quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Crítica: Sempre o Diabo / The Devil All the Time (2020)

"Blessed are those that hunger and thirst for righteousness."

Rev. Preston Teagardin

*8/10*

Sempre o Diabo (The Devil All the Time), de Antonio Campos, é um retrato violento e trágico de uma América profunda de meados dos anos 50, onde personagens se cruzam e definem o destino umas das outras, numa narrativa circular.

Baseado no romance homónimo de Donald Ray Pollock - curiosamente, é ele o narrador da história -, não estamos perante um filme de fácil visualização. Acima de tudo, Sempre o Diabo leva-nos ao pior de cada ser humano, um mal que faz vítimas por onde vai passando.

"No pós-guerra, numa localidade do interior, assolada pela corrupção e pela brutalidade, um jovem dedica-se a proteger quem ama das personagens sinistras que o rodeiam."

Antonio Campos filma um retrato cruel de um local e da sua gente, dos seus costumes e ignorância, e a existência de uma família malfada pela religião obsessiva e cheia de vícios que a rodeia e sufocava.

Entre o fervor religioso, a guerra, os abusos, a doença, o bullying, serial killers, corrupção e muitas mortes, há uma justiça implacável que passou de pai para filho, e que comanda os actos do protagonista. A justiça e o amor à sua família são os motores que o fazem agir e continuar em frente, perante todas as adversidades.

Sempre o Diabo prima pelo argumento que se fecha num círculo perfeito. As histórias das personagens tocam-se nas coincidências mais prováveis, com naturalidade. Mas destaca-se também pelo ambiente pesado e sombrio que carrega em cada cena, e não augura felicidade. Filmado em 35mm (algo pouco habitual no streaming), a película adensa a ambiente "sujo" e soturno que se vive no ecrã.

A perversão das personagens deu aso de grandes desempenhos do elenco: Tom Holland é o jovem protagonista, magoado, duro, com valores bem vincados no seu carácter - um actor que vemos crescer e transformar-se no grande ecrã -; Robert Pattinson, como Reverendo Preston, é um monstro da transfiguração e o confirmar do grande actor em que se tornou; Bill Skarsgård está excelente na pele do apaixonado soldado marcado pelos horrores da guerra, que tenta reencontrar-se na religião; e Riley Keough transforma-se ao longo do filme, uma mulher em decadência física e psicológica, incapaz de fugir ao destino que escolheu.

Destinos cruzam-se neste ambiente hostil e brutal que Antonio Campos é tão bem capaz de transpor para o grande ecrã. Sempre o Diabo é uma experiência violenta e imersiva com interpretações de tirar o fôlego.

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