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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Crítica: Vadio (2022)

*5.5/10*

Duas famílias disfuncionais dão o mote para Vadio, a primeira longa-metragem de Simão Cayatte, autor de várias curtas-metragens como Menina e Miami.

"André tem 13 anos e vive isolado com o pai numa zona seca e remota do Alentejo, onde o ajuda com o seu negócio de perfuração de água em vez de ir à escola. Quando o pai desaparece subitamente, André bate à porta da única vizinha por perto, uma jovem mãe chamada Sandra. Nela reside a sua única esperança de encontrar o pai."

André trabalha com o pai e, nos tempos livres, faz música no seu tablet. Não parece dar-se com jovens da sua idade, surgindo como um outsider, juntamente com o pai, naquela terra, toda ela também tocada pelo isolamento e pela seca. Quando a violência lhe bate à porta, seguindo-se o desaparecimento do pai - aparentemente, envolvido num esquema de corrupção em redor do negócio da água -, André perde o norte. Ele não quer ir para uma instituição.

E é após o desaparecimento do pai de André, que as vidas difíceis de dois solitários se cruzam. André e a vizinha Sandra são duas personagens desamparadas que encontram algum tipo de companheirismo e consolo um no outro. Um filho que procura o pai, e uma mãe que luta para recuperar o emprego como professora e a guarda da filha - papéis opostos que se complementam. O som de uma televisão situa Vadio nos anos da Troika, em que Passos Coelho sugeria aos professores que emigrassem. Este registo temporal torna toda a história ainda mais dura: os problemas pessoais das personagens carregam também o peso da crise que atingia Portugal.

Joana Santos Rúben Simões funcionam bem no grande ecrã, e não são precisas muitas palavras para que se compreendam. A câmara de Cayatte, focada nos seus rostos e gestos, muito contribui para esse entendimento mútuo e para uma maior ligação à plateia.

A jornada que se avizinha é incerta e, a certo momento, protagonista e filme percebem não saber que rumo seguir. Neste aspecto, sente-se que Vadio poderia funcionar melhor em formato de curta-metragem - Simão Cayatte já mostrou que é capaz - ou apostar mais a fundo na narrativa.

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