segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Crítica: Vivarium - A Tua Casa. Para Sempre (2019)

*7.5/10*

Vivarium - A Tua Casa. Para Sempre é um filme cínico e claustrofóbico, que toma proporções maiores na época em que vivemos. Lorcan Finnegan cria uma realidade aprisionada num labirinto sem fim, qual escape room.

"Tom (Jesse Eisenberg) e Gemma (Imogen Poots) são um jovem casal em busca de uma casa de sonho. Martin, um estranho agente imobiliário, sugere-lhes Yonder, um novo empreendimento que garante ter tudo o que estão à procura. O jovem casal decide visitar o local, Martin mostra-lhes a casa n.º 9 e desaparece. O casal vê-se preso num complicado labirinto feito de casas idênticas e quando finalmente percebem que o local não é nada do que imaginavam, já é tarde demais..."

Mesmo que a premissa possa não ser a mais original, Vivarium consegue criar uma atmosfera incómoda e aterradora. A primeira cena denuncia a história que vamos conhecer de seguida. A tensão e a incerteza que os protagonistas vivem e o mistério que os rodeia e do qual não conseguem fugir são outros elementos que distinguem a longa-metragem, tornando-a numa espécie de pesadelo cinematográfico.

Lorcan Finnegan constrói Vivarium - um título quase literal - com uma mecanicidade impressionante, e uma circularidade que vai para além da narrativa. Se Tom e Gemma se sentem perdidos no meio de um labirinto indecifrável e, com o passar do tempo, percorrem todas as possibilidades e pistas que lhes são possíveis, a plateia sentir-se-á invadida pela mesma vontade de se libertar da ansiedade provocada por esta criação claustrofóbica mas infinita. 

Toda a estética do filme se perpetua numa geometria que não admite desvios. As cores frias, as rotinas automáticas e toda a arquitectura do local são artificiais e idênticos a tudo o que mais existe neste empreendimento. Eis a família criada em "laboratório", sem interferências externas - ou quase. Uma experiência totalmente controlada - à excepção das emoções e reacções dos hóspedes e do espectador.

Contudo, muito para lá da claustrofobia, da relação do casal ou da construção de uma família, Vivarium é uma reformulação dos medos, que nem sabíamos que poderiam existir. Tudo em Yonder é automático, "extrahumano", conduzindo-nos por caminhos surreais onde muitas são as leituras possíveis.

Vivarium é perturbador e difícil de digerir pelos sentimentos que faz despertar. É menos inesperado do que parece, mas é também muito mais audaz e profundo, tal como as camada que contam a sua história.

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