domingo, 20 de outubro de 2019

Doclisboa'19: She / Sie (1970) + Who’s Afraid of the Bogeyman / Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann (1989)

O Doclisboa'19 assinala os 30 anos da queda do muro de Berlim, com a retrospectiva Ascensão e Queda do Muro - O Cinema da Alemanha de Leste. A Cinemateca é o principal palco de exibição destes filmes cuja visualização é uma oportunidade quase única. Na sessão das 19h00 de 19 de Outubro (repete no dia 23), o tema foi Mulheres Poderosas?, e foram exibidos dois filmes realizados por mulheres, sobre mulheres com poder: Sie (She), de Gitta Nickel, e Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann (Who’s Afraid of the Bogeyman), de Helke Misselwitz.

Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann, de Helke Misselwitz

Sie (She), Gitta Nickel - *8.5/10*

Sie traz-nos uma visão surpreendente das mulheres de um fábrica têxtil da Alemanha de Leste nos anos 70, que espelha a emancipação feminina no seu esplendor. Mulheres com ideias bem definidas, cultas e versáteis, com funções de chefia e capazes de planear a sua vida, trabalho e família. 

A realizadora Gitta Nickel coloca a sua câmara entre as conversas e faz entrevistas a uma médica jovem, trabalhadoras e gerentes de todas as idades, posições e contextos sociais da fábrica Treffmodelle. Expressam as suas preocupações pessoais e falam sobre relações, planeamento familiar e pílula contraceptiva, educar crianças e habilitações profissionais, direitos das mulheres e igualdade na sociedade (meritocrática) socialista.

Sie, de Gitta Nickel 
Um entusiasta elogio às mulheres da época na RDA.


Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann (Who’s Afraid of the Bogeyman), Helke Misselwitz - *7/10*

Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann (Who’s Afraid of the Bogeyman), da realizadora Helke Misselwitz, conduz-nos pelo quotidiano da empresa privada de transporte de carvão Prenzlauer Berg, na Alemanha Oriental, entre 1988 e 1989. Em vésperas da reunião do país, eis um registo de como se vivia à época, em especial naquela fábrica, gerida por uma mulher de pulso firme e sem papas na língua.

Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann, de Helke Misselwitz 
O trabalho físico e pesado cabe aos homens que fazem a entrega de carvão, cortam lenha, carregam e descarregam camiões, enquanto a gestão está nas mãos de uma patroa que, apesar de líder é compreensiva e nutre grande simpatia pelos empregados - e vice-versa, eles respeitam-na e admiram-na.

Nas conversas do quotidiano - em que nem a realizadora, nem a câmara parecem incomodar os intervenientes -, vamos conhecendo homens e mulheres, que desabafam sobre a sua vida pessoal ou conversam sem receios sobre o Muro de Berlim - e os seus dois lados -, casos de abuso de menores, prisão, morte, alcoolismo ou educação. Mal sabiam que o muro cairia dali a uns meses e a Alemanha voltaria a ser uma só.

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