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domingo, 27 de março de 2022

Oscars 2022: Melhor Filme

Para finalizar a análise aos nomeados, eis as dez longas-metragens na corrida para o Oscar de Melhor Filme. Há dois filmes muito bons - ambos merecedores da estatueta -, seguidos de perto por outros dois; mais alguns títulos acima da média e um que não deveria constar nesta lista. Sente-se a ausência de mais filmes de qualidade como The Lost Daughter ou The Card Counter, que poderiam ocupar alguns dos lugares da lista de nomeados de 2022.

Quem vota são os membros da Academia, mas o Hoje Vi(vi) um Filme não deixa de ter os seus eleitos. Eis os nomeados para o Oscar de Melhor Filme, por ordem de preferência.

1. The Power of the Dog

O Poder do Cão está repleto de subtexto, desconstruções subliminares e uma sexualidade latente, com muito para absorver para além da visualização do filme. Excelente regresso de Jane Campion, com uma obra que, na aparente simplicidade de um western, cria um turbilhão de tensões e desejos reprimidos.


2. Drive My Car

As três horas de filme propõem reflexão, introspecção e, todavia, nunca monotonia. Se, por um lado, uma morte precoce vem mudar a vida de várias personagens e o foco da acção, por outro, o Teatro - o texto e as palavras - tem um papel central na exorcização dos fantasmas que se teima em não deixar partir. Entre o teatro e o cinema, mas igualmente entre o espiritual e o terreno, Drive My Car é uma obra introspectiva e de sentimentos complexos, que leva a plateia numa viagem de entrega e partilha, conduzida por Misaki mas iniciada por Yûsuke.


3. Licorice Pizza

Licorice Pizza é uma viagem jovial e vibrante aos anos 70. Paul Thomas Anderson parte de vivências suas e do contexto da época e cria um filme que, conduzido pelas hormonas da adolescência e dos primeiros amores, percorre as mais inesperadas aventuras entre o universo cinematográfico, dos negócios e da política.


4. Dune

Denis Villeneuve anuncia a chegada do Messias em Duna, um filme que serão dois, e no qual colocou toda a sua dedicação e esmero. Os acontecimentos são apresentados com clareza, bem como a história de Paul Atreides e do planeta Arrakis, seus habitantes e forasteiros. O realizador não mostra receios em avançar com Duna e está decidido a "preservar" a história original.


5. Belfast

Belfast traz os conflitos de 1969, na Irlanda do Norte, através dos olhos de uma criança. Kenneth Branagh inspira-se na sua própria experiência para criar um universo de sonhos e medo, aventura e incerteza, na agitada vida de Buddy, um menino de nove anos, e de todos os que o rodeiam. Através da inocência do protagonista, Branagh explora a incompreensão das crianças - e de muitos adultos - acerca de um conflito adensado por diferenças religiosas; a escalada de violência e ameaças; a impossibilidade de ser-se neutro num bairro que sempre viveu em comunhão; tudo enquanto Buddy vive a experiência do seu primeiro amor.


6. CODA

CODA é uma obra simples e melodramática, que propõe uma reflexão séria sobre as dificuldades que a população surda enfrenta no que toca à integração, justiça e independência; mas igualmente põe em cheque o comportamento da sociedade, que não faz o suficiente para acolhê-la. O elenco de CODA é a prova viva de que basta uma oportunidade para mostrar o valor que cada um tem em si e alcançar a merecida notoriedade e reconhecimento.


7. West Side Story

Neste West Side Story "moderno", há menos coreografias, mas mais tempo e espaço para algum desenvolvimento emocional das personagens, sendo que quase todos os protagonistas têm um background bem definido, que justificará muitas dos actos que vêm a tomar ao longo da trama. Ao mesmo tempo, e apesar do racismo já latente na história original, o filme de Spielberg quebra alguns clichés (e tabus da época): os vândalos são os Jets, os Sharks são estudantes e trabalhadores, esforçados para melhorar as suas condições de vida; a transexualidade (ou género não-binário) de Anybodys é abordada com maior impacto; e até mesmo a multiculturalidade da cidade, que vai muito além dos porto-riquenhos e dos supostos Jets "nativos", são alguns dos elementos que tornam o filme mais actual em costumes.


8. Nightmare Alley

Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas não faz ressurgir um Guillermo del Toro primordial; longe da sua criatividade, o realizador tira o melhor partido de uma história que o intriga e explora os pontos que mais o inspiram: as macabras atracções circenses, o passado e a personalidade dúbia de Stanton, a psiquiatra femme fatal e todo o misticismo em torno da vida de enganos do protagonista. Explora as crenças e a questão metafísica, os traumas que assombram Stan, em sonhos e na realidade, bem como a sedução do dinheiro e dos vícios.


9. King Richard

Longe de ser memorável, King Richard: Para Além do Jogo presta uma merecida homenagem à família Williams e ao exemplo que a ascensão e conquistas das duas irmãs tenistas pode ser para todos os que lutam pelos seus sonhos, seja qual for a sua origem. A união da família, sob o comando do pai, é o motor que faz com que Venus e Serena nunca desistam dos sonhos, com dedicação constante.


10. Don’t Look Up

A crítica mordaz que tem caracterizado os últimos filmes de Adam McKay esmoreceu neste disaster movie; já a sua subtileza é agora a mesma que a de "um elefante numa loja de porcelanas". Não Olhem Para Cima faz um gritante anúncio do fim do mundo e, por mais que os cientistas tentem, ninguém quer saber do que eles dizem. Um filme que tem dividido opiniões e, definitivamente, não deveria estar nesta lista de nomeados.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Oscars 2021: Melhor Filme

Para finalizar a análise aos nomeados, eis as oito longas-metragens na corrida para o Oscar de Melhor Filme. No geral, temos um grupo com qualidade e competência, mas longe de ser um conjunto estrondoso. Há dois filmes muito bons, seguidos de perto por outros dois. Há um dos nomeados que se destaca pela negativa - um filme fraco que não merece a nomeação. Sentem-se as ausências de títulos como Another Round, Malcolm & Marie ou mesmo One Night in Miami..., que poderiam ocupar alguns dos lugares da lista de nomeados de 2021.

Mas é tudo uma questão de votos dos membros da Academia e de opinião. Aí ficam os nomeados para o Oscar de Melhor Filme, por ordem de preferência.

1. Sound of Metal (Amazon Studios)

Sound of Metal, de Darius Marder, leva-nos numa experiência sensorial ao universo da surdez. A violenta viagem que o realizador nos propõe é um confronto de emoções, ruídos e silêncio absoluto, numa aprendizagem permanente e restruturação pessoal total para voltar a viver. E mesmo sem ouvir, a música pode continuar presente - tal como a esperança.

2. O Pai / The Father (Sony Pictures Classics)
 

O Pai aborda uma história simples e realista de envelhecimento e perda - de faculdades, de memórias, de laços... -, mas igualmente de dedicação e mágoa de uma filha. Zeller cria um drama desolador, pincelado por momentos de humor requintado, porque na tristeza também se encontram alguns sorrisos e amparo. O filme é cruel na realidade que retrata, mas é igualmente humanizador na forma como o faz.

3. Nomadland - Sobreviver na América (Searchlight Pictures)

Chloé Zhao criou um road movie melancólico e realista, que convida à introspecção, enquanto viajamos estrada fora pelas planícies sem fim do Oeste dos EUA. Para além da crítica socio-político, o filme apela ao autoconhecimento, à relação dos humanos com a perda e à harmonia entre o Homem e a Natureza.

4. Uma Miúda com Potencial / Promising Young Woman (Focus Features)

Uma Miúda Com Potencial (Promising Young Woman) é um thriller em tons de rosa, onde Carey Mulligan encarna a vingança feminista. A estreia de Emerald Fennell na realização de longas-metragens alia a angústia ao humor sarcástico, num resultado extremamente desafiador. Um revenge movie no seu esplendor, com características que o tornam singular: provocador, sensual, feminino, delicado e inteligente (menos o seu final!). 

5. Os 7 de Chicago / The Trial of the Chicago 7 (Netflix)

Entre vinganças políticas, muita violência e um juiz incapaz de imparcialidade, constrói-se a acção de Os 7 de Chicago. Através do elenco que dá vida ao filme, Aaron Sorkin faz-nos olhar para o passado, através destas personagens, e constatar como há ainda tanto a fazer política e socialmente e, afinal, tão pouco mudou desde 1968.

6. Mank (Netflix)


David Fincher 
criou em Mank uma homenagem a um homem e a uma era do Cinema - os anos 30 do século XX. O processo de criação de Citizen Kane dá o mote para a exploração - em jeito de guião - do universo dos estúdios, numa Hollywood a sentir as sequelas da grande crise de 1929. Para além do retrato histórico, a longa-metragem destaca-se por ser tecnicamente irrepreensível, num excelente trabalho de som, fotografia e direcção artística.

7. Judas and the Black Messiah (Warner Bros.) 


Shaka King capta bem o ambiente de desconfiança, chantagem e medo que rodeava Fred Hampton e os que lhe eram próximos. A perseguição cerrada por parte do FBI, injustiças e contradições são denunciadas no grande ecrã, num resultado dinâmico e honroso para a memória de Hampton. O filme reúne bons momentos de acção, e é mais um retrato da brutalidade policial contra os afro-americanos e do racismo endémico dos EUA. Os discursos de Fred Hampton são apresentados com a grandiosidade que merecem, graças também à interpretação de Daniel Kaluuya

8. Minari (A24) 


Sensível mas nada provocador ou disruptivo, o filme de Lee Isaac Chung baseia-se na sua própria infância com a família, numa quinta no Arkansas. Não há nada de realmente novo em Minari: temos um drama familiar, uma família imigrante em busca de uma vida melhor nos EUA, a ideia do sonho americano frustrado sempre presente, a solidão e tentativa de integração na comunidade, o casamento em crise e a relação afectuosa entre avó e netos. Não há nenhum rasgo de inspiração. O realizador cria uma história simples, focada nas personagens e no ambiente que as rodeia e põe-nas à prova, repetidamente.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Oscars 2020: Melhor Filme

A cerimónia dos Oscars 2020 acontece hoje, 9 de Fevereiro, e nada melhor do que uma breve análise aos nomeados. São nove os candidatos na corrida para Melhor Filme, sete deles com muita qualidade, outro com grandiosidade técnica e poucas emoções e, por último, um filme que nem nomeado deveria ter sido. Mas é tudo uma questão de opinião. Aí ficam os nomeados, por ordem de preferência.


É o meu favorito dos nomeados, não tenho vergonha de admitir. Não foi por acaso que venceu o Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza. Haja coragem e talento para agarrar numa personagem destas e dar-lhe um background digno, que a justifique enquanto pessoa que podia bem ser real e não apenas ficção. Joker é uma alegoria ao mundo moderno: individualista, mordaz, que vive de aparências. Esqueçam os heróis. Em Joker, só há vilões, com e sem máscara de palhaço. Há uma agonia permanente desde o primeiro plano do filme de Todd Phillips. A angústia por ver ao que tudo chegou, por perceber como a sociedade trata os mais frágeis, com ausência de justiça ou lei; mas principalmente, por encontrarmos tantas semelhanças com o actual Mundo real. 


Espero, sinceramente, que Parasitas consiga vencer o grande prémio da noite, mas a competição é forte. A luta de classes evidencia-se com o humor negro a cumprir um papel essencial no decorrer dos acontecimentos. Enquanto os ricos precisam dos pobres para servi-los, os pobres precisam desse trabalho para sobreviver e, enquanto isso, os Kim sonham com uma vida melhor, em sair da cave, com poucas condições, onde têm vivido. Mas quando tudo se começa a desmoronar, uma desgraça nunca vem só. Parasitas traz consigo uma dura crítica social, um incómodo latente, especialmente cruel. Os momentos de humor disfarçam a culpa que a plateia carrega por não conseguir escolher um lado. Todos têm sonhos e todos querem sobreviver.


Clássica e feminina, Greta Gerwig emancipou-se a par das suas Mulherzinhas, numa adaptação cinematográfica especialmente bem concretizada. Os papéis importantes estão nesta história destinados às mulheres - ao contrário do que ainda hoje continua a acontecer na sociedade real -, as personagens masculinas dependem de uma maneira ou de outra destas mulheres para viverem ou serem felizes. Esta constatação é irónica, mais ainda quando todas as personagens femininas têm um carácter muito mais forte e complexo que os homens. Alcott fê-lo há quase dois séculos, Gerwig reafirma-o, mostrando uma imensa maturidade e respeito pela obra que adapta, afirmando-se como uma das grandes realizadoras da actualidade.


Martin Scorsese é um mestre a contar histórias e adora um bom enredo de mafiosos. Agora na terceira idade, juntou os seus bons rapazes e outros tantos compinchas e fez um filme à medida da sua experiência: tão genial como comedido. Mudam-se os tempos, não se mudam os costumes nem o espírito. Há apenas mais ponderação. O Irlandês é  um filme sobre escolhas e solidão. E sobre uma vida passada com a morte sempre por perto.


Le Mans '66: O Duelo é mais uma homenagem a Ken Miles, mas acompanha com adrenalina e emoção a competitividade feroz entre Ford e Ferrari. James Mangold consegue humanizar os desportos motorizados e, inesperadamente, fá-los mexer com os sentimentos da plateia.O realizador faz a acção fluir com entusiasmo, num trabalho técnico impressionante e dois protagonistas de peso: Matt Damon e Christian Bale - num grande desempenho, que muito dignifica o piloto.


Quentin Tarantino gosta de fazer justiça pelas próprias mãos, isso já sabemos - e gostamos. Em Era Uma Vez... Em Hollywood, o realizador baseia-se pela primeira vez em acontecimentos reais para criar a sua história, num tributo a uma época menos dourada de Hollywood.  Misturando personagens reais a fictícias, o cineasta cria a sua versão da História do ano 1969. Sentimos que este nono filme de Tarantino quer ser mais um retrato de uma época, do que um marco da criatividade do seu criador.


Marriage Story, de Noah Baumbach, respira teatro por todos os poros; é filmado como se estivéssemos a ver os actores moverem-se num palco... A temática pesada é apresentada com leveza, proporcionada pelo humor, contrabalançada por diálogos intensos e emotivos - com grande trabalho dos protagonistas -, com muitas das marcas a que o realizador já nos habituou na sua filmografia. Fica a sensação que Marriage Story resultaria estrondosamente bem numa adaptação teatral, mais do que cinematográfica.

1917 estará longe de marcar a História dos filmes de guerra. É muito "style over substance", mas não desdenhemos do trabalho de Sam Mendes e Roger Deakins: 1917 é tecnicamente exímio, só não chega para ganhar a batalha.

Taika Waititi tenta ser espirituoso, com um humor leve - muitas vezes repetitivo -, e consegue despertar algumas gargalhadas, mas o tom do filme é inconstante e sem foco. Não transmite nada de verdadeiramente único ao espectador, não espicaça o regime que critica como poderíamos esperar, e nenhuma relação - nem entre mãe e filho, nem entre as crianças - é emotiva ou forte.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Oscars 2019: Melhor Filme

A cerimónia dos Oscars 2019 acontece hoje, dia 24 de Fevereiro, e nada melhor do que uma breve análise aos nomeados. São oito os candidatos na corrida para Melhor Filme e há cinema para todos os gostos, num ano com vários potenciais vencedores. Aí ficam os nomeados, por ordem de preferência.



É A Favorita e é também a preferida do Hoje Vi(vi) um Filme. Não dá para resistir. Eis o trio de actrizes mais triunfal do ano: Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone. Com A Favorita, Yorgos Lanthimos sai da sua zona de conforto, onde deixa a plateia desconfortável com os seus retratos-limite da sordidez humana (Canino, A Lagosta, O Sacrifício de um Cervo Sagrado...), para se aventurar num filme menos complexo mas repleto das suas marcas autorais e influências. E temos de confessar, nem num filme de época ele nos dá sossego. E ainda bem. 



Mais um realizador que arriscou e teve sucesso. Green Book é uma das melhores surpresas entre os nomeados. É na simplicidade e, fundamentalmente, nos protagonistas que o filme de Peter Farrelly se revela uma aposta ganha. Um filme que não quer ser mais do que aquilo que é - passa uma mensagem séria e ainda actual, através do humor, com um guião bem escrito e tão bem interpretado. Mahershala Ali e Viggo Mortensen formam uma dupla insuperável.



Vice é uma espécie de filme biográfico sem papas na língua que Adam McKay realizou sobre o vice-presidente mais influente na Casa Branca, Dick Cheney. Leva-nos num mergulho frontal e sarcástico - quase mórbido - no mundo impenetrável da política norte-americana, fazendo-nos conhecer o mentor do estado a que o país chegou. A influência de um homem quase invisível teve repercussões assustadoras. É em jeito de paródia (ou farsa) que McKay nos confronta com uma realidade demasiado dolorosa para ser mentira.



BlacKkKlansman é um entusiasmante relato de uma história real, quase inacreditável - e por isso mesmo tão genial. Spike Lee usa uma estética muito própria com uma acção ritmada e viciante. A longa-metragem passa-se nos anos 70 mas é especialmente actual ao tocar as tensões raciais, políticas e sociais nos Estados Unidos, que também se têm reacendido desde o início da administração Trump. BlacKkKlansman é entretenimento do bom e ainda dá uma lição de História e de valores a todos. Bem feito Spike Lee.



Roma é um filme parcialmente autobiográfico em que o cineasta pretende homenagear a empregada que o criou. Cuarón tomou as rédeas da realização, mas igualmente do argumento e direcção de fotografia. Um filme muito pessoal, criado para ser universal. E que, apesar de toda a perfeição técnica, à medida que o tempo passa, para mim, tem perdido o fulgor inicial, tornando-se cada vez mais banal.



Eis o remake dos tempos modernos de um filme que já teve várias leituras ao longo da História do Cinema, Assim Nasce Uma Estrela. A nova visão do clássico não traz nada de muito novo, mas é um filme agradável, competente, onde as interpretações surpreendem, em especial Bradley Cooper. Muita música e um bom trabalho de som, ao mesmo tempo que os planos acompanham as emoções que se vivem em palco e fora dele.



A Marvel chegou ao rol de nomeados para Melhor Filme com Black Panther, o nomeado mais inesperado(?) do ano. O filme de super-heróis distancia-se dos seus "parentes", em especial, pelo universo onde se insere a história que conta e pelo elenco maioritariamente de ascendência africana. Apesar da competência de Ryan Coogler, não me parece que Black Panther devesse fazer parte dos nomeados na categoria principal dos Oscars.



A ascensão de Freddie Mercury e dos Queen, desde o tempo em que o cantor dava pelo nome de Farrokh Bulsara, ao afastamento e posterior reunião da banda para o Live Aid, em 1985. É este o percurso que Bohemian Rhapsody segue, com Rami Malek numa interpretação poderosa. Contudo, ao filme falta, sem dúvida, toda a alma da banda. Nós merecíamos mais.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Oscars 2018: Melhor Filme

A cerimónia dos Oscars 2018 acontece no próximo Domingo, dia 4 de Março, e nada melhor do que a breve análise do costume aos nomeados. Em mais um ano com nove nomeados para Melhor Filme, há cinema para todos os gostos. Dos nove filmes na corrida, há dois que mereceriam especialmente  vencer o grande prémio da noite. Aí ficam os nomeados, por ordem de preferência.

1. Linha Fantasma (Phantom Thread)


É sem dúvida o que mais mereceria o prémio, mas é também um dos que não irá conquistá-lo. Todo o ele é perfeição, mas não é filme que a Academia valorize a ponto de lhe conceder o OscarLinha Fantasma deve ser visto e sentido, quer pela história de paixão desenhada e cosida à mão, pela beleza dos vestidos, pela delicadeza dos planos de câmara, dos actores, da fotografia, do som e, principalmente, por ter sido filmado em película. O perfeccionismo do criador revê-se também no trabalho de toda a equipa, num assombro de talento. A par disso, é criada uma aura sobrenatural que surge de forma subtil e muito realista, onde a forma de encarar a morte ganha um papel de destaque.

2. Três Cartazes à Beira da Estrada (Three Billboards outside Ebbing, Missouri)


Nutro um especial carinho por este filme desde que o vi, e está muito perto do número 1 desta minha lista. Três Cartazes à Beira da Estrada é um grande murro no estômago. Um filme amargo, com personagens tão reais e profundas interpretadas por actores que põem alma no que fazem. Martin McDonagh escreveu e realizou um daqueles filmes que não nos vamos cansar de rever, partilhar dúvidas, esperanças, mágoas e clamar por justiça.

3. Dunkirk


Christopher Nolan fez questão de nos oferecer a melhor experiência visual possível. Dunkirk é uma curta epopeia de dor e sacrifício, onde a união fez mesmo a força, num importante momento da História da Segunda Guerra Mundial. No seu primeiro filme de guerra, Nolan consegue ser tão patriótico como tolerante. Sem banhos de sangue, mas com um sentido de união pouco comum, de pensamentos, sentimentos, compromissos e honra. O realizador é metódico e consegue, como poucos, unir públicos tão diferentes em torno do mesmo filme. Sim, Dunkirk é um filme para as massas, mas é igualmente um filme de autor, com planos sufocantes e memoráveis, com dedicação, alma e personalidade.

4. A Forma da Água (The Shape of Water)


Nas últimas semanas a polémica tem envolvido A Forma da Água com acusações de plágio. Não sei se a Academia irá ou não ser influenciada por isso, mas penso que o filme continua a ser um forte candidato ao prémio. Para mim, surge em quarto lugar na corrida. Guillermo del Toro é inspirador. Voltou a sê-lo. Por muitas influências (demasiadas, por vezes) que A Forma da Água possa ter, o cineasta é capaz de criar um filme com identidade própria e com características que denunciam claramente a sua autoria - um misto de doçura, fantasia e violência. A violência não gera nada de bom e o amor é a melhor forma de comunicação. Guillermo del Toro prova-o neste filme, nós acreditamos e pedimos mais magia.

5. Foge (Get Out)


Foge é ousado e muito original na forma como se constrói como filme de terror - ou será mais um thriller de suspense? - em redor de um estigma que já deveria estar ultrapassado, e, ao mesmo tempo, crítica a sociedade muito para além do racismo. Esta forma de discriminação social é aqui filmada com características muito próprias, que suscitam curiosidade. Os afro-americanos são mais invejados do que discriminados, neste filme, mas tudo acontece de um modo um tanto macabro. Foge é um alerta, irónico e sarcástico, mas, igualmente adulto e singular na sua forma e propósito. Uma excelente surpresa na estreia de Jordan Peele na realização.

6. Chama-me Pelo Teu Nome (Call Me By Your Name)


Há um lirismo romântico a pairar sobre Chama-me Pelo Teu Nome. Tem momentos brilhantes, normalmente potenciados por um longo plano-sequência. Guadagnino filma cenas tão boas como uma conversa entre pai e filho, momentos de partilha e intimidade entre Elio Oliver (onde não são as palavras que mais falam), a festa em que estão a dançar com amigos e surgem os ciúmes, ou os momentos de introspecção, em casa ou no campo. Por outro lado, há situações delicodoces que resultam em momentos pouco conseguidos, e dão um grande desequilíbrio ao filme.

7. Lady Bird


Lady Bird é símbolo de amadurecimento e de amor, acima de tudo. Greta Gerwig estreia-se na realização com uma longa-metragem que se despede da adolescência para entrar na idade adulta, com os receios e dilemas que essa transição acarreta. Ao mesmo tempo, o amor à cidade de Sacramento, Califórnia, e a tudo e todos os que a ligam à protagonista, é uma das mensagens mais puras do filme. E no meio da ligeireza que o filme transmite, a realizadora consegue convencer-nos de que, também nós, já tivemos qualquer coisa de Lady Bird: já fomos adolescentes revoltados, extravagantes, com sonhos mirabulantes, duvidas e receios. Mas todos crescemos.

8. The Post


The Post é um bom filme de jornalistas, mas apenas mais um que se junta a tantos outros bons títulos do género que têm surgido ao longo das décadas. Não é o melhor Spielberg de sempre mas traz-nos o cineasta, fiel a si mesmo, com uma equipa de peso a acompanhá-lo.

9. A Hora Mais Negra (Darkest Hour)


Joe Wright conta-nos a História do ponto de vista de Churchill e sabe tornar reuniões e discussões, entre o Primeiro Ministro, políticos e rei, cativantes. Ainda assim, não traz nada de novo aos filmes do género. No argumento, o momento mais bem construído prende-se com o dilema na cabeça do protagonista, que se vê divido entre o que todos esperam que ele faça e o que os seus valores lhe dizem para fazer. A tensão é imensa, o dever de proteger o povo e a ética estão muito presentes e são muito bem tratados no grande ecrã.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Oscars 2017: Melhor Filme

A cerimónia dos Oscars 2017 está mesmo a chegar e nada como a breve análise do costume aos nomeados. Num ano em que os nomeados para Melhor Filme não foram, certamente, os melhores de 2016, ficaram de fora títulos como o meu tão querido Animais Noturnos. Dos nove filmes na corrida, há especialmente três que mereceriam vencer o grande prémio da noite e dois que nem deviam fazer parte da lista. Aí ficam os nomeados, por ordem de preferência.

É quase o outsider da lista de nomeados e, é quase certo, que não vence. Não deixa, ainda assim, de ser o meu favorito dos nove. O contacto cinematográfico com extra-terrestres tem-se repetido, ao longo dos anos, das mais variadas formas. Contudo, são poucos os que conseguem alcançar a subtileza de Denis Villeneuve. O Primeiro Encontro é um filme sobre a humanidade e a falta de compreensão entre humanos - e extra-terrestres. Vale bem a aventura.

Comovente, romântico e sonhador são qualidades do mais recente filme do empenhado Damien Chazelle. Só mesmo o argumento apressado quebra ligeiramente a magia do musical moderno que homenageia os veteranos. La La Land não deixa apesar disso de reunir um dos melhores casais protagonistas de sempre e um trabalho técnico soberbo.

Praticamente empatado com La La Land nas minhas preferências está MoonlightBarry Jenkins coloca no ecrã uma bela história de vida, com uma realização de génio forte. O filme apregoa a liberdade de ser, escolher e sonhar, para que todos possam brilhar como o luar, sem preconceitos.

Quando deixamos de pertencer à terra onde nascemos ou crescemos, nem os laços familiares podem, por vezes, curar a ferida. Manchester by the Sea faz-nos seguir a trágica família Chandler, e a sua realidade dura e triste. Kenneth Lonergan escreve e filma um drama familiar bem construído, focado essencialmente em dois elementos da mesma família: tio e sobrinho - os dois que restam. 


Hell or High Water - Custe o Que Custar! é uma obra consistente de David Mackenzie, que supera as expectativas. Um retrato cru dos tempos que correm, onde também o elenco em muito contribui para o sucesso do produto final. É mais um outsider na lista de nomeados.

Elementos Secretos realça bem a segregação racial (e mesmo de género) que se vivia ainda nos anos 60, tratando um tema sensível com humor, com os diálogos a assumirem um papel fulcral. Ao mesmo tempo, o filme de Theodore Melfi homenageia três importantes nomes femininos da História da NASA. Actualmente, num momento sociopolítico tão instável e incerto para o ocidente, esta longa-metragem é uma excelente forma de relembrar que a História foi feita por todos.

Vedações traz o teatro ao cinema, mas consegue fazê-lo cativando a plateia que, apesar de estranhar tantas palavras e menos estímulos visuais, vai embrenhar-se da história da família Maxson e segui-la com verdadeiro interesse e preocupação. É muito mais um filme de emoções e sentimentos do que de acontecimentos ou acções, e vive, em especial dos seus actores, com destaque para o casal protagonista Denzel Washington e Viola Davis.

Mel Gibson regressa à realização com O Herói de Hacksaw Ridge onde fé e patriotismo se alistam em conjunto. Entre o drama do religioso objector de consciência, traumatizado desde a infância, e a brutalidade da guerra, o filme parece dividir-se em dois, com ritmos bastante distintos. É claramente um dos mais fracos desta lista.

Sabe-se que o epíteto "baseado numa história verídica" nem sempre é sinónimo de qualidade e Lion - A Longa Estrada para Casa é mais um exemplo disso. Realmente, o argumento do filme tem por base o passado de um homem com muito para contar. Denuncia desigualdades e problemas muito preocupantes no que respeita às crianças indianas, contudo, isso não chega. É o outro elo mais fraco.