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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Crítica: Maestro (2023)

"If the summer doesn't sing in you, then nothing sings in you. And if nothing sings in you, then you can't make music."
Felicia


*9/10*

Maestro é um filme grandioso, a todos os níveis, revelando um Bradley Cooper maduro, que respira verdadeiramente cinema, dos dois lados da câmara. Um retrato comovente, empolgante e sem preconceitos de Leonard Bernstein e da sua companheira de vida, a actriz Felicia Montealegre Cohn Bernstein.

"Da sua paixão pela música até à fama como o primeiro maestro americano de renome mundial, seguindo sempre a sua ambição de compor tanto obras sinfónicas como populares musicais da Broadway", o filme acompanha as várias fases da vida de Bernstein e a sua relação com os que o rodeavam, em especial com a esposa Felicia.


Se dúvidas houvesse, depois de Assim Nasce uma Estrela (2018), Maestro fá-las dissipar e é a prova da emancipação de Bradley Cooper enquanto actor e realizador. O filme resulta de seis anos de preparação, tanto para interpretar Leonard Bernstein, como a pensar o filme, plano a plano. Este empenho e coragem sentem-se a cada cena, a cada linha de diálogo.

Com um início que deambula entre a realidade e os sonhos, onde a montagem sugere a magia da imaginação e as ambições que se concretizam mais depressa do que se espera, é aqui que as vidas de Lenny e Felicia se encontram e unem (apesar das relações extraconjugais pouco discretas que Bernstein teve ao longo do tempo). A vida avança e as carreiras dos dois seguem o seu caminho, sendo que Felicia adia os seus objectivos para ficar na sombra do marido, a apoiá-lo e incentivá-lo, chamá-lo à realidade quando o sucesso o tenta com excessos e vícios. Descurando a família, o maestro vive tudo tão intensamente que perde, por vezes, a razão de ser da sua obra. Até que Felicia regressa no momento certo, ela também novamente em ascensão, e o casal se reencontra na doença e no conforto e, desta vez, é ele quem passa a viver para ela.


E se Carey Mulligan está irrepreensível como Felicia Montealegre, artista que estudou afincadamente e que nem o característico sotaque descurou; Bradley Cooper desaparece enquanto Leonard Bernstein - e não é só graças à fantástica caracterização e próteses que usou, para interpretar o maestro em diversas fases da vida. Cooper alterou a voz, aprendeu a conduzir orquestras e a movimentar-se com o mesmo entusiasmo em palco que Bernstein, apreendeu gestos e expressões e o resultado é arrepiante.

Também de destacar, é a gloriosa direcção de fotografia que tira o melhor proveito da película (35mm, a preto e branco e a cores e com diferentes formatos, consoante a época dos acontecimentos), e esconde em si pequenos detalhes que ajudam a construir a personalidade das personagens. Ao mesmo tempo, é capaz de planos avassaladores, como é o caso do concerto na Ely Cathedral - momento de tirar o fôlego - em que é o próprio Bradley Cooper quem conduz a London Symphony Orchestra, numa cena que foi gravada ao vivo.


Maestro tem o dom de causar os sentimentos mais fortes e antagónicos na plateia, indo do delírio do sucesso à mais profunda tristeza. E, mais do que uma marcante experiência cinematográfica, o filme de Bradley Cooper é um retrato realista e comovente da relação entre dois artistas - tão diferentes, mas que se complementaram de forma tão humana. 

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