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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Crítica: A Filha Perdida / The Lost Daughter (2021)

"Is this going to pass?"

Nina


*8.5/10*

Maggie Gyllenhaal faz uma abordagem intrínseca e incomum da maternidade na sua longa-metragem de estreia como realizadora, A Filha Perdida (The Lost Daughter). Tendo por base o livro de Elena Ferrante, a realizadora faz uma desmistificação do papel de uma mãe, contra todos os preconceitos ou juízos de valor, numa obra íntima e intensa.

Leda Caruso (Olivia Colman) é uma professora universitária de férias, sozinha, na ilha grega de Spetses. O seu sossego é perturbado quando conhece Nina (Dakota Johnson), uma jovem mãe, e a sua grande família destabilizadora. Em Nina, Leda tem um encontro com o seu próprio passado enquanto jovem mãe (Jessie Buckley) de duas meninas.

Subtilmente, A Filha Perdida confronta a visão machista da sociedade, que insiste em manter a sobrecarga dos deveres da parentalidade na figura materna, e que nela coloca as responsabilidades e as críticas. Na sua aparente simplicidade, é uma obra desafiadora e empoderadora, potenciada pela abordagem feminista que Maggie Gyllenhaal utiliza. 

A boneca que a filha de Nina  traz consigo - semelhante à de Leda em criança - despoleta todas as memórias e inquietações da protagonista. E um acto inesperado vai desencadear nela um misto de emoções e lembranças, tonturas, sonolência e esquecimentos, para além de uma sensação de perseguição constante. O diagnóstico constrói-se à medida que a acção avança e, em flashbacks, são apresentados os dilemas e a história de uma Leda jovem e prometedora, que a levaram até onde está agora.

Olivia Colman entrega-se a Leda, dá-lhe a confiança da experiência de vida, pronta para enfrentar quem lhe faça frente, mas também revela fragilidade e desamparo, decorrente da obsessão que cria pela jovem mãe com quem partilha a praia. Também em destaque está a prestação de Jessie Buckley na pele de Leda enquanto jovem. Mais ingénua, dividida entre trabalho, tarefas domésticas e o cuidado das filhas, Leda experimenta a harmonia e o desespero. E num elenco de mulheres fortes, há um homem que se destaca: Lyle é uma espécie de espelho masculino de Leda, solitário e magoado, numa prestação sóbria e sentida de Ed Harris.

Muito para além da maternidade, A Filha Perdida é também sobre liberdade de escolha, emancipação, arrependimento e redenção. Sem julgamentos, Maggie Gyllenhaal solidariza-se com as Ledas da vida real, contra expectativas desiguais.

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