quinta-feira, 3 de setembro de 2020

IndieLisboa'20: Breve Miragem de Sol (2019), de Eryk Rocha

*6.5/10*


Os problemas sociais do Brasil são-nos mostrados ao volante de um táxi em Breve Miragem de Sol, de Eryk Rocha, que poderá lembrar o iraniano Táxi, de Jafar Panahi - onde o realizador é motorista de um táxi em Teerão, num falso documentário.

No filme brasileiro, a ficção comanda a narrativa mas o que vemos nas ruas e ouvimos nas conversas, dentro e fora do táxi, são um espelho da realidade brasileira, onde a precariedade laboral e a violência são uma constante.

"Paulo não consegue pagar a pensão de alimentos à ex-mulher. Para poder voltar a ver o filho, começa a trabalhar como taxista nas noites do Rio de Janeiro. Pelas janelas do carro, pelas histórias dos seus passageiros, começa a viagem e a autópsia a uma cidade, onde o sol já só chega por miragem. Existências nocturnas, sombras cansadas, solidão e silêncio que observam."


A "cidade maravilhosa" é-nos mostrada numa perspectiva que não é comum ver no ecrã: um lado nocturno do Rio de Janeiro, estrada fora, longe dos locais turísticos. Abundam a falta de trabalho e outros problemas sociais. O retrato de uma cidade desencantada.

O contexto sociopolítico que se vive em redor de Paulo (Fabrício Boliveira) e do país é-nos comunicado através das notícias no rádio do táxi, bem como nas comunicações entre taxistas. E num cenário desesperançado, o surgimento da enfermeira Karina (Bárbara Colen) na vida do protagonista vem trazer alguma luz às noites infinitas.


Breve Miragem de Sol distingue-se principalmente pelo trabalho visual, com a direcção de fotografia a oferecer-nos planos íntimos e claustrofóbicos, muitas vezes através do espelho retrovisor do táxi. Vemos a estrada através do vidro para-brisas, tal como Paulo a vê ao volante, noite dentro.

De destacar ainda, é a excelente interpretação do protagonista Fabrício Boliveira, comedida e realista, em que os olhos dizem tudo.

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