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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

IndieLisboa'20: 28½ (2020), de Adriano Mendes

*8.5/10*


Depois de O Primeiro Verão, Adriano Mendes está de regresso ao IndieLisboa para apresentar a sua segunda longa-metragem, 28½.

Depois da descoberta do amor, em 2014, em 2020 a proposta é mais desafiante e reflexiva. Seguimos Teresa (Anabela Caetano), com quase 30 anos, que procura emprego. Depois de um dia difícil, tudo deverá parecer bem num jantar com estrangeiros que visitam Lisboa.

28½ é o espelho dos obstáculos e do desencanto que o fim da inocência - e da adolescência - traz a cada um. O foco é a protagonista Teresa e os desvios e desfoques que a vida leva, por vezes, e que as palavras não são suficientes para explicar. 


A idade do amadurecimento tem sido de estagnação para a geração que está entre os 20 e muitos e os 30 e poucos anos. A incerteza do futuro está espelhada nos olhos tristes e no ar pensativo que Anabela Caetano carrega. Uma interpretação que marca um crescimento imenso desde O Primeiro Verão até 28½ - o mesmo que se sente, inevitavelmente, relativamente ao cinema de Adriano Mendes, que se assume neste novo filme um realizador corajoso e com características muito próprias. A inocência ficou em 2014, mergulhando agora numa temática mais dura e melancólica. Contudo, o desespero e desencanto espelhado no rosto da protagonista tem rasgos de esperança no sorriso aberto e desafiador que por vezes lança a quem lhe faz frente. 

Num dia aparentemente normal, com uma entrevista de emprego, um treino de muay thai, um trabalho babysitting para uma amiga, tudo começa a correr pior quando o carro não pega. Tudo o que se segue provoca uma mistura de sentimentos e emoções em Teresa mas também na plateia, e transforma 28½ num filme com uma personalidade muito própria. 

Com dois momentos especialmente marcantes: a fabulosa cena no comboio - tão realista como inusitada -, que é, provavelmente, o melhor momento do filme; e o jantar com as visitas estrangeiras e a conversa de circunstância que aborda diversas problemáticas da cidade de Lisboa (a gentrificação e o turismo desenfreado) e da incerteza que se tem vivido nos últimos anos.


28½ tem uma aura que contagia, desperta e emociona. Não é mais um filme banal sobre os problemas dos jovens na cidade. É introspectivo e pro-activo e revela que Adriano Mendes está aqui para marcar a diferença e criar a sua visão, o seu cinema.

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