"Don't make us your excuse, J.D."
Lindsay
*3.5/10*
Lamento de uma América em Ruínas (Hillbilly Elegy) é o mais recente filme de Ron Howard, com selo Netflix, baseado no livro homónimo de J.D. Vance, o protagonista. O filme é, contudo, um rol de clichés e estereótipos, onde até as críticas são em jeito de elogios.
"J.D. Vance (Gabriel Basso), antigo fuzileiro naval oriundo do sul do Ohio e atualmente aluno do curso de direito em Yale, está prestes a conseguir o emprego com que sempre sonhou, quando uma crise familiar o obriga a regressar a casa e a reencontrar uma vida que queria esquecer. J.D. terá de lidar com a complexa dinâmica da sua família rural, incluindo a relação volátil com Bev (Amy Adams), a sua mãe toxicodependente. Tocado pelas memórias da avó Mamaw (Glenn Close), a mulher forte e sagaz que o criou, J.D. percebe que para realizar os seus sonhos, terá primeiro de aceitar as suas raízes."
Entre flashbacks, o protagonista conta-nos a história da sua família e as dificuldades por que passou até ingressar em Yale: cresceu numa família de mulheres sofridas de poucas posses, entre a violência doméstica e a toxicodependência, sofreu bullying, mas contra todas as expectativas foi Marine, formou-se, tem uma relação estável e está à beira de conseguir o emprego de sonho. Um conto de fadas cheio de lugares-comuns e cujas reviravoltas só vêm desculpar as falhas do sistema norte-americano, que, no fundo, J.D. tanto admira e do qual ambiciona fazer parte (e não é que lá está ele, na vida real?).
Mas mesmo que o único a singrar neste filme tenha sido um homem, é nas mulheres que encontramos a força de Lamento de uma América em Ruínas. Se Amy Adams está competente na pele da mãe toxicodependente, e Haley Bennett como Lindsay, a irmã dedicada mas conformada, o que dizer da fabulosa interpretação de Glenn Close, como a avó Mamaw? A veterana incorporou uma forma de andar e falar muito característica e está transfigurada, de aspecto descuidado e modos grosseiros - e, no final, a partir de vídeos caseiros da família Vance, podemos constatar como está igual à verdadeira avó de J.D.
No fim de contas, Ron Howard criou um filme superficial, sem personalidade, nem grandes intenções. A família branca desestruturada de uma América profunda, abandonada à sua sorte e cheia de preconceitos associados, onde a culpa dos problemas parece ser apontada, única e exclusivamente às vítimas, serve de caricatura para a história de superação deste rapaz. Não há empatia, nem admiração, bem pelo contrário. Vale pelas interpretações femininas.
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