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terça-feira, 5 de março de 2024

Crítica: American Fiction (2023)

"Potential is what people see when what's in front of them isn't good enough."
Sintara Golden


*6.5/10*

American Fiction marca a estreia de Cord Jefferson na realização, e adapta o livro Erasure, de Percival Everett, uma sátira à hipocrisia da indústria relativamente à literatura afro-americana. Jefferson usa o humor e o drama familiar para construir a história do seu filme, numa abordagem entusiástica e original.

"Um romancista que está farto do establishment valorizar o entretenimento 'negro', cheio de estereótipos ofensivos, usa um pseudónimo para escrever um livro com essas características, que o eleva a um novo patamar de popularidade e o lança no coração da hipocrisia e da loucura que ele diz desdenhar."


Thelonious 'Monk' Ellison não é um homem fácil. Escritor e professor, é convidado a tirar uns dias de férias com a família que não vê há muito, enquanto participa num festival literário na sua cidade natal. Aí, conhece Sintara Golden (Issa Rae), escritora de sucesso de livros sobre os problemas das comunidades afroamericanas, e a sua frustração eleva-se, ao mesmo tempo que se questiona sobre por que motivo os seus livros, relatos de outro tipo de vidas "negras", não são vendidos da mesma forma, nem têm o mesmo destaque nas prateleiras. 

Inesperados problemas familiares parecem aumentar-lhe a revolta e a criatividade e eis que da sua cabeça surge um romance ao estilo dos que tanto critica e que publica sob pseudónimo, sem grandes expectativas e após grande insistência do seu editor. De repente, está ele mesmo envolvido numa teia de intrigas digna de filme. 


American Fiction é bem humorado e mordaz, com o realizador a usar uma espécie de metacinema para cativar a audiência, enquanto também a desafia. Para além do lado provocador, a longa-metragem consegue ter um lado cru e emotivo, advindo das marcas que o passado e o presente têm deixado nas personagens - em especial no protagonista e no seu irmão Cliff, um cirurgião homossexual, viciado em drogas. Jeffrey Wright Sterling K. Brown interpretam estes dois irmãos com carisma e grande entrega emocional.


Ainda que American Fiction caia, por vezes, em alguns dos clichés que satiriza, Cord Jefferson tem uma estreia auspiciosa jogando e explorando o argumento das formas mais diversas para torná-lo sempre mais desafiante.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Crítica: The Batman (2022)

"From your secret friend / Who? Haven't a clue / Let's play a game / Just me and you."

The Riddler

*6.5/10*

Matt Reeves trouxe um novo Batman aos cinemas, assumindo o risco de reescrever a história de uma personagem já inúmeras vezes retratada nos ecrãs. A surpreendente escolha de Robert Pattinson para o papel principal deu que falar e aumentou a curiosidade em torno de um filme que não era fundamental, mas foi capaz de revelar mais uma faceta do actor e de um realizador ainda com muitas cartas para dar.

"Há dois anos a assombrar as ruas como Batman (Robert Pattinson), incutindo medo no coração dos criminosos, Bruce Wayne foi forçado a mergulhar nas zonas mais sombrias da Cidade de Gotham. Com apenas alguns aliados de confiança - Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e o tenente James Gordon (Jeffrey Wright) – entre a rede corrupta de funcionários e figuras proeminentes da cidade, o vigilante solitário estabeleceu-se como a personificação da vingança entre os seus cidadãos. Quando um assassino ataca a elite de Gotham com uma série de máquinas sádicas, um rasto de pistas misteriosas e obscuras levam o 'Maior Detetive do Mundo' a investigar o submundo, onde encontra personagens como Selina Kyle/Catwoman (Zoë Kravitz), Oswald Cobblepot/The Penguin (Colin Farrell), Carmine Falcone (John Turturro) e Edward Nashton/The Riddler (Paul Dano)".

Se por um lado, The Batman peca pelo excesso de personagens - Carmine Falcone, The PenguinThe Riddler e até um vislumbre de Joker - e enredos, que resultam num filme de quase três horas, por outro, há um grande enfoque no passado do protagonista e de Selina Kyle. A partilha da história familiar de cada um e as descobertas que ambos vão fazendo, tornam-nos mais humanos e próximos da plateia. Contrariamente, os vilões são mal explorados, bem como as suas motivações e passado.


Há bons momentos de acção - como uma perseguição de tirar o fôlego - e alguns planos e sequências impactantes, que sugerem a qualidade de Matt Reeves enquanto realizador - claramente condicionada pelo filme de grande orçamento. A opção da narração na primeira pessoa que é feita ao longo de todo o filme começa por estranhar-se, mas vai-se tornando mais natural com o decorrer da acção - ainda assim, ganharia muito se fosse  menos presente.

Destaque para a interpretação de Paul Dano que com pouco é capaz de tanto na pele do macabro Riddler. Também Robert Pattinson e Zoë Kravitz, que formam um par com muita química no ecrã, fazem uma positiva reconstrução das suas personagens, ambas marcadas pelo desgosto e pelo desejo de justiça.


No ambiente de crime e desconfiança de uma Gotham ainda mais obscura que o habitual, Matt Reeves acompanha The Batman, enquanto persegue criminosos e é ele mesmo perseguido pelo seu passado tormentoso. Eis mais uma investida cinematográfica no mundo do Cavaleiro das Trevas para experienciar.