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quinta-feira, 10 de abril de 2014

FESTin'14: Vencedores

Terminou mais uma edição do FESTin - Festival de Cinema Itinerante de Língua Portuguesa e foram esta noite conhecidos os vencedores.


No prémio para Melhor Longa-metragem, o júri escolheu  Cores, de Francisco Garcia (Brasil), e concedeu ainda uma menção honrosa a Impunidades Criminosas, de Sol de Carvalho (Moçambique). Já a preferência do público recaiu sobre Serra Pelada, de Heitor Dhalia (Brasil).

Nas curtas-metragens, os jurados escolheram Acalanto, de Arturo Sabóia (Brasil), concedendo ainda uma menção honrosa a Leve-me P'ra Sair, de José Agripino do Coletivo Lumika (Brasil). Nesta categoria, o público escolheu a curta-metragem Perto, de José Retré (Portugal).

Quanto aos documentários, o júri premiou De Armas e Bagagens, de Ana Delgado Martins (Portugal). Já o público elegeu Azul Alvim, de José Paulo Valente (Portugal).

O prémio para Melhor Realizador foi entregue a Francisco Garcia (Brasil), Simone Iliescu foi considerada a Melhor Actriz pelo seu desempenho no filme Cores, e Juliano Cazarré venceu o prémio para Melhor Actor no filme Serra Pelada.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

FESTin'14: A Arte de interpretar – A saga da novela Roque Santeiro (2012)

*8.5/10*

O FESTin'14 encerra hoje mais uma edição. Um dos grandes momentos do festival este ano aconteceu na passada Segunda-feira, dia 7, com a Sala Manoel de Oliveira quase cheia. Tudo para ver A Arte de interpretar – A saga da novela Roque Santeiro, de Lúcia Abreu, que marcou presença na sessão acompanhada pela actriz Regina Duarte, uma das presenças mais esperadas do FESTin

Antes da projecção do filme actriz e realizadora mostraram-se emocionadas pela recente perda do actor José Wilker, um dos grandes apoiantes da ideia de Lúcia Abreu em concretizar este documentário. O FESTin preparou ainda uma sentida homenagem ao actor de Roque Santeiro.

Lúcia Abreu e Regina Duarte

A Arte de interpretar – A saga da novela Roque Santeiro retrata o percurso da novela desde a sua primeira versão, censurada em 1975, até o grande sucesso ocorrido em 1985, mostrando os bastidores e a história não contada. Trata-se de um documento de uma parte da história da cultura do Brasil que se desconhece, até agora. Pela primeira vez, o cinema documenta a maior paixão brasileira: a novela.

Lúcia Abreu traz-nos um documentário ritmado e dinâmico, que recorre a depoimentos de actores e membros da produção da novela Roque Santeiro, imagens de arquivo, e mesmo divertidos cartoons que exemplificam algumas das situações relatadas, criando uma obra que desconstrói toda a história da novela que veio alterar a televisão brasileira. Tal como o cineasta Luiz Carlos Barreto refere a certo momento do documentário: "A novela Roque Santeiro teve para a televisão a mesma importância que o Cinema Novo teve para o Cinema Brasileiro". Lúcia Abreu documenta estes acontecimentos com consistência, humor e muito trabalho de investigação.

Regina Duarte, Lima Duarte, Betty Faria, José Wilker, Boni, Aguinaldo Silva, Dias Gomes, Marcos Paulo, Paulo Ubiratan, Tony Tornado, Luiz Carlos Barreto, Eduardo Figueira, Mariozinho Rocha, Mauro Alencar ou Ana Maria Magalhães são alguns dos nomes que contribuem com o seu testemunho para que A Arte de interpretar – A saga da novela Roque Santeiro tenha um resultado tão competente e construtivo, capaz de reavivar a paixão por uma das maiores (senão mesmo a maior) novelas brasileiras.

FESTin'14: Maratona de Documentários - Curtas-metragens


Esta segunda-feira, dia 7 de Abril, o Hoje Vi(vi) um Filme marcou presença na Maratona de Documentário de Curta-metragem. Na sessão, foram exibidos os seguintes títulos: As Vozes que Ouvi, de Antonio Almeida, Edison Larronda, Tom Peres e Paulo Renato PinheiroCape Verde Independence July 5th and 6th, de Anthony D. RamosUma voz timorense em Brasília, de Denilson Félix, e Cova da Moura - Portugal ou Cabo Verde, de Paulo Cabral (os dois últimos realizadores marcaram presença na sessão).

Cova da Moura - Portugal ou Cabo Verde - 8/10

Cova da Moura, Portugal ou Cabo Verde?, de Paulo Cabral, tem como tema central a condição social cabo-verdiana na Cova da Moura, um bairro da grande Lisboa cuja população é maioritariamente composta por imigrantes. O documentário pretende abordar a origem, evolução, situação actual do bairro, bem como a relação dos habitantes com o bairro e com a PSP, a relação intercultural dos seus habitantes e as vantagens e os inconvenientes da imigração.

Em apenas 36 minutos, Paulo Cabral consegue desmistificar o que se sabe ou supõe saber sobre o bairro da Cova da Moura, falando com os habitantes, portugueses e cabo-verdianos, e com quem ali trabalha, apresenta-nos as associações que lá operam e conta-nos a História deste bairro. Reúnem-se opiniões que apontam o que está mal e devia mudar na Cova da Moura, mas não faltam também as boas experiências e os pontos fortes do bairro, que conta até com um programa de turismo. Cova da Moura - Portugal ou Cabo Verde convida à reflexão da plateia, e introduz as personagens e histórias com ritmo, cor e música, onde até as legendas nos são apresentadas de forma muito original.

As Vozes que Ouvi - 7/10

A partir de diversas histórias que se formaram em torno da criação e do desenvolvimento da rádio em Bagé, Rio Grande do Sul, desenvolve-se o documentário As Vozes que Ouvi. Os entrevistados são alguns dos locutores que marcaram a História da rádio na cidade.

A curta-metragem traz-nos curiosos depoimentos dos radialistas dos grandes tempos da rádio em Bagé. O tom descontraído conquista facilmente o espectador, que se irá divertir com as aventuras e peripécias que nos contam, e com os momentos que mais marcaram estes locutores. As Vozes que Ouvi tem ritmo e mantém aceso o interesse da plateia.

Uma Voz Timorense em Brasília - 6/10

Em 2008, a República Democrática de Timor-Leste abriu a sua embaixada na capital brasileira. Uma Voz Timorense em Brasília , de Denilson Félix, conta-nos brevemente alguns acontecimentos marcantes da História de Timor, a partir de uma conversa com Domingos de Sousa, o embaixador de Timor em Brasília. Participante da resistência timorense, Domingos de Sousa dedica-se à preservação da memória daquele período até aos dias de hoje, tendo publicado quatro livros.

Há poucos filmes que nos falem sobre Timor, e, relativamente a esse ponto, Uma Voz Timorense em Brasília destaca-se pela positiva. A curta-metragem dá-nos a conhecer a História timorense, que é contada por quem viveu parte dela. Um relato curioso, mas que precisaria de uma montagem mais dinâmica que alternasse, por exemplo, com imagens de arquivo, para que o espectador não perca o interesse na conversa.

Cape Verde Independence July 5th and 6th - 5.5/10

Cape Verde Independence July 5th and 6th é uma curta-metragem documental constituída a partir de imagens de arquivo de Anthony D. Ramos filmadas em Cabo Verde nos dois primeiros dias da independência do país, após 500 anos de domínio colonial.

Num primeiro momento, observamos a alegria nas ruas, os gritos de liberdade do povo, as crianças que cantam, os carros que buzinam, em tom de festejo. Num segundo momento, vemos uma série de efusivos discursos dos grandes dirigentes e responsáveis pela independência de Cabo Verde, que evocam o nome de Amílcar Cabral, e de outros líderes, sempre muito aplaudidos pelo povo. Cape Verde Independence July 5th and 6th documenta bem os primeiros dias da independência, em 1975, mas sente-se a falta de um ritmo mais constante, que poderia ser melhorado com a introdução de testemunhos da população.

terça-feira, 8 de abril de 2014

FEST'in'14: Uma História de Amor e Fúria / Rio 2096: A Story of Love and Fury (2013)


*7/10*

A animação brasileira Uma História de Amor e Fúria foi um dos destaques da programação do FESTin'14 no passado Domingo, dia 6 de Abril. 

A longa-metragem de Luiz Bolognesi acompanha a História do Brasil, ao mesmo tempo que retrata o amor entre um herói imortal e Janaína, a mulher por quem é apaixonado há 600 anos. São quatro as fases da história do Brasil em destaque: a colonização, a escravatura, o Regime Militar e o futuro, em 2096, quando haverá guerra pela água. 


Os nomes de Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro nas vozes da dobragem de Uma História de Amor e Fúria são desde logo um bom motivo para ver o filme. Aliada a esse pormenor, a história é forte e desafiadora e o resultado é interessante.

A História do Brasil é-nos apresentada de forma original, e em jeito de crítica social, com um tom provocatório ou de alerta. Um retrato cheio de força - e de fúria - de um povo que, apesar de todas as dificuldades, nunca baixa os braços e vai à luta. À componente histórica, Bolognesi adiciona uma visão futurista muito negativa e depressiva, em jeito de aviso, para que se possam evitar males maiores no futuro.

É feita uma forte crítica à brutalidade da colonização portuguesa, relata-se a revolta da Balaiada em Caxias, revisita-se a ditadura militar - a tortura, as perseguições e as mortes -, e mesmo a realidade das favelas - cuidadosamente desenhadas, ao detalhe - até chegarmos à distopia futura. Muitas são as guerras e batalhas que o nosso protagonista vive ao longo de 600 anos, sempre acompanhado do mesmo grande amor, que parece não querer vingar.


Apesar da originalidade e da forte componente histórica que carrega em si, Uma História de Amor e Fúria não é tão empolgante e eficaz como se poderia esperar, talvez devido à constante e fantástica "reencarnação" do casal protagonista.

A animação é simples, repleta de cores quentes (que começam a tornar-se gradualmente mais escuras e frias, à medida que o presente e futuro se aproximam), e não esconde a tragédia, a brutalidade ou o sangue. Contudo, não se distingue especialmente no mundo da animação, atingindo, todavia, o seu melhor na idealização da sociedade futurista distópica.


Uma História de Amor e Fúria é essencialmente uma curiosa e frontal história de amor que percorre - e conta - a História do Brasil, concretizada de forma muito original.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

FESTin'14: Competição de Curtas-Metragens #3


Este Sábado, dia 5 de Abril, teve lugar no FESTin'14 a quarta e última sessão de curtas-metragens em competição, e o Hoje Vi(vi) um Filme esteve lá. Em análise, desta vez, estão os seguintes títulos: Acalanto, de Arturo Sabóia, Amor Proibido, de Maciel BrumEroticon, de Ernesto PintoKali, o pequeno vampiro, de Regina Pessoa, e Satúrnica, de César Netto.

Acalanto - 8/10

Acalanto, de Arturo Sabóia, chega-nos do Brasil, e traz-nos uma adaptação do conto A Carta, do escritor moçambicano Mia Couto. Luzia (Léa Garcia), uma senhora analfabeta, procura amenizar a saudade do seu filho ao solicitar a um conhecido (Luiz Carlos Vasconcelos) para que leia diversas vezes a mesma velha e única carta por ele enviada há dez anos. Através dessas leituras, uma bonita amizade é criada entre os dois.

Enternecedor, Acalanto balança entre a saudade, a tristeza e a esperança de uma mãe, perdida num desespero conformado por novidades do filho. O conhecido a quem pede ajuda, após o espanto inicial de, todos os dias, Luzia lhe bater à porta para que ele lhe leia a mesma carta, cria com ela uma relação de carinho e preocupação, quase se transformando ele no seu filho. Aquela rotina que se cria entre os dois, alimenta a esperança e a imaginação. Uma curta-metragem com uma história comovente, onde também as cores quentes e os bonitos planos contribuem para o envolvimento da plateia.

Satúrnica - 8/10

Do Brasil, Satúrnica, de César Netto, chegou para surpreender. Ana é uma jovem que oculta uma estranha compulsão, que descobre ainda em criança. A mania cresce juntamente com o seu desejo, passando pelas fases de descoberta, euforia e sofrimento.

César Netto construiu uma curta-metragem muito original e delicada. Esta mulher, com um vício muito estranho - o de comer anéis -, alimenta a sua fixação através de comportamentos inesperados e, tal como os seus amigos e conhecidos, vamos ter de nos esforçar para a compreender ou aceitar. O realizador oferece-nos bonitos planos que juntam a Ana do passado e do presente, num tom mais introspectivo. Satúrnica é eficaz desde o alusivo título, e constrói-se de forma brilhante - onde humor e drama não faltam -, até ao inesperado final.

Kali, o pequeno vampiro - 7.5/10

A animação premiada de Regina PessoaKali, o Pequeno Vampiro (que faz igualmente parte da Mostra País Convidado: França), conta a história de um rapaz diferente dos outros, que sonha encontrar o seu lugar ao sol. Tal como a lua passa por diferentes fases, também o Kali tem de enfrentar os seus medos e demónios interiores para, no final, encontrar a passagem para a luz. Um dia ele vai desaparecer… ou talvez seja apenas mais uma fase de mudança.

O traço típico de Regina Pessoa está bem marcado em Kali, o Pequeno Vampiro, que se traduz numa história doce, mas com o toque obscuro que a caracteriza. O protagonista conquista o espectador, ele que simplesmente quer ser igual aos outros - mas é um vampiro. Na bonita animação, sobressaem as cores maioritariamente escuras, mas onde, naturalmente, o vermelho se destaca. A narração de Fernando Lopes deixa saudades.

Amor Proibido - 2/10

Em Amor Proibido, de Maciel Brum, conhecemos a história de Paulo, gay não assumido, que divide o apartamento com o amigo heterossexual Daniel. Paulo apaixona-se por Daniel, que, revoltado e surpreso ao descobrir a sexualidade do amigo, acaba por se afastar dele. Triste e magoado, Paulo resolve desabafar com sua melhor amiga Marina, que, sem saber que Paulo é gay, cultiva uma paixão por ele.

Amor Proibido quer chamar a atenção para o preconceito e vingança, mas não se foca nos verdadeiros problemas que poderia abordar relativamente a esta temática homossexual. A história é má e previsível, com um forte tom de novela de má qualidade. As interpretações são, na sua maioria, forçadas, amparadas por diálogos fracos. 

Eroticon 2/10

Não é todos os dias que a cidade do Porto serve de palco a uma curta-metragem - que filma a cidade como bilhete postal - e, neste aspecto, Eroticon distingue-se. No filme, Diana é uma repórter que investiga uma serie de estranhos relatos de encontros sexuais nas ruas da cidade. Percebe, no entanto, que algo mais se passa.

Apesar das bonitas imagens da Invicta, a história de Eroticon apresenta-nos um futuro mal construído e confuso, que não prende o espectador - que se sentirá cansado -, ao mergulhar numa história que parece não ter pés nem cabeça. Os diálogos rebuscados e pouco naturais também não ajudam a curta-metragem de Ernesto Pinto. A narração não soa bem ao espectador: quer explicar tudo, mas não chega a dizer nada, tornando-se quase dispensável, pelo menos na quantidade exagerada em que é utilizada. Eroticon precisava, acima de tudo, de um rumo para funcionar.

sábado, 5 de abril de 2014

FESTin'14: Competição de Curtas-Metragens #2


O FESTin continua a trazer-nos muito cinema. Em análise, desta vez, estão as seguintes curtas-metragens em competição: A Cor dos Sonhos, de João Pina, Bué Sabi, de Patrícia Vidal Delgado, Leve-me p'ra sair, de José Agripino (Coletivo Lumika), Luís, de João Lopes, e O Pacote, de Rafael Aidar - todas elas integram a sessão de Competição de Curtas-metragens 3.

Bué Sabi - 8/10

Bué Sabi, de Patrícia Vidal Delgado, é uma lufada de ar fresco e tem tudo para ser uma longa-metragem. Aliás, quando termina, o espectador sente que veria muito mais para lá dos 20 minutos da curta-metragem de estreia da realizadora. Bué Sabi retrata a amizade entre três personagens femininas: Dana, uma cigana que mora na Buraca, Isa, a sua melhor amiga cabo-verdiana, e Carolina, uma jovem de classe média-alta. Apesar dos diferentes estatutos sociais, as três criam uma amizade livre de preconceitos, até que uma noite fatídica põe tudo em causa.

Bué Sabi consegue assumir uma identidade muito própria, que vai para além de clichés e ideias preconcebidas. Temos três protagonistas com garra - de onde se destaca Inês Worm-Tirone na pele de Dana, com um bom desempenho - e uma forte amizade que, dadas as culturas e níveis sociais tão diferentes de cada uma das jovens, poderia dar ainda mais história. Patrícia Vidal Delgado oferece-nos um filme com um ritmo fluído e entusiasmante, de cores quentes que combinam com a animação e forte personalidade das protagonistas, com momentos de humor bem conseguido, e onde nem as cenas de acção faltam.

Leve-me p’ra sair - 7/10

Do Brasil, o documentário Leve-me p'ra sair, de José Agripino (do Coletivo Lumika), traz-nos uma entrevista a um grupo de adolescentes homossexuais da cidade de São Paulo, que partilham com o espectador as suas visões do mundo, sem papas na língua.

Uma ideia que pretende ser desmistificadora para a sociedade, Leve-me p'ra sair ganha pelo tom natural e cheio de cor e, ao mesmo tempo, por colocar questões certeiras. Contudo, a curta-metragem sai a perder pelo âmbito do grupo de entrevistados - todos notoriamente da mesma classe social e idade- e pelo tom demasiado positivo, onde escasseiam as experiências negativas dos adolescentes.

O Pacote - 6.5/10

Mais um título brasileiro que nos traz uma temática gay, muito bem delineada, com o mistério a perdurar até perto do final. O Pacote, de Rafael Aidar, aborda uma temática difícil e dá-nos a conhecer Leandro e Jefferson que, mal se conhecem na escolha, tem uma ligação instantânea e logo percebem que não se trata de uma amizade comum. Mas Jefferson tem algo a dizer. Se quiserem ficar juntos, Leandro deverá lidar com algo irreversível.

O desenrolar da relação entre os dois amigos é interessante de acompanhar e a plateia tenta descobrir o que se passa na cabeça de Jefferson, cujos comportamentos não são os mais comuns num jovem da sua idade. Estabelece-se uma forte ligação com as personagens, a história é tratada com subtileza até perto do final, esse sim que merecia ser melhor.

Luís - 4.5/10

Na Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, existe um exemplar da primeira edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões: é uma memória viva e ao mesmo tempo um objecto que convoca para uma viagem de fantasmas e assombramentos. Com a curta-metragem Luís, João Lopes pretende debruçar-se sobre este facto.

Com a actriz Carla Maciel a encarnar duas personagens - a mulher que investiga o passado perdido deste exemplar secular, e o próprio Luís de Camões -, Luís oferece-nos este interessante multiplicar de interpretações, acompanhado planos interessantes e uma montagem competente. Todavia, o argumento do filme fica pelo caminho, já de si com um ritmo um tanto cansativo, não acrescentando nada de novo, ou chegando à conclusão que o espectador anseia.

A Cor dos Sonhos - 3.5/10

A primeira obra de João PinaA Cor dos Sonhos, debruça-se sobre os sonhos de todos nós, em particular o sonho de uma criança nos dias de hoje, vivendo num mundo fragmentado pela crise económica que atinge também os seus pais. Mas, eis que a comunidade não fica alheia ao sofrimento da criança, materializando o sonho na vida real, que perdurará na sua memória.

A balouçar entre cenas coloridas - mas nunca demasiado vivas -, e o preto e branco, A Cor dos Sonhos não foge à temática "da moda": a crise económica. Interessante é a analogia do título com a própria cor, que varia conforme estados de espírito das personagens. João Pina traz-nos um filme cheio de boa vontade e com uma visão mais ou menos positiva da crise. Contudo, a inexperiência é notória e, tanto técnica como argumentativamente, A Cor dos Sonhos não chega ao mediano.

FESTin'14: Competição de Curtas-Metragens


O FESTin'14 já começou e com ele muitos filmes podem ser vistos até dia 9 de Abril no Cinema São Jorge, em Lisboa. Para já, o Hoje Vi(vi) um Filme analisa algumas das curtas-metragens em Competição. Neste primeiro artigo falamos de As Memórias do Vovô, de Cíntia Langie, Vida Tramada, de Salvador Palma e Rui Rodrigues, A Roza, de Marieta Cazarré e Juliano Cazarré, O Vazio entre Nós, de Miguel Pinho, Casalata, de Lara Plácido e Ângelo Lopes, e Perto, de José Retré - todas elas fazem parte da Competição de Curtas-metragens 2.

A Roza - 8/10

Do Brasil, chega-nos a curta-metragem de animação A Roza, de Marieta Juliano Cazarré. O filme relata-nos um amor que se transformou em ódio por não ser correspondido. O poema narra-nos o percurso de Maria Altina, e é uma livre adaptação do conto No Manantial, de Simões Lopes Neto. Quem narra o poema é o músico, trovador e compositor baiano Elomar.

A Roza oferece-nos uma história de amor, original em toda a sua tragédia. A protagonista Maria Altina conquista facilmente a plateia, que se vê embrenhada em toda a trama e se emociona com as personagens. A animação tridimensional é agradável e lembra bonecos de pano.

Vida Tramada - 7/10

A crise e o desemprego parecem estar demasiado marcados no cinema nacional actual - pelo menos no que toca às curtas-metragens. Vida Tramada, de Salvador Palma Rui Rodrigues, não é excepção e conta a história de Manuel, um homem humilde, cujo ordenado que recebe como operário de uma fábrica de calçado é a única fonte de rendimento da sua família. Ele faz o que pode para oferecer uma boa vida aos seus e mantém alguns ideais inabaláveis.

A preto e branco, Vida Tramada não nos traz um argumento original, e é notória a carga pesada que começa logo no título, apenas aliviada pelos momentos mais leves proporcionados pela filha do casal. Contudo, é tecnicamente que o filme se destaca pela positiva, com bonitos planos-sequência, extremamente bem conseguidos e cativantes, e muito bem coreografados, bem como o competente trabalho de fotografia.

As memórias do Vovô - 6.5/10

Do Brasil, chega-nos As Memória do Vovô pela mão de Cíntia Langie. O documentário reúne relatos sobre a vida e obra de Francisco Santos, pioneiro do cinema no Brasil e realizador do mais antigo filme de ficção brasileiro, Os Óculos do Vovô, do qual apenas restam fragmentos.

Com uma temática extremamente interessante, As Memórias do Vovô proporciona-nos uma curiosa viagem aos primórdios da História do Cinema Brasileiro, e apresenta-nos algumas imagens do filme de Francisco Santos, que vão alternando com entrevistas sobre o trabalho do cineasta e cenas de reconstituição - estas últimas não acrescentam nada à narrativa. A curta-metragem peca pela inexperiência que faz passar, mas ganha pela valorização da História do Cinema - já em parte perdida.

Perto - 6.5/10

José Retré trouxe-nos Perto, que, sem diálogos, conta-nos a história de um imigrante que pretende conhecer o filho, acabado de nascer no país de origem. Impedido de viajar pelo patrão, tentará convencê-lo de uma forma pouco convencional.

Apesar do arranque demorado e pouco cativante, Perto ganha pelo inesperado desenlace. Mais do que uma história de imigração, o filme fala, principalmente, de pais ausentes, cada um à sua maneira. A curta-metragem de Retré acaba por ser uma experiência doce e terna. Sem falas, Perto serve para provar como as imagens podem enganar, mas também responder a muitas questões.

Casalata - 6/10

O documentário Casalata, de Lara Plácido e Ângelo Lopes, chega-nos de Cabo Verde (a curta-metragem faz igualmente parte da homenagem do FESTin ao país), e aborda uma temática curiosa. O elevado custo da construção, a inflação na habitação e nos terrenos destinados ao mesmo uso, em conjunto com o desemprego, impossibilitam a compra ou arrendamento de uma casa. Tal incita o aumento da construção ilegal, que, na maioria das vezes, é a única opção para as famílias carenciadas terem um abrigo para viver. A questão que se pretende colocar é a seguinte: será esta ilegalidade crime?

Casalata traz-nos uma realidade interessante, apesar de já conhecida - a dos bairros de lata -, e apresenta-nos a vontade de uma família de São Vicente, que prefere viver em péssimas condições a pagar renda. Opiniões à parte, é irónico observar como são pedaços de velhos recipientes de grandes gasolineiras que servem de paredes a estas pessoas que nada têm.

O vazio entre nós - 3.5/10

Mais uma vez, uma curta-metragem nacional, a preto e branco, com a temática centrada na crise, desemprego e, mais ainda, depressão. O vazio entre nós, de Miguel Pinho, debruça-se sobre David, que está numa depressão e perdeu o emprego. A mulher, Joana, trabalha o dia todo e, quando chega a casa, trata dos filhos, Rafael MariaDavid perdeu a esperança e a vontade. Joana tenta aguentar e ter paciência. Só que já passou algum tempo…

O tom da curta é depressivo e pesado e a história que o acompanha é vazia e sem rumo. Nada acontece que seja marcante para o seu desenrolar, tudo é demasiado previsível e inconsequente. De elogiar é o bom trabalho de fotografia e som.

segunda-feira, 31 de março de 2014

FESTin'14 regressa ao Cinema São Jorge a 2 de Abril

Na sua 5ª edição, o FESTin - Festival de Cinema Itinerante de Língua Portuguesa está de volta ao Cinema São Jorge de 2 a 9 de Abril, com novas mostras e uma homenagem ao 25 de Abril. O festival apresentará mais de 70 filmes, oriundos não só de Portugal, como também do Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique.

A abrir o FESTin está, logo no primeiro dia, o filme Serra Pelada, de Heitor Dhalia, em estreia em Portugal. A encerrar o festival está Vendo ou Alugo, de Betse de Paula (que marcará presença na sessão), que será exibido no dia 9 de Abril, na Sala Manoel de Oliveira, na Cerimónia de Encerramento, onde também se irá proceder à entrega dos prémios. De entre as presenças confirmadas, destaque para a actriz Regina Duarte, que estará na sessão Arte de interpretar – A saga da novela Roque Santeiro.


Para além das secções de competição de longas e curtas-metragens, há este ano, pela primeira vez, a competição de documentários. Juntam-se ainda duas novas mostras à programação: Democracia e Ditadura e País Convidado: França. Haverá ainda espaço para uma homenagem a Cabo Verde e para as já tradicionais mostras de Cinema Brasileiro, Inclusão Social e Infantojuvenil. O FESTin apresentará ainda a Maratona de Documentário e Mesas Redondas.

A 5ª edição do FESTin atribuirá três prémios monetários nas categorias de longa-metragem, curta-metragem e documentário e premiará ainda os melhores actor e actriz de ficção. Nas longas e curtas-metragens o público terá igualmente uma palavra a dizer, podendo votar nos seus filmes favoritos.

Os bilhetes para o FESTin estão à venda na bilheteira do Cinema São Jorge a partir do dia 1 de Abril e têm um custo de 3,00 € (bilhete normal); 2,50 € (até 25 anos e maiores de 65 anos:); 1,50 € (Maratona de documentários por sessão; estudantes; grupos de mais de 10 pessoas – por pessoa); 5,00 € (Maratona de documentários – todas as sessões).

Para mais informações e programação completa, consulta aqui.