quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Crítica: Good Time (2017)

"I think something very important is happening and it's deeply connected to my purpose." 
Connie

*9/10*

Benny e Josh Safdie continuam a consolidar-se como nova dupla de talentosos irmãos realizadores. Good Time trouxe-lhes maior notoriedade, mais ainda com Robert Pattinson como protagonista, num desempenho impressionante.

É curiosamente também a história de dois irmãos de Queens que Good Time acompanha. Tudo começa com um assalto falhado a um banco que coloca Nick (Benny Safdie), o irmão mais novo de Constantine "Connie" Nikas (Robert Pattinson), na prisão. Agora, Connie embarca numa retorcida odisseia através do submundo da cidade de Nova Iorque numa tentativa cada vez mais desesperada e perigosa de tirar o irmão da cadeia. Falta dizer que Nick tem um problema mental que Connie insiste em não admitir.


Good Time tem desde o primeiro instante um sabor agridoce que nos diverte, mas também nos comove. No final, saímos derreados com uma história tão carregada de emoções e realismo.

Connie faz tudo pelo irmão, mas é inconsciente e inconstante, com ausência de valores. Para si, tudo é válido para alcançar um vida melhor para o irmão, contra a lei, contra o socialmente aceite. Curioso é que ele parece realmente não perceber o quão errado está e que, na realidade, nada do que faz é benéfico para Nick. É ingénuo, "pobre de espírito", e usa os outros, sem querer efectivamente prejudicar ninguém. Ele é criminoso com um propósito de fazer o bem, ou assim o acha.


Assistimos a situações tão caricatas e inacreditáveis que vamos rir com a desgraça alheia. mas Good Time está longe de ser uma comédia. É um filme que magoa e nos aproxima das personagens. Nós que somos ainda mais impotentes que os dois irmãos. Dois homens que provavelmente nasceram na família errada, no local errado - neste caso, em Queens -, sem as possibilidades que teriam, provavelmente, noutro contexto social. Eis aqui a forte crítica socio-política de Good Time.

Robert Pattinson tem uma interpretação poderosa, camaleónica. É tão ingénuo como manipulador, infringe a lei e faz-nos acreditar - tal como ele próprio - que tudo é por um bem maior: o seu irmão. É curiosa a simpatia que nutrimos por um delinquente. Benny Safdie é outro grande talento do filme, na pele do frágil irmão.


Num ambiente nocturno, a fotografia de Sean Price Williams tira partido das cores e luzes, potenciando o ambiente instável e soturno que rodeia o protagonista, numa noite de excessos e situações caricatas.

Com Good Time, os irmãos Safdie criaram uma longa-metragem intensa e certeira. Através do humor, toca temáticas desconfortáveis, abala a plateia e fá-la reflectir. Um filme extremamente poderoso.

2 comentários:

Unknown disse...

Estou muito curioso, sobretudo por a interpretação do Robert Pattinson ser considerada a melhor da sua carreira.

Inês Moreira Santos disse...

Olá Francisco. Ainda não vi toda a sua filmografia, mas certo é que está brilhante no Good Time. Merece nomeação para os Oscars.