sexta-feira, 22 de abril de 2022

Crítica: O Homem do Norte / The Northman (2022)

"I will avenge you, Father. I will save you, Mother. I will kill you, Fjölnir."

Amleth


*8/10*

Robert Eggers regressa com o visceral O Homem do Norte (The Northman), onde lendas e espíritos se juntam numa acção comandada pelo desejo de vingança. Semelhanças com Hamlet, de William Shakespeare, não são coincidência, já que ambos se inspiram no lendário herói nórdico, Amleth. Contudo, Eggers, em coautoria com o escritor islandês Sjón, cria a sua própria visão dos mitos e lendas escandinavos, inserindo-os no universo sujo e sombrio que caracteriza os seus filmes.

"Durante a viragem do século X, na Islândia, o jovem príncipe Amleth está à beira de se tornar um homem quando o pai é brutalmente assassinado pelo tio, que rapta a mãe do rapaz. Fugindo do seu reino insular por barco, jura vingança. Duas décadas mais tarde, Amleth é um viking berserker que invade aldeias eslavas. Num desses lugares, uma vidente recorda-o do seu voto: vingar o pai, salvar a mãe, matar o tio. Viajando num navio de escravos para a Islândia, Amleth infiltra-se na quinta do seu tio com a ajuda de Olga, uma mulher eslava."

Ainda que a história que inspira o filme de Eggers já seja conhecida, o desenlace não é óbvio nem desilude. A vingança e o desejo de justiça são motivação para cada acto de Amleth, onde a acção é contrabalançada com suspense e misticismo - tudo bem ao estilo do realizador (basta lembrar O Farol A Bruxa) - e muita violência.

O Homem do Norte é exímio na recriação do ambiente inóspito e brutal da época, das batalhas sangrentas, das perigosas viagens de barco nos mares do norte, do trabalho escravo ou da leviandade com que os poderosos tratam os seus subordinados.

No protagonista, Amleth, são trabalhados muitos sentimentos e emoções: da criança que admira o pai e quer estar à altura das suas expectativas, ao trauma que alimenta o desejo de vingança e o obriga a partir para terras desconhecidas; ou do adulto selvagem e implacável, que recupera o seu lado racional e retoma o desejo de fazer justiça ao pai e salvar a mãe. Ao fim de 20 anos, Amleth reencontra-se com o passado e tem a oportunidade de experimentar muitos sentimentos que deixou de parte - entre eles o amor. Alexander Skarsgard revela-se empenhado e tão capaz quer na componente física do papel - onde adopta uma postura quase animalesca -, como na psicológica, com diferentes nuances emocionais ao longo da longa-metragem.

Mas é tecnicamente que O Homem do Norte realmente se eleva. Nos cenários gelados da Islândia, há que dar todo o mérito ao fabuloso trabalho da direcção de fotografia de Jarin Blaschke (o mesmo dos anteriores filmes de Eggers) que, entre o gelo, a lama e os vulcões fumegantes, consegue captar, através da iluminação das imagens - também diurnas, mas em especial as nocturnas -, os corações gélidos das personagens e o calor do ódio que carregam em si. As sequências de acção são intensas e bem coreografadas, potenciadas mais ainda pela excelente montagem de Louise Ford. A pairar, qual fantasma, a banda sonora de Robin Carolan e Sebastian Gainsborough funde-se com os uivos e gritos de guerra ou de terror.

O Homem do Norte veio alargar o espectro da filmografia de Robert Eggers, reforçando a criatividade e o talento que o realizador tem para entorpecer as audiências e, ao mesmo tempo, prendê-las à visceralidade tanto visual como psicológica da sua obra.

1 comentário:

Pedro Mores disse...

Eu não gostei do filme. Achei muito "seca", com pouca ação ou pelo menos demasiado sombrio.