segunda-feira, 6 de maio de 2019

IndieLisboa'19: Tragam-me a Cabeça de Carmen M. (2019)

*6/10*

Esta Carmen Miranda dos tempos modernos, construída na pessoa de Catarina Wallenstein, questiona o Brasil e faz-nos questionar também. Ela(s), estrangeira(s) no Brasil, leva(m)-nos numa viagem alucinante ao país irmão em Tragam-me a Cabeça de Carmen M., realizado pela actriz portuguesa e por Felipe Bragança. O filme divide-se entre a Competição Nacional e a secção Herói Independente do IndieLisboa'19.

Ana (Catarina Wallenstein), uma actriz portuguesa no Rio de Janeiro, mergulha no actual pesadelo político brasileiro, enquanto se prepara para encarnar o papel da luso-brasileira Carmen Miranda, num misterioso filme que se avizinha. Mas a mitologia colorida da Embaixatriz do Samba choca com o presente cinzento. Um filme que se interroga sobre uma utopia «pan-tropical e futurista», celebrando o «canibalismo cultural» que, nos tempos da ditadura funcionou como forma de resistência. E hoje?


O experimentalismo do filme - que alterna entre o preto e branco e a cor, o presente, e o que aconteceu antes - transmite a loucura do trabalho de actriz, numa procura incessante pela voz de Carmen Miranda, suas origens e modo de pensar, gestos e sorrisos. As mesmas sensações que podemos ter ao analisar o Brasil contemporâneo. Tragam-me a Cabeça de Carmen M. não tem pudores na crítica política que faz. É livre e esperemos que assim o cinema possa continuar.

Tragam-me a Cabeça de Carmen M. constrói-se da inspiração da mulher que trouxe a modernidade ao seu tempo e quebrou convenções. A música é constante, lutemos para que nunca nos calem.

___

O filme passou no dia 5 de Maio, no Cinema São Jorge, e volta a ser exibido no dia 7 de Maio, às 22h30, no Cinema Ideal.

Sem comentários: