Chego, finalmente, à análise dos nomeados para Melhor Filme. Esta é uma edição em que sinto a ausência de filmes que gostei muito e não conseguiram a nomeação - Os Oito Odiados, 45 Anos ou Carol, por exemplo. Ainda assim, há três filmes que, a meu ver, mereciam a estatueta dourada. Eis os oito nomeados, mais uma vez por ordem de preferência.
É o meu preferido do coração. Emocionou-se e surpreendeu-me por se revelar muito mais profundo e do que poderia parecer à primeira vista. O romance existe, sim, mas em jogo está algo maior: o sentimento de pertença. Afinal, onde está o nosso verdadeiro Lar? John Crowley vai até aos anos 50 e, apesar da dura jornada dos irlandeses, as cores e o ambiente são vivazes, cheios de sorrisos, de música e alegria, e, mesmo nos momentos dramáticos e introspectivos, a cor predomina, como uma esperança que não se desvanece.
Uma experiência inebriante e cruel para o espectador. The Revenant é um filme pesado, onde o instinto de sobrevivência é alimentado pelo desejo de vingança, numa jornada violenta e visceral. Desta vez, Iñárritu exibe-se mas com brilhantismo e proporciona aos actores um desafio como poucos.
Era, possivelmente, o menos esperado dos nomeados, mas ele cá está e em força. As cores fortes pintam a desolação deste mundo apocalíptico dominado por homens demoníacos. Mad Max regressou ao grande ecrã em grande forma e, desta vez, até é ofuscado pelo brilho das mulheres de armas que lutam pela dignidade dos seus. Uma surpresa cheia de acção, girl power, com George Miller ao comando a mostrar como, fiel ao original q.b., Mad Max também se sabe actualizar.
Boas histórias de jornalistas são comigo. Despertam-me inevitavelmente o interesse. O Caso Spotlight não será um filme especialmente marcante, mas é um excelente regresso aos filmes de jornalistas, dos bons. O realizador trouxe para o cinema uma das grandes investigações jornalísticas dos últimos tempos e conta-a ao mundo. Simples e eficaz, o filme de Tom McCarthy faz o que os jornalistas têm por regra fazer: contar um "estória" - com clareza e dedicação.
A Queda de Wall Street mune-se de um argumento bem construído e resulta numa critica mordaz ao ciclo vicioso do crédito. Com muito humor, Adam McKay é tão simples como arrojado e dá uma aula sobre a crise à plateia, provoca-a. Usa a câmara como se de um documentário se tratasse, aproximando o espectador das personagens, das suas expectativas e desilusões. Os actores, por vezes, olham-nos nos olhos e falam para a câmara, integrando-nos como se não houvesse qualquer ecrã a separar-nos. Somos uma espécie de espectador-participante.
Spielberg mune-se dos actores ideais, e dá-nos mais uma lição de história, com personagens bem exploradas e um suspense de invejar. A desconfiança paira nas sombras, nas ruas geladas e inseguras, nas salas de negociação. Mais ou menos conhecedores desta época, é impossível tirar os olhos do ecrã e o tempo - quase 2h30 de filme - passa a voar.
Ridley Scott já teve muito mais êxito e ambição ao viajar no espaço. Perdido em Marte é bom entretenimento, mas o público parece conseguir adivinhar cada novo desenvolvimento da narrativa, cada nova "surpresa" e até o final - que poderia ter sido muito mais impactante. Afinal, quem acabou por se perder no planeta vermelho foi o realizador. Esperemos que, pelo menos por lá, encontre a inspiração necessária para as sequelas de Prometheus.
Querem arruinar uma boa história? Quarto ensina-vos como. Nos cativantes primeiros 50 minutos, a longa-metragem esgota totalmente a ideia que tinha ainda muito por explorar e transforma-se em mais um filme sentimental, a chamar pela lágrima fácil.
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