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quinta-feira, 20 de julho de 2023

Crítica: Oppenheimer (2023)

"Now I am become Death, the destroyer of worlds."

J. Robert Oppenheimer

*6.5/10*

Oppenheimer tinha tudo para ser explosivo, mas faltou Christopher Nolan estabelecer limites à sua, cada vez mais evidente, mania das grandezas. Com uma carreira sempre em crescendo até Interstellar (2014), o encanto que distinguia o cineasta tem-se desvanecido (com a excepção de Dunkirk, em 2017, talvez), tornando os seus filmes cada vez mais longos e demasiado complexos, com dificuldade em chegar ao público. 

No caso de Oppenheimer, o problema não é a complexidade da narrativa, mas sim a insistência em explicar tudo o que acontece, com demasiado detalhe, sem deixar espaço à curiosidade da plateia. Ser sucinto é uma qualidade que Nolan tem de readquirir.

O filme é "um thriller que mergulha a fundo na mente do singular J. Robert Oppenheimer, o brilhante cientista envolvido na criação da bomba atómica durante a Segunda Guerra Mundial. Uma invenção revolucionária que simbolizou a máxima capacidade do engenho humano, capaz de refazer a civilização e, ao mesmo tempo, de ameaçar o futuro da humanidade."

Baseado no livro vencedor de um Prémio Pulitzer, American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer, de Kai Bird e Martin J. Sherwin, a longa-metragem percorre a juventude do protagonista, as suas influências e encontros com grandes nomes da física, até se envolver no Projecto Manhattan que levou à criação da bomba atómica, um desafio que foi o seu maior feito. Oppenheimer acompanha todo o processo de desenvolvimento da bomba atómica e a sua posterior utilização no final da Segunda Guerra Mundial, e os dilemas morais com que J. Robert Oppenheimer se debateu ao compreender o real impacto da bomba no Japão - e no Mundo -, ao mesmo tempo que convivia com a admiração do povo e a traição de muitos dos que lhe eram próximos (tendo sido vítima do Macartismo, nos anos 50). 

Não há dúvida que Christopher Nolan ama a Sétima Arte e tudo tem feito para proporcionar a melhor experiência possível em sala de cinema, desta vez, ao filmar com câmaras IMAX 65mm e grande formato 65mm e inclui, pela primeira vez, secções rodadas em película de 65mm IMAX a preto e branco, criada propositadamente para este filme. Ao mesmo tempo, os efeitos visuais - incluindo as explosões - são criados recorrendo apenas a efeitos práticos. 

A técnica é exímia (realização, fotografia, direcção artística, som, efeitos visuais), mas não encontra equilíbrio com a narrativa de Oppenheimer, repleta de personagens que pouco acrescentam e relações pouco exploradas, fazendo com que a longa-metragem chegue às três horas de duração sem justificação. Ao mesmo tempo, a banda sonora de Ludwig Göransson  é omnipresente e não deixa o silêncio - tão necessário - instalar-se, nem por um momento.

Num elenco de nomes sonantes, destaque para Cillian Murphy que já merecia o protagonismo num filme de Nolan e mostra-se à altura do desafio. Contudo, a grande interpretação de Oppenheimer está a cargo de um irreconhecível Robert Downey Jr., na pele do cínico Lewis Strauss.

Oppenheimer começa bem, perde-se ligeiramente pelo meio, até que resplandece quando surge a criação do cientista, e tudo o que daí advém. Christopher Nolan só tem de reaprender que menos é mais e que, com uma duração mais curta, poderia ter construído um filme verdadeiramente impactante.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Sugestão da Semana #488

Das estreias da passada Quinta-feira, a primeira Sugestão da Semana de 2022 destaca Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson.

LICORICE PIZZA


Ficha Técnica:
Título Original: Licorice Pizza
Realizador: Paul Thomas Anderson
Elenco: Alana Haim, Cooper Hoffman, Joseph Cross, Bradley Cooper, Sean Penn, Benny Safdie, Tom WaitsMaya Rudolph
Género: Comédia, Drama, Romance
Classificação: M/12
Duração: 133 minutos

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Estreias da Semana #414

Esta Quinta-feira, chegaram aos cinemas portugueses quatro novos filmes. Os nomeados para os Oscars Jojo Rabbit e Mulherzinhas são duas das estreias. Na plataforma de streaming Netflix, estreia Diamante Bruto, dos irmãos Safdie, no dia 31 de Janeiro.

Calafrio (2020)
The Turning
No Maine, numa misteriosa mansão localizada numa zona rural, Kate (Mackenzie Davis), a nova ama, está encarregada de cuidar de dois órfãos perturbados, Flora (Brooklynn Prince) e Miles (Finn Wolfhard). Mas Kate depressa se apercebe que a casa e as duas crianças albergam segredos tenebrosos e que as coisas poderão não ser aquilo que parecem.

J'accuse - O Oficial e o Espião (2019)
J'accuse
A 5 de Janeiro de 1895, o Capitão Alfred Dreyfus (Louis Garrel), um jovem oficial judeu, é acusado de espionagem para a Alemanha e condenado a prisão perpétua na ilha do Diabo. Entre as testemunhas está Georges Picquart (Jean Dujardin), promovido para gerir a unidade militar de contra-espionagem. Mas quando Picquart descobre que os alemães continuam a receber informações secretas, é arrastado para um labirinto perigoso de fraude e corrupção que ameaça não só a sua honra, mas também a sua vida.

Mulherzinhas (2019)
Little Women
Greta Gerwig apresenta uma versão de Mulherzinhas baseada não só no romance de Louisa May Alcott, mas também nas notas deixadas pela autora. A história do crescimento de quatro irmãs nos anos que se seguiram à Guerra Civil dos EUA, desdobra-se no alter ego da autora, Jo March, à medida que esta leva a sua vida real para a  ficção. Retratando Jo, Meg, Amy e Beth March, estão as actrizes Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, e Eliza Scanlen, com Timothée Chalamet no papel do vizinho Laurie, Laura Dern como Marmee e Meryl Streep como tia March.

Jojo Rabbit (2019)
Jojo Rabbit é um menino que vive durante a Segunda Guerra Mundial e tem como amigo imaginário, uma versão imprecisa de Adolf Hitler, que inflama as ingénuas crenças patrióticas do menino. No entanto, tudo muda quando Jojo conhece uma menina que desafia esses pontos de vista e o obriga a enfrentar a realidade.

Estreia Netflix:

Diamante Bruto (2019)
Uncut Gems
Howard Ratner (Adam Sandler), um carismático joalheiro nova-iorquino está sempre à procura do próximo grande negócio. Uma série de apostas arriscadas, que o podem levar a perder tudo, obrigam-no a equilibrar negócios e família enquanto se defende dos ataques que surgem por todos os lados, na busca incansável pela vitória final.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Crítica: Good Time (2017)

"I think something very important is happening and it's deeply connected to my purpose." 
Connie

*9/10*

Benny e Josh Safdie continuam a consolidar-se como nova dupla de talentosos irmãos realizadores. Good Time trouxe-lhes maior notoriedade, mais ainda com Robert Pattinson como protagonista, num desempenho impressionante.

É curiosamente também a história de dois irmãos de Queens que Good Time acompanha. Tudo começa com um assalto falhado a um banco que coloca Nick (Benny Safdie), o irmão mais novo de Constantine "Connie" Nikas (Robert Pattinson), na prisão. Agora, Connie embarca numa retorcida odisseia através do submundo da cidade de Nova Iorque numa tentativa cada vez mais desesperada e perigosa de tirar o irmão da cadeia. Falta dizer que Nick tem um problema mental que Connie insiste em não admitir.


Good Time tem desde o primeiro instante um sabor agridoce que nos diverte, mas também nos comove. No final, saímos derreados com uma história tão carregada de emoções e realismo.

Connie faz tudo pelo irmão, mas é inconsciente e inconstante, com ausência de valores. Para si, tudo é válido para alcançar um vida melhor para o irmão, contra a lei, contra o socialmente aceite. Curioso é que ele parece realmente não perceber o quão errado está e que, na realidade, nada do que faz é benéfico para Nick. É ingénuo, "pobre de espírito", e usa os outros, sem querer efectivamente prejudicar ninguém. Ele é criminoso com um propósito de fazer o bem, ou assim o acha.


Assistimos a situações tão caricatas e inacreditáveis que vamos rir com a desgraça alheia. mas Good Time está longe de ser uma comédia. É um filme que magoa e nos aproxima das personagens. Nós que somos ainda mais impotentes que os dois irmãos. Dois homens que provavelmente nasceram na família errada, no local errado - neste caso, em Queens -, sem as possibilidades que teriam, provavelmente, noutro contexto social. Eis aqui a forte crítica socio-política de Good Time.

Robert Pattinson tem uma interpretação poderosa, camaleónica. É tão ingénuo como manipulador, infringe a lei e faz-nos acreditar - tal como ele próprio - que tudo é por um bem maior: o seu irmão. É curiosa a simpatia que nutrimos por um delinquente. Benny Safdie é outro grande talento do filme, na pele do frágil irmão.


Num ambiente nocturno, a fotografia de Sean Price Williams tira partido das cores e luzes, potenciando o ambiente instável e soturno que rodeia o protagonista, numa noite de excessos e situações caricatas.

Com Good Time, os irmãos Safdie criaram uma longa-metragem intensa e certeira. Através do humor, toca temáticas desconfortáveis, abala a plateia e fá-la reflectir. Um filme extremamente poderoso.