segunda-feira, 12 de julho de 2021

Crítica: Visões do Império (2020)

*7.5/10*

Visões do Império, de Joana Pontes, é uma fascinante viagem aos arquivos coloniais, através de fotografias: sejam álbuns de família, imagens preservadas em arquivos ou fotos soltas, que se vendem em feiras de rua.

"Viagem colectiva ao passado colonial através de uma selecção de fotografias do império português, captadas desde os finais do século XIX até à Revolução de Abril de 1974, que pôs fim tanto ao regime político que governava Portugal, como ao estatuto colonial de vários territórios africanos que só em 1975, depois de uma longa guerra, se tornaram países independentes."

Partindo das suas vivências pessoais e fotografias da infância em Angola, a realizadora parte para a reflexão que deu origem ao documentário. O contexto é fundamental para qualquer imagem e Joana Pontes procura-o junto de investigadores - Filipa Lowndes Vicente e Miguel Bandeira Jerónimo são fundamentais para as descobertas e conclusões a retirar de Visões do Império - e arquivos.

Se Filipa nos guia aos locais onde se compram e vendem fotografias e postais e nos leva aos arquivos; com Miguel, tomamos consciência de um lado mais teórico: o da apropriação da fotografia "como instrumento político, propagandístico, documental e probatório". E entre estas descobertas, deparámo-nos ainda com a evolução das técnicas fotográficas, os materiais utilizados e a democratização da câmara fotográfica, responsável pelos milhões de registos, profissionais e amadores, daquela era.

O documentário de Joana Pontes revela o papel da fotografia como memória familiar, mas igualmente dos povos. Para além deste papel de arquivo histórico, carrega ainda o fardo da propaganda política, quando apenas revela um dos lados do confronto, ou, desacompanhado de contexto, pode transmitir ideias bem diferentes das que a imagem, por si só, sugere (é-nos dado o exemplo dos postais, cuja imagem ganha uma conotação reveladora de racismo e crueldade, após conhecermos o texto escrito no verso). Os rostos sem nome tem muito mais para contar do que a simples imagem pode sugerir.

Visões do Império confere à fotografia um lugar fundamental para construir o passado colonial, compreendê-lo entre as imagens chocantes de atrocidades e abusos, as fotos de família - e tantas outras que estarão por descobrir, em sótãos poeirentos à espera de serem (re)encontradas -, etnográficas ou puramente propagandísticas. A partir desta memória física, da sua preservação, investigação e debate, podemos, no Presente, proceder ao autoconhecimento da nossa História comum e construir um Futuro mais justo para todos. Porque é fundamental documentar e não deixar esquecer.

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