segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Crítica: Duna / Dune (2021)

"Dreams make good stories, but everything important happens when we're awake."
Duncan Idaho


*7.5/10*

Denis Villeneuve anuncia a chegada do Messias em Duna, um filme que serão dois, e no qual colocou toda a sua dedicação e esmero. Outros já tentaram a tarefa de transpor para cinema o inadaptável Dune, romance de Frank Herbert, sendo David Lynch quem tinha, até agora, chegado mais próximo do livro, com o mal-amado filme de 1984.

Villeneuve alcançou o estatuto necessário para pedir mais calma aos estúdios e o resultado é especialmente entusiasmante. Os acontecimentos são apresentados com clareza, bem como a história de Paul Atreides e do planeta Arrakis, seus habitantes e forasteiros. O realizador não mostra receios em avançar com Duna e está decidido a "preservar" a história original.

"No ano 10 191, numa sociedade feudal intergaláctica, em que casas nobres são responsáveis por planetas, a Casa Atreides aceita administrar o cobiçado planeta Arrakis, rico na especiaria Melange - uma substância capaz de desbloquear o potencial da humanidade. À medida que a família toma posse de Arrakis, as tensões entre casas desencadeiam uma batalha pelo controlo do planeta."


Começou a guerra santa, a guerra pelo poder, pelo recurso mais precioso do deserto de Arrakis - a especiaria. Semelhanças com o mundo real são mera coincidência, ou talvez não, já que estamos perante uma história de ficção científica, datada de 1965, mas tão actual como se tivesse sido escrita ontem.

A esperança que o resistente e explorado povo Fremen tem na chegada do Escolhido toma forma com a chegada de Paul Atreides ao planeta. As questões religiosas e sociopolíticas preenchem uma narrativa onde não faltam também lições de lealdade e até de ecologia. Perto do final de Duna, já na travessia do deserto, sente-se, contudo, algum arrastar da narrativa, como que em busca do momento certo para seguir rumo ao próximo filme. Contudo, a plateia já está conquistada.

Timotheé Chalamet surpreende num desempenho cheio de contenção e dignidade do protagonista Paul Atreids; Oscar Isaac é o exemplo de honra e compromisso na pele do Duque Leto; Rebecca Ferguson é a mulher apaixonada, capaz de ir contra as tradições do seu povo por amor, ao mesmo tempo que é a mãe guerreira que defenderá o filho com a vida, se necessário; Stellan Skarsgård encarna um Barão Vladimir Harkonnen muito mais sombrio e perverso que o retratado no filme de 1984; e Javier Bardem, como Stilgar, ainda com poucos minutos no ecrã, não deixa ninguém indiferente.


Hans Zimmer compôs uma banda sonora inesperadamente assombrosa - no melhor sentido possível -, que envolve mais ainda na tensão que se vive no ecrã. Destaque para o excelente trabalho da direcção de fotografia de Greig Fraser, onde o deserto assume tons sombrios e decadentes, longe das cores quentes a condizer com as elevadas temperaturas; ainda os efeitos especiais muito competentes e realistas; e uma direcção artística e guarda-roupa tão sóbrios como criativos, numa adaptação honrosa do universo de Frank Herbert.

Depois de Primeiro Encontro e Blade Runner 2049Denis Villeneuve assume a maturidade necessária na ficção científica para o desafio que é filmar Duna. Agora é aguardar mais uma inspiração profunda e fôlego suficiente para a conclusão épica deste clássico.

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