quarta-feira, 8 de maio de 2019

Hotel Império: Realizador e actores falaram com o Hoje Vi(vi) um Filme

Hotel Império, o novo filme de Ivo M. Ferreira, estreia esta Quinta-feira, dia 9 de Maio, nas salas de cinema nacionais. O Hoje Vi(vi) um Filme esteve no visionamento privado da longa-metragem e conversou um pouco com actores e realizador acerca deste trabalho, filmado integralmente em Macau. A longa-metragem é protagonizada por Margarida Vila-Nova, e conta com Rhydian Vaughan, Tiago Aldeia e Cândido Ferreira no elenco.


Margarida Vila-Nova fala quatro línguas diferentes no filme (cantonês, português, inglês e mandarim) e assume que a sua personagem, Maria, "é uma guerreira, uma lutadora, uma sobrevivente, uma mulher que vemos transformar-se ao longo do filme". A actriz explica que a sua personagem "começa por se anular e por ter como prioridade salvar este Hotel Império, este hotel em ruínas que é do pai dela, e está penhorado por uma dívida ao jogo". Vamos tentando perceber qual o preço da protagonista. "E entre casinos, prostituição, jogo, até onde é que esta Maria vai para salvar o seu hotel que no fundo são as memórias dela, as referências dela, a sua identidade", continua Margarida.

Margarida Vila-Nova convida a ver Hotel Império

Também os bairros de Macau surgem em Hotel Império como quase mais uma personagem e, a par de Maria, "também a própria cidade onde ela vive se transforma e muda, E há uma certa erosão, há um ruir deste Hotel Império, mas também de uma cidade e destas personagens que habitam este hotel", conclui.

Sobre interpretar Maria, personagem que a fez aprender a falar cantonês - já que é o idioma em que mais fala ao longo do filme -, Margarida Vila-Nova não hesita em dizer que "foi certamente um dos meus maiores desafios". "Tive durante muito tempo aulas de chinês e depois, próximo da rodagem, tinha cerca de duas horas de coaching por dia para ter a certeza de que tudo o que eu estava a dizer estava a dizer com o tom certo, da forma certa...", explica. Dado o português e o cantonês serem tão diferentes, houve necessidade de "esmiuçar cada palavra, perceber o sentido, a emoção, a sensação, a intenção que estava por detrás de cada frase", conta Margarida. "No caso do chinês, se alterarmos um tom à palavra vamos mudar-lhe o sentido. Corremos o risco de dizer... uma coisa muito feia." [risos]

Para além da língua, também fisicamente Margarida se sentiu desafiada ao interpretar Maria. "Eu vivi em Macau durante sete anos, mas não deixei de ser uma estrangeira", diz. "Esta personagem cresceu neste ambiente, então esta identificação ou esta familiaridade com o espaço, com o bairro, com os outros personagens foi um trabalho ainda longo de conquistar ou de construir", conclui.

Tiago Aldeia convida a ver Hotel Império

Para o realizador, Ivo M. Ferreira, que vive em Macau há mais de 20 anos, Hotel Império é, "de alguma forma, um filme síntese sobre as primeiras impressões em Macau e, por outro lado, sobre o que lá passei ao longo destes 20 e tal anos". Assume que "o filme tem um lado muito distópico, mas também um lado muito actual", tanto que poderia passar-se tanto agora, como nas décadas passadas ou até nos próximos anos. Contudo, conclui que "faz muito sentido ser agora, 20 anos depois da transferência de soberania da administração de Portugal para a República Popular da China".

Quanto ao visual dos bairros de Macau, o realizador explica que "a minha ideia era quase uma coisa um bocado absurda, como se a erosão da paisagem urbana pudesse ser também uma aglomeradora de ideias para forjar uma identidade. Há tanta coisa a acontecer de repente - que não é de repente, porque acontece desde os anos 50 -, em relação à destruição do que é património arquitectónico indoeuropeu, que cria um medo nas pessoas".

Ivo convida o público a assistir a Hotel Império: "Acho que é uma viagem interessante a Macau, uma viagem muito condicionada pelo meu olhar, pela minha visão, pela minha imagética".


Rhydian Vaughan e Ivo M. Ferreira convidam a ver Hotel Império (em português e cantonês)

Sinopse:
A casa de Maria sempre foi o Hotel Império, nos bairros tradicionais de Macau, onde há roupa pendurada entre os neons, e um emaranhado de fios eléctricos invade ruas cheias de vapores. Com o pai envelhecido, o fardo de manter o decrépito hotel em funcionamento recai-lhe sobre os ombros. Canta Fado num Casino onde o jogo e a prostituição andam de mãos dadas, mas o dinheiro é pouco e os especuladores imobiliários tornam-se insistentes. Surge então Chu, jovem misterioso com um interesse obsessivo por Maria. Sonhos desiludidos, ganância e decadência: crónica de uma Macau de hoje, 20 anos após o regresso à China.

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