*6/10*
Na secção Riscos do Doclisboa'19, encontrámos Serpentário, a primeira longa-metragem de Carlos Conceição, protagonizada por João Arrais. Serpentário segue um rapaz, que vagueia por uma paisagem africana pós-catástrofe, em busca do fantasma da sua mãe.
Através da câmara viajamos até África, entre memórias e tradições. Percorremos desertos, praias, cascatas, visitamos tribos ou casas abandonadas. Questiona-se a História de Portugal, com forte crítica aos Descobrimentos e colonização, ao mesmo tempo que se procura uma parte de si que o protagonista (e o realizador) deixou em terras africanas. Filmado em película 16mm e Super 8, ainda mais adensada fica a sensação de mito, quase sonho.
João Arrais assume a posição de guia, num papel desafiante também para si. O jovem actor já trabalhou com Carlos Conceição e incorpora a mensagem e a transcendência de Serpentário com a inocência no olhar, fortemente aliada à esperança de encontrar o que tanto procura - em especial, respostas. Entre ressentimentos, saudade e uma poética latente, tudo se traduz na memória da mãe, a última ligação que ainda o poderá unir ao Mundo imaginário do filme. A busca incessante exorciza os medos e é o motor que faz avançar o jovem protagonista.
A subjectividade de Serpentário, por vezes experimental, mas, principalmente, demasiado íntima, poderá também jogar contra o filme de Carlos Conceição. A exploração do tema prolonga-se em demasia (e perde-se, muitas vezes) mas culmina no encontro mais esperado - e, aí, não desilude.
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