O Doclisboa'19 assinala os 30 anos da queda do muro de Berlim, com a retrospectiva Ascensão e Queda do Muro - O Cinema da Alemanha de Leste. A Cinemateca é o principal palco de exibição destes filmes cuja visualização é uma oportunidade quase única. Na sessão das 19h00 de 19 de Outubro (repete no dia 23), o tema foi Mulheres Poderosas?, e foram exibidos dois filmes realizados por mulheres, sobre mulheres com poder: Sie (She), de Gitta Nickel, e Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann (Who’s Afraid of the Bogeyman), de Helke Misselwitz.
Sie (She), Gitta Nickel - *8.5/10*
Sie traz-nos uma visão surpreendente das mulheres de um fábrica têxtil da Alemanha de Leste nos anos 70, que espelha a emancipação feminina no seu esplendor. Mulheres com ideias bem definidas, cultas e versáteis, com funções de chefia e capazes de planear a sua vida, trabalho e família.
A realizadora Gitta Nickel coloca a sua câmara entre as conversas e faz entrevistas a uma médica jovem, trabalhadoras e gerentes de todas as idades, posições e contextos sociais da fábrica Treffmodelle. Expressam as suas preocupações pessoais e falam sobre relações, planeamento familiar e pílula contraceptiva, educar crianças e habilitações profissionais, direitos das mulheres e igualdade na sociedade (meritocrática) socialista.
Um entusiasta elogio às mulheres da época na RDA.
Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann (Who’s Afraid of the Bogeyman), Helke Misselwitz - *7/10*
Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann (Who’s Afraid of the Bogeyman), da realizadora Helke Misselwitz, conduz-nos pelo quotidiano da empresa privada de transporte de carvão Prenzlauer Berg, na Alemanha Oriental, entre 1988 e 1989. Em vésperas da reunião do país, eis um registo de como se vivia à época, em especial naquela fábrica, gerida por uma mulher de pulso firme e sem papas na língua.
O trabalho físico e pesado cabe aos homens que fazem a entrega de carvão, cortam lenha, carregam e descarregam camiões, enquanto a gestão está nas mãos de uma patroa que, apesar de líder é compreensiva e nutre grande simpatia pelos empregados - e vice-versa, eles respeitam-na e admiram-na.
Wer fürchtet sich vorm schwarzen Mann, de Helke Misselwitz |
Nas conversas do quotidiano - em que nem a realizadora, nem a câmara parecem incomodar os intervenientes -, vamos conhecendo homens e mulheres, que desabafam sobre a sua vida pessoal ou conversam sem receios sobre o Muro de Berlim - e os seus dois lados -, casos de abuso de menores, prisão, morte, alcoolismo ou educação. Mal sabiam que o muro cairia dali a uns meses e a Alemanha voltaria a ser uma só.
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