Da competição Novíssimos do IndieLisboa 2021, assistimos a Encontro Tardio, de Pedro Ramalhete; Ser, de Daniel Costa; A Triad of Paper Horns, de Patrícia Janeiro; Miraflores, de Rodrigo Braz Teixeira; e Se o que oiço é silêncio, de Rosa Vale Cardoso (os dois últimos vistos no contexto do Curtas Vila do Conde 2021).
Encontro Tardio, de Pedro Ramalhete
"Ele chega a casa de olhos em lágrimas. Ela faz o jantar sem fazer caso da distância que se criou. Mas não estão realmente prontos para desistir de a tentar colmatar. Talvez se encontrem a meio caminho."
Pedro Ramalhete faz um retrato de um casal em crise, uma relação em que faltam conversas mas há uma esperança no reencontro, mesmo que tardio, como anuncia o título da curta-metragem. Há uma poética a envolver as personagens de João Vicente e Bruna Quintas e os olhares dizem mais do que as palavras que o protagonista tem receio de dizer. A saudades, o amor e a esperança andam de mãos dadas.
Ser, de Daniel Costa
"Uma animação que mostra como um Ser, indistinto mas colorido, saiu de um poço para iniciar uma viagem sem um destino perceptível. Os cenários transformam-se e a trama adensa-se."
Uma garrafa "mágica", criatividade sem fim e uma apetência especial para a música são os principais elementos que constituem a existência deste Ser colorido que se vai construindo, passando por diversos locais e sendo confrontado por seres intimidantes. Daniel Costa cria uma curta-metragem cheia de tonalidades, texturas, cor e muito experimentalismo.
A Triad of Paper Horns, de Patrícia Janeiro
"Um filme que junta imagens de arquivo, digitais e de 16mm para construir uma viagem em torno de rituais, de sonhos eróticos e do som do papel a ser moldado."
Entre sonhos, recordações e relações, Patrícia Janeiro desenvolve A Triad of Paper Horns, uma curta-metragem experimental, extremamente sensorial, onde as texturas e os sons têm um lugar de destaque.
Miraflores, de Rodrigo Braz Teixeira *
Parcialmente em jeito de falso documentário - que conta sua "história" e apresenta quem por lá vive e trabalha -, Miraflores é um filme sobre um bairro e os seus jovens. Eles que passam os dias entre os locais mais icónicos da freguesia - as rotundas, os prédios altos, a piscina abandonada, a igreja desconcertante -, divertem-se e vivem as primeiras paixões. A cena final da curta-metragem de Rodrigo Braz Teixeira, sem dúvida o momento mais poético do filme, pode ser uma espécie de declaração de amor a uma pessoa, mas igualmente ao cenário dessa paixão.
* Excerto originalmente publicado em Curtas Vila do Conde 2021: Competição Nacional em análise (Parte III).
Se o que oiço é silêncio, de Rosa Vale Cardoso *
"Numa ilha grega, Nina viaja de carro com a mãe e o seu amigo Spiro até à casa dos avós, para uma reunião familiar. Ao longo da viagem, o silêncio entre filha e mãe denuncia um mal-estar e um distanciamento emocional que Spiro tenta atenuar com algumas brincadeiras e momentos de descompressão. Aos poucos, à medida que visitam lugares onde já tinham sido felizes antes, mãe e filha vão-se aproximando gradualmente. "
Se O Que Oiço é Silêncio, de Rosa Vale Cardoso, é uma conversa de olhares e sorrisos tímidos, entre encantadoras paisagens gregas. O ressentimento e ambiente pesado inicial dissipa-se no passar das horas, com a partilha dos mesmos espaços ou com o simples acto de observar e ser-se observado. O amigo Spiro é quem mais fala e o único capaz de desconstruir a tensão entre mãe e filha, mesmo sem se aperceber. Por muita que seja a importância das palavras, por vezes, devemos estar atentos ao tanto que nos dizem os silêncios.
*Excerto originalmente publicado em Curtas Vila do Conde 2021: Competição Nacional em análise (Parte I).
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