quinta-feira, 22 de junho de 2023

Crítica: Cidade Rabat (2023)

*7/10*


Cidade Rabat, de Susana Nobre, é uma tragicomédia sobre o processo do luto e como cada um o experimenta de formas tão distintas.

"Helena tem 40 anos e uma filha com 12 anos chamada Maria com quem vive, em semanas alternadas com o pai. Helena trabalha como produtora de cinema e sente-se reprimida pelo quotidiano burocrático das suas funções. Após a morte da mãe, Helena é atingida por um sentimento de orfandade enegrecido pela morbidez que a envolveu nos últimos tempos. Esse olhar tocado pelas misérias e tristezas do mundo, na equidistância em que se encontra entre o princípio e o fim da vida, provocam em Helena o despertar de uma segunda adolescência."


Helena
- um belíssimo desempenho de Raquel Castro - é uma mulher recatada, de poucas palavras, que expressa pouco o que sente e passa os dias entre o trabalho como produtora, as visitas à mãe idosa (que rasga fotografias como quem quer eliminar o Passado) e a convivência, nem sempre fácil, com a filha adolescente. É após a morte da mãe que, contrariando a tristeza que sente, ganha um espírito mais aventureiro e desafiador, mas vê, inicialmente, a bebida como principal aliada. É como se, nos primeiros dias, a protagonista vivesse numa dualidade entre a melancólica noção de finitude e a constatação de que tem de aproveitar a vida ao máximo.

Local de rodagens e de muito trabalho durante o dia, o bairro da Estrada Militar, na Reboleira (que tem sido tantas vezes filmado por Basil da Cunha, e que Cidade Rabat reencontra algumas caras conhecidas dos filmes do realizador luso-suíço) surge como refúgio nocturno para Helena durante uma festa com muita música, dança e bebida, quase uma realidade paralela de fuga à realidade e à dor. E é durante essa noite que a vida de Helena sofre uma reviravolta, em jeito de ensinamento.


O que se segue é uma reconciliação consigo mesma e com quem a rodeia. Helena desaba e reergue-se, criando e reforçando laços, e usa o luto para se reconstruir. Cidade Rabat segue de perto os altos e baixos destes dias da vida de Helena, sempre com um humor subtil - por vezes envergonhado - a acompanhar os percalços e tristezas que sucedem.

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