quarta-feira, 7 de maio de 2025

IndieLisboa 2025: Primeira Pessoa do Plural (2025)

"Vês coisas ainda?"
Irene


*5/10*

Sandro Aguilar é um realizador com uma estética e narrativa muito próprias na sua filmografia. Primeira Pessoa do Plural é uma nova incursão num drama fantasioso e cheio de devaneios de realizador e personagens.

"Mateus Lagoa e a sua esposa Irene preparam-se para celebrar o vigésimo aniversário de casamento num luxuoso resort numa ilha tropical, deixando o filho adolescente perigosamente à deriva."

Ao longo da história que conta, Primeira Pessoa do Plural é um delírio, seja devido aos efeitos secundários das vacinas contra as doenças tropicais que os protagonistas tomaram, seja por vontade do realizador, que experimenta sem pudores várias opções cinematográficas. 


Os actores, em especial Albano Jerónimo (como Mateus, mas que vai tendo uma variedade de outros nomes ao longo da longa-metragem), aproveitam a liberdade criativa do cineasta e do próprio filme, e exploram os seus limites, entre as febres altas, os sonhos vívidos e as sensações que uma viagem tropical poderia causar. O filho do casal, que fica em Portugal, apesar de não padecer de efeitos secundários, parece contagiar-se pelo descontrolo dos pais, e vive solitário entre traumas do passado e os desafios da adolescência.

A par da loucura febril de Mateus e Irene, o luto paira como uma assombração sobre o casal e o seu filho, cada um com a sua forma de lidar com ele. Um quarto vazio de gente, um velório inusitado, tudo se confunde entre o real e o delírio - mas a dor mais profunda está verdadeiramente presente.


A direcção de fotografia de Rui Xavier é exímia neste experimentalismo de Aguilar, e aproveita cada particularidade para criar um quadro vivo, tirando partido de alguns dos adereços que as personagens usam ou que as rodeiam - nota positiva para direcção artística e guarda-roupa. Já a montagem arriscada acentua a desconexão de acontecimentos e a confusão mental das personagens.

Todavia, o grande defeito de Primeira Pessoa do Plural é que, efectivamente, não chegará ao Nós a que o título apregoa. Fiel a si, Sandro Aguilar parece filmar sempre na primeira pessoa do singular. É um exercício de estilo e de ideias soltas, com algum humor à mistura, mas sem se conectar com o público. E aí está a sua maior falha.

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