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quinta-feira, 9 de março de 2023

Crítica: A Voz das Mulheres / Women Talking (2022)

"Hope for the unknown is good. It is better than hatred of the familiar."

Ona

*8/10*

Em A Voz das Mulheres (Women Talking, no original), Sarah Polley criou um filme sobre o empoderamento feminino contra uma comunidade violenta e patriarcal. É inevitável vê-lo sem lembrar 12 Homens em Fúria, de Sidney Lumet. Só que, neste caso, a decisão de uma vida está nas mãos das Mulheres, as vítimas, reunidas num palheiro.

"Baseado no romance best-seller de Miriam Toews, A Voz das Mulheres retrata um grupo de mulheres que se encontram numa colónia religiosa isolada, enquanto lutam para reconciliar a sua fé com uma série de agressões sexuais cometidas pelos homens da colónia."

Sem luz eléctrica ou telefone, drogadas e violentadas anos a fio, privadas de aprender a ler ou escrever, tomadas como loucas, eis que chegou o dia em que a máscara dos homens começa a cair. Enquanto eles vão à polícia local, elas reúnem-se para decidir o que fazer a seguir: ficar e não fazer nada; ficar e lutar; ou ir embora da comunidade.

Estas mulheres podem não saber ler ou escrever mas são capazes de votar e de se unir para tomar uma decisão importante, esgrimindo argumentos a favor ou contra cada uma das opções. A Voz das Mulheres é a conquista deste empoderamento e da liberdade de escolha, mesmo no seio de uma comunidade patriarcal conservadora e extremamente religiosa.

A câmara de Polley envolve a plateia como parte da decisão, partilhando o espaço no palheiro, fitando, de rosto em rosto, quem apresenta os seus argumentos ou exprime emoções - ou apresentando, em flashbacks, o abuso que cada uma sofreu -, mas percorre igualmente os campos em volta e entra nas casas das protagonistas. A realizadora cria um ambiente de partilha de um segredo.

Neste filme, muito mais que as imagens, as palavras são tudo e também quem as diz: um elenco de mulheres talentosas, onde se destacam Claire Foy, Jesse BuckleySheila McCarthy.

Direcção artística e guarda-roupa cumprem bem o seu papel na representação de uma comunidade parada no espaço e no tempo, a par da discreta banda sonora, também da autoria de uma mulher, Hildur Guðnadóttir.

De tranças entrelaçadas ou de mãos dadas, partilham-se dilemas e o medo do desconhecido, mas todas sabem que urge tomar uma decisão. A Voz das Mulheres é todo sobre o futuro e uma intensa lição de união.

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