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quarta-feira, 2 de setembro de 2020

IndieLisboa'20: Fojos (2020), de Anabela Moreira e João Canijo

*7/10*


Fojos, de Anabela Moreira e João Canijo, é exibido nas Sessões Especiais do IndieLisboa 2020, e leva-nos numa viagem a Castro Laboreiro, Melgaço. Os realizadores filmam o envelhecimento, a relação com Natureza e a ligação ténue entre a vida e a morte. 

"Nos últimos anos, Anabela Moreira e João Canijo têm documentado, em várias obras, as terras do Norte e do centro português (Portugal – Um Dia de Cada Vez, 2015; Diário das Beiras, 2017). Este seu mais recente filme é rodado em Castro Laboreiro, terra mais a norte de Portugal, onde se observa o quotidiano dos seus habitantes e a presença ensombrada dos lobos que saem dos covis para atacar as suas presas. À terra chamam-lhe o buraco do fim do mundo."

O tom do documentário balança entre os momentos animados, de convívio e celebração da vida, e outros, mais sombrios, em que a morte e a solidão pairam pesadamente sobre as paisagens verdes e rochosas. A montagem confronta-nos com a mudança brusca de ambiente e provoca emoções contraditórias, que tornam marcante a experiência de visualização de Fojos.


O quotidiano com os animais, a venda ambulante que leva as mercearias à pequena aldeia, as tarefas da cura do presunto, toda a tradição da matança do porco, os jogos de cartas no café, as deslocações ao hospital, os momentos de alegria do centro de dia, o rejuvenescimento e multiculturalidade que a comunidade cigana vem trazer à região... os realizadores estão um pouco por todos estes locais, filmando o quotidiano da população. Não interferem, apenas registam.

E em redor da rotina da aldeia estão os lobos, que há tantos anos aterrorizam a população da zona, quais fantasmas nocturnos que não vemos, mas deixam pistas: para além dos fojos que dão título ao filme (as armadilhas em pedra que os antigos usavam para caçar os lobos), também as carcaças de animais que se encontram pelas serras.

Fojos confronta-nos com o envelhecimento, com a morte, mas igualmente com uma forma de viver diferente da que assistimos nas cidades, onde a tradição perdura e a alegria de viver se faz das pequenas coisas.

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