. Há imagens (reais) que nos tiram o sorriso que a cena anterior possa ter motivado. Imagens da morte. Querem melhor sinal de alerta?

Há longos planos sequência onde se debatem ideias e ideais e em que a câmara vagueia entre os ensaios junto ao Museu Militar. Apenas o quotidiano de Mariana, dominado por uma relação amorosa com pouco futuro, corta o ritmo à crítica político-social tão bem escrita e filmada.


Radu Jude não tem medo. Quer confrontar o seu país com a verdade da sua História. Afinal, todos temos os nossos monstros escondidos. É importante encará-los para nunca mais os repetirmos.

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O filme passou no dia 9 de Maio, no Cinema São Jorge, e volta a ser exibido no dia 12 de Maio, às 21h30, também no Cinema São Jorge.

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