terça-feira, 2 de junho de 2020

Monstra 2020: Competição de Curtas 5 em Análise

Na quinta e última sessão da Competição de Curtas da Monstra 2020, vimos nove filmes. Irão, Estónia, Japão, Polónia, Áustria, Brasil são algumas das origens das curtas-metragens, numa selecção que conta com o português Purpleboy, de Alexandre Siqueira, sobre o qual escrevemos aqui.

Do Irão, Sou um Lobo? (Am I a Wolf?), de Amir Houshang Moein, é uma animação delicada, que cria um ambiente de fantasmagoria em redor da inocência das crianças, que "apresentam a história do lobo e dos cabritinhos num espectáculo de fantoches na escola. Como de costume, o lobo vence, mas... será que sim?"

Cosmonauta (Cosmonaut)
Cosmonauta (Cosmonaut), de Kaspar Jancis, leva-nos ao espaço com um astronauta, que recorda a sua juventude como se a continuasse a viver e a idade não tivesse passado. Uma curta-metragem tragicómica, com a demência a entristecer as memórias felizes do velho cosmonauta. Ele que "vive o mesmo tipo de vida que vivia durante a sua juventude na estação espacial, mas agora no seu apartamento de betão. Será este velho capaz de passar a viver sob as normas que regulam a sociedade?"

A cidade de Linz é-nos apresentada de um ponto de vista totalmente diferente na curta-metragem Prazer em Linz (Linz delights), de Maya Yonesho. Um filme curto que nos leva numa viagem bastante completa, "feito com 1368 pequenos desenhos guardados por uma pessoa, captados em Linz, com efeitos sonoros gravados em Linz." Este passeio liga-nos à cidade através de fotografias tiradas em diversos locais da cidade, onde o desenho se liga com a arquitectura e gastronomia, dando-lhe a sensação de movimento que o funde com a imagem real, de fundo.

A Última Ceia (Last supper)
Mais arrojada, a curta-metragem A Última Ceia (Last supper), de Piotr Dumała, coloca a famosa pintura bíblica numa carruagem de comboio e dá-lhe vida. Os Apóstolos entram num bailado, com sombras e luzes a acompanhar, numa coreografia ao ritmo de uma banda sonora sonante e envolvente. Todos dançam, à excepção de Jesus e Judas Iscariotes. Um bom e provocador trabalho do realizador.

Não Sei O Quê (Don’t Know What), de Thomas Renoldner, é um trabalho experimental onde animação propriamente dita não existe. Brinca-se com a imagem real e com os sons, usando diversos processos e criando quase um boneco da imagem do protagonista, mas não existe muito mais a retirar do filme. Este "filme avant-garde absurdo" é, acima de tudo, um exercício de estilo.

Medo (Fear)
Do Brasil, chega-nos Medo (Fear), de Luísa Bacelar, um trabalho bastante subjectivo e visualmente cativante, onde um cartaz nos anuncia: "tudo o que você quer está do outro lado do medo". Um aviso para as duas personagens, cujas realidades distintas "colidem e convergem numa mesma decisão, o que fazer agora? O medo da escolha vai resultar em diferentes consequências que não dependem somente da acção, mas também em qual universo esta é tomada".

Freeze frame, de Soetkin Verstegen, combina vários tipos de animação numa curta-metragem onde a estética é rainha. Cortadores e blocos de gelo, animais e cinema são os protagonistas de "Freeze frame: a técnica mais absurda desde a invenção da imagem em movimento".

Um dos melhores filmes desta sessão é A Minha Geração (My Generation), de Ludovic Houplain. Numa animação com muito detalhe e informação, é feita uma crítica feroz à espécie de fascismo cultural que vivemos na actualidade. Andamos em marcha atrás numa longa estrada, onde passam por nós, a alta velocidade elementos culturais, museus, marcas, redes sociais, Internet, desporto (nem o Cristiano Ronaldo falta), ídolos, religiões, seitas, pornografia, poder, Donald Trump e política. E que tal quebrar com toda a informação que nos entra pelos olhos, mesmo que não queiramos? É esta a principal mensagem desta provocadora e implacável curta-metragem. Diz-nos a sinopse: «Bob Iger, afirmou em tempos que “Hitler teria adorado redes sociais”. Estaria à vontade nos nossos tempos de "totalitarismo suave". E se pousássemos os nossos smartphones e abríssemos bem os nossos olhos?» Talvez seja um bom conselho a seguir.

A Minha Geração (My Generation)
Sou um Lobo? (Am I a Wolf?), de Amir Houshang Moein - 7/10
Cosmonauta (Cosmonaut), de Kaspar Jancis - 7/10
Prazer em Linz (Linz delights), de Maya Yonesho - 7/10
A Última Ceia (Last supper), de Piotr Dumała - 8/10
Não Sei O Quê (Don’t Know What), de Thomas Renoldner - 4/10
Medo (Fear), de Luísa Bacelar - 6/10
Purpleboy, de Alexandre Siqueira - 8.5/10
Freeze frame, de Soetkin Verstegen - 6.5/10
A Minha Geração (My Generation), de Ludovic Houplain - 8.5/10

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