segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Crítica: Bombshell: O Escândalo (2019)

"Early on he realized for a network to stay on 24 hours a day you need something to hold an audience. That something is legs. There's a reason for clear desks."
Megyn Kelly


*7.5/10*

Bombshell: O Escândalo é um filme #MeToo, com três grandes actrizes a encabeçar o elenco, e um argumento inspirado numa história real que explodiu pouco antes das primeiras denúncias do movimento. Jay Roach explora os meandros da Fox News, o assédio e a progressão na carreira, com foco nas mulheres que deram a cara pelas notícias e pelos seus direitos.

Bombshell - O Escândalo segue o grupo de mulheres (Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie) que decide denunciar Roger Ailes (John Lithgow), o presidente da Fox News, por assédio sexual, e enfrentar a atmosfera tóxica gerada no ambiente profissional.

O filme é-nos narrado pelas três actrizes, relatando a experiência de cada uma das suas personagens, expectativas e terrores. Dinâmico e corajoso, Jay Roach conta-nos a trama com muito ritmo, com um argumento de Charles Randolph, bem construído, inspirado nos casos das jornalistas Megyn Kelly Gretchen Carlson.


O trabalho de caracterização é fenomenal, transformando de tal modo Charlize Theron, Nicole Kidman John Lithgow que quase não os reconhecemos.

No entanto, Bombshell é, acima de tudo, um filme de actrizes. Charlize Theron é camaleónica para além da maquilhagem, vestindo a pele de Megyn Kelly com destreza, confiança e ambição. Uma mulher poderosa que sofreu assédio e, provavelmente, se julgava sozinha. Quando desafia as ideias de Trump - ele que tanto ama a Fox News -, vê a sua carreira em risco, com o ódio a cercá-la. Nicole Kidman, por sua vez, é quem dá o primeiro passo para a exposição dos assediadores. Ela é Gretchen Carlson, jornalista de meia idade, cujas ideias chocam com as de Ailes e que parece estar no limite para permitir que o machismo continue a imperar em seu redor. Também ela foi vítima do homem poderoso que tem a coragem de denunciar e procura encorajar outras vítimas. Margot Robbie é Kayla Pospisil, das três protagonistas a única que é ficcional. Ela é a jovem ambiciosa mas ingénua, que não espera os avanços de Ailes. De repente, a confiança que exibe inicialmente transforma-se em medo e insegurança, especialmente quando percebe que parece estar sozinha naquela redacção cheia de competitividade e beleza.


Bombshell é uma arma contra a masculinidade tóxica, contra o poder de subjugar as mulheres. Jay Roach traz ao cinema um filme que elogia quem quer mudar o establishment, mas revela igualmente como tudo e nada mudou. Ainda há muito a fazer.

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